O doloroso peso da culpa.

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Em outras ocasiões, o cheiro de churrasco teria dado água na boca de Kalli, mas quanto mais o pôr do sol se aproximava, mais ela ficava enjoada e menos sentia fome – ou talvez sua falta de fome fosse por estar amontoada em um canto junto com seus amigos, como animais em um rodeio, com tornozelos e punhos amarrados e é claro, amordaçada.

— Solte-os! — Percy chegava gritando, certamente sem fôlego por causa da corrida. — Eu limpei os estábulos!

Geríon virou-se. Usava um avental em cada tórax, com uma palavra em cada um deles, de modo que se podia ler nos três juntos: BEIJE O COZINHEIRO.

— Você limpou? Agora? Como conseguiu.

Apesar de bastante impaciente, Percy contou a ele sobre os fósseis de concha que o permitiram trazer a água do mar para limpar os estábulos e sem poluir o rio.

Enquanto Percy falava, Kalli aproveitou para observar o amigo na busca de algum ferimento. Foi só quando não percebeu nada que se permitiu ficar aliviada ao perceber que o amigo não estava sujo de esterco de cavalo carnívoro.

Muito bom.

— Muito engenhoso. Teria sido ainda melhor se você tivesse envenenado aquela náiade irritante, mas não tem importância.

— Solte meus amigos. — Percy voltou a dizer. — Fizemos um acordo.

— Ah, estive pensando no assunto. O problema é que, se eu os libertar, não recebo o dinheiro.

— Você prometeu!

Geríon negou com um tsc-tsc. Kalli realmente queria matá-lo.

— Mas você me fez jurar pelo Rio Estige? Não, não fez. Então não vale. Ao conduzir um negócio, filhinho, deve-se sempre exigir o juramento.

Imprestável.

Percy não demorou para puxar sua espada. Ortro rosnou. Uma cabeça aproximou-se da orelha de Grover e arreganhou os dentes.

— Euritíon, — disse Geríon. — Esse garoto está começando a me aborrecer. Mate-o.

Euritíon olhou para Percy. Kalli ficou tensa e apesar de estar firmemente amarrada, tentou se mexer. Não a agradava de jeito nenhum as chances do amigo contra aquele porrete.

— Mate-o você mesmo. — Replicou Euritíon.

Geríon ergueu as sobrancelhas.

— Como?

— Você me ouviu. — Grunhiu Euritíon. — Você fica me mandando fazer seu trabalho sujo. Provoca brigas sem motivo, e eu estou cansado de morrer por você. Quer lutar contra o garoto? Lute você mesmo.

Kalli piscou, um misto de confusão e surpresa. Aquela era a frase menos típica que já ouvira um filho de Ares dizer... Ou talvez só estivesse convivendo demais para o que se é recomendado com Clarisse.

Geríon largou sua espátula.

— Você ousa me desafiar? Eu devia demiti-lo agora mesmo!

— E quem cuidaria de seu gado? Ortro, junto.

O cão imediatamente parou de rosnar para Grover e foi se sentar junto aos pés do vaqueiro.

— Está bem! — Grunhiu Geríon. — Cuidarei de você depois, quando o garoto estiver morto!

Ele pegou duas facas de trinchar e as atirou em Percy, que desviou uma com sua espada, já a outra fincou-se na mesa, a um centímetro da mão de Euritíon e então partiu para o ataque. Geríon aparou o primeiro golpe de Percy com um pegador de metal incandescente e investiu contra seu rosto com um garfo de churrasco. Percy adiantou-se à sua arremetida seguinte e atravessou seu tórax do meio com a lâmina da espada.

𝐒𝐎𝐁 𝐎 𝐒𝐎𝐋 (𝑭𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒈𝒂𝒓)Onde histórias criam vida. Descubra agora