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Letícia

Letícia: Fala Bruno, tô te escutando! — falei sentada na areia junto dele, esperando mais de 5 minutos ele falar alguma coisa.

Só se escutava o barulho das ondas e aquela brisa bater sobre os nossos rostos, deixando um climão entre a gente.

Bruno: É difícil pra mim falar isso, achando mais vergonhoso ainda ter que te contar essas paradas. — falou sem me olhar, onde os mesmos estavam fixos em direção do mar.

Letícia: Você sabe que comigo você pode falar qualquer coisa, eu vou te entender. Cê não quer me apresentar pra sua família por que eu sou da favela? — soltei de uma vez o que estava me agoniando. De imediato ele me olhou negando, como se eu tivesse falando um absurdo.

Bruno: Claro que não Letícia tá chapando? A questão é que... — parou pra pensar no que falar. — Minha mãe é uma mulher complicada, uma pessoa bem difícil de se lidar. — falou olhando pro mar novamente, suspirando pesado. — Eu não sei como ela pode te tratar e eu não quero que ninguém te magoe entende? Não gosto de pensar que ela possa te tratar mal. — falou me olhando nos olhos, sabendo que aquilo incomodava ele de uma certa forma.

Aquele olhar que me protege de tudo, que eu me apaixonei desde a primeira vez que eu vi ele andando de skate na pista. Foi naquele dia que meu coração acelerou pra um garoto que eu nem fazia questão nenhuma, por saber que pegava geral.

Letícia: Sabe Bruno, ninguém me rebaixa me chamando de favelada ou de dizer que eu vim de um lugar "sujo". — fiz aspas com os dedos e olhei pro mar procurando as palavras certas. — Só a gente sabe da origem que a gente vem, da educação que a gente adquiri e quem eu me torno ser. Quem olha pra mim muitas vezes não sabe da metade das coisas que eu já passei, e mesmo assim eu agradeço a família que eu tenho. Muitos julgam, difamam, rebaixam, mas não sabe o que é descer pra pista as 05:00 da manhã e voltar às sete da noite com uma merreca de dinheiro, pra comprar comida pra três filhos, onde o pai meteu o pé e não quis saber de nada. — ele me olhava curioso, mesmo sabendo de tudo da minha vida. Eu era um livro aberto com ele, gostava quando o mesmo ficava me escutando e conversando comigo sobre nossos sentimentos.

Bruno: Eu sei de tudo de bom que você e sua família são Letícia. Sei o quanto vocês são pessoas que batalham dia a dia pra ter o seu, mas minha mãe só enxerga a sociedade em que ela vive. — falou sem maldade e eu sei que ele falou sincero. — Eu só te peço mais um tempo pra mim raciocinar em como eu vou contar pra eles, como eu vou levar você lá sem magoar ninguém. Pode ser? — perguntou com medo no olhar fazendo eu concordar com a cabeça, mesmo querendo outra coisa.

Letícia: Não é que eu cobre isso pra poder saber que você tá comigo. — mexi no zíper da minha mochila. — Eu sei que tá, mais sei lá Bruno. — olhei pra ele que me encarava atento. — Eu quero viver igual os outros casais que um frequentam a casa um do outro, que passam natais em família, sei lá pode ser meio bobo isso, mas as vezes eu me sinto só mais uma ficante sua. — falei super sincera expondo um pouco do que eu sentia.

Era o que eu sentia sabe? Por mais que ele demonstrava gostar muito de mim e dizer que me amava o tempo inteiro, eu sentia que ele tinha vergonha de mim lá no fundo. As vezes pode ser paranóia da minha cabeça por ser tão insegura, mas era o que mais martelava na minha mente.

Bruno: Tá maluca né? Vergonha de você? Só pode tá pirando! — negou desacreditado. — Eu tenho maior orgulho de você morena. Eu te amo pra caralho como eu nunca amei ninguém! — falou passando o polegar no canto dos meus olhos, pra secar uma lágrima que insistiu em cair.

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