As profundas cicatrizes das batalhas

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Enquanto Kalli observava o mar, silenciosamente, Índigo se senta ao seu lado, também passando a olhar o movimento calmo e pacífico das ondas, se deixando levar pela calma que o mar noturno lhe trazia. Por um tempo, os dois não falam nada.

— Sabe, — Índigo começa. — Eu sei o quanto você sacrificaria pela família, porque você a ama... Também fico feliz em saber que também faço parte da sua família.

Esboçando um sorriso, ainda sem saber exatamente para onde aquela conversa estava indo, Kalli responde:

— É claro que sim, bobo. Tio Vincent e você também são a minha família. Assim como os seus avós.

Imitando o sorriso da amiga, Índigo passa o braço pelo ombro dela, a puxando sem resistência para mais perto. Ele queria mantê-la por perto, dentro de sua linha de visão para que conseguisse ajudá-la, sabia muito bem que não estava nada bem depois da morte de Lee Fletcher e o todo o estresse trazido com o envenenamento da Tia Carmen – preferia não incluir a morte de Bianca Di Angelo nisso.

Ele não mentiria, tinha medo do que sua amiga poderia fazer – especialmente consigo mesma.

— Mas sabe... — Continuou, com cautela. — Nós não somos os adultos, Poppy.

Franzindo a testa, ela observou com atenção seu amigo de infância.

— Como assim, Indie?

Soltando um pesado suspiro, Índigo voltou a olhar para sua melhor amiga.

— O que estou dizendo, Poppy, é que não somos nós que temos que sacrificar tudo pela família.

— Mas eu amo minha família.

— Não estou dizendo que não ama. Estou dizendo que não deveria ser sua preocupação pensar e calcular cada coisinha. — Índigo conseguia sentir a frustração acumulada dos últimos anos subindo, esquentando seu plexo solar. — Pelos deuses! Nós somos jovens, nós temos carta branca para fazer merda!

— Não é assim que funciona-

— É exatamente assim que funciona. Poppy, como não só na posição de membro da sua família, mas também na posição de seu melhor amigo, vim te falar que não acho justo o que você está fazendo. — Ele conseguia sentir a tensão surgindo na postura da amiga, mas não significava que iria parar. — Annabeth e Percy querem te ajudar, realmente querem, e mesmo dizendo que tentaria se abrir, insiste em afastá-los mesmo que não o faça conscientemente... Poppy, todos precisam de ajuda e por mais incrível e competente que seja, você não é uma exceção.

— Você não sabe o porquê eu fiz isso. — Ela disse defensiva. Porque sempre estava na defensiva. Tinha que estar.

— Eu sei. É claro que eu sei. E você sabe muito bem que eu sei.

Índigo viu Poppy se encolhendo levemente. Ele sabia que ela gostava de Percy, francamente, era um pouco óbvio, não ficou surpreso por isso e sim pelo fato de que sua amiga, que sempre foi tão observadora havia demorado tanto para se dar conta, mas era assim que ela era. Poppy nunca achou que merecia verdadeiramente algo, sempre se vendo na posição de cuidar. Sua amiga, cabeça dura que era, dificilmente se permitiria ser vulnerável para alguém, já havia sido uma luta para que ela se abrisse com ele – mesmo que tivessem crescido juntos.

Bem, Índigo achava que estava na hora de mudar isso.

— Isso é...

— Você sabe que merece tranquilidade e felicidade tanto quanto eu, Lou, Annabeth, Tia Carmen, Percy, Nico e o nosso Leo, não sabe? — Pegando a amiga pelos ombros, a fez olhar bem nos seus olhos. — Poppy, não estou dizendo que precisa fazer agora, é como você mesmo diz: "tudo no seu próprio tempo", mas o que eu queria que fizesse é que parasse de tentar carregar tudo sozinha.

𝐒𝐎𝐁 𝐎 𝐒𝐎𝐋 (𝑭𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒈𝒂𝒓)Onde histórias criam vida. Descubra agora