E então, feitos de prisioneiros

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Provavelmente estava fazendo perto de quarenta graus naquele lugar – o que foi praticamente um choque térmico após o tempo de São Francisco. Todo aquele calor fazia o chão tremeluzir. Insetos zumbiam nas árvores.

Mal tinham começado a andar ali e já estavam suando feito loucos. As moscas apinhavam-se ao redor. Volta e meia viam um cercado cheio de vacas vermelhas ou animais ainda mais estranhos. Passaram por um curral cuja cerca era revestida de amianto. Lá dentro circulava uma manada de cavalos que lançavam fogo pelo nariz. O feno em sua gamela estava pegando fogo. O solo fumegava em torno de suas patas, mas os cavalos pareciam bastante dóceis. Um garanhão grande olhou para Percy e relinchou, suas narinas lançando colunas de chama vermelha para o céu. Percy ponderou se aquilo não lhe causaria dor.

— Para que eles servem? — perguntou.

Euritíon franziu as sobrancelhas.

— Criamos animais para muitos clientes. Apoio, Diomedes e... Outros.

— E esses outros seriam...?

— Sem mais perguntas.

Finalmente deixaram o bosque para trás. Empoleirada em uma colina acima deles, erguia-se uma grande casa de fazenda – toda de pedra branca e madeira, com amplas janelas.

— Parece um projeto de Frank Lloyd Wright! — exclamou Annabeth.

Percy não tinha a mínima ideia de quem esse figurão seria, mas conhecendo Annabeth, sabia que a amiga estava falando de algum arquiteto. Apesar de que, para Percy parecia apenas o tipo de lugar onde alguns semideuses poderiam se meter em encrenca séria.

Eles subiram a colina.

— Não transgridam as regras. — advertiu Euritíon conforme subiam os degraus que levavam à varanda da frente — Nada de brigar. Nada de puxar armas. E não façam nenhum comentário sobre a aparência do patrão.

— Por quê? — Percy perguntou — Como é a aparência dele?

Antes que Euritíon pudesse chegar a responder, uma nova voz anunciou:

— Bem-vindos ao Rancho Triplo G.

O homem na varanda tinha uma cabeça normal, o que era um alívio. Seu rosto exibia as marcas do tempo e um bronzeado de anos no sol. Tinha cabelos pretos lisos e bigode fino, como os dos vilões de filmes antigos. Ele sorrira para os cinco, mas o sorriso não era amistoso; estava mais para o divertido do tipo: Puxa, mais gente para torturar!

Percy achou melhor não pensar nisso por muito tempo, mas não porque estava relaxado e sim porque então notou seu corpo... Ou corpos. Eram três. Bem, se pensaria que, depois de Jano e Briareu, ele já estivesse acostumado a anatomias esquisitas, mas aquele cara era três pessoas em uma só. Seu pescoço era ligado ao tórax central normalmente, mas havia dois outros tórax, um de cada lado, unidos pelos ombros, separados por poucos centímetros. O braço esquerdo saía do tórax da esquerda, o mesmo acontecendo do lado direito, de modo que tinha dois braços e quatro axilas, se isso fazia algum sentido. Os tórax se conectavam, formando um enorme tronco, com duas pernas normais, porém muito robustas. Ele usava a maior calça jeans que já vira. Cada um dos tórax vestia uma camisa de faroeste de cor diferente – verde, amarela, vermelha, como um sinal de trânsito. Percy se perguntou como ele vestia o tórax do meio, já que esse não tinha braços.

Sentiu o vaqueiro Euritíon o cutucando.

— Diga olá para o Sr. Geríon.

— Oi. — Percy disse. — Belo tórax- Rancho! Belo Rancho o senhor tem.

Antes que o homem de três corpos pudesse responder, Kalliope apertou com força o braço de Percy, pois Nico di Angelo passou pelas portas de vidro, saindo na varanda.

𝐒𝐎𝐁 𝐎 𝐒𝐎𝐋 (𝑭𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒈𝒂𝒓)Onde histórias criam vida. Descubra agora