Arranhões

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Pov
Mariana

Entrei possessa de raiva. Odiava quando Ana me tratava dessa forma! Fui toda carinhosa conversar com ela... Sabia que havia algo de errado, mas não adianta, tudo que eu fizesse ou falasse não iria adiantar, ela não estava em um bom dia. Eu a conhecia e quando ela estava assim, era melhor dar o tempo dela.

O pior era que eu queria poder acalenta-la, dar meu amor a ela, enche-la de beijos e dizer que tudo ficaria bem, os beijos da Ana me faziam ir ao céu, eram tão carinhosos, experientes... Entretanto estava convicta de que não ficaria com ela de novo, precisava me respeitar.

Ana andava tão confusa que nunca sabia quando eu deveria estar "preparada" para ela e isso vinha me consumindo emocionalmente. Parecia que uma hora ela me queria e outra me odiava, queria distância, era confuso demais, me sentia usada...Sei que prometi espera-la, mas não suportaria nem mais um dia dessa maneira.

Terminei de arrumar as meninas e as levei para a escola. Em seguida fui para a faculdade, eu precisava acertar alguns detalhes da matrícula, hoje mesmo teria apresentação e uma aula experimental. Essa turma começava agora, fariam em breve recesso para o natal, ano novo e logo em seguida recomeçava. Estava muito ansiosa, acho que me daria bem.

Cheguei na faculdade e logo depois de cumprir com a parte burocrática, fui até o pátio, era um espaço bonito, arborizado, as pessoas estudavam em mesas de alvenaria que ficavam espalhadas pelo espaço, elas debatiam, dividiam opiniões... Esse ambiente acadêmico, democrático, me agradava muito, me sentia em casa e também desafiada.

Peguei algumas apostilas que me deram no ato da inscrição, fiquei sentada em uma das mesas lendo o cronograma do curso e aproveitando o ambiente.

Estava completamente distraída, quando um rapaz alto, bonito, moreno de cabelos cacheados me abordou:

- Está na turma de Pedagogia?

- Oi, si-sim. - gaguejei para responder.

- Meu nome é Ivan, tudo bem? - ele estendeu a mão para me cumprimentar.

- Oi, me chamo Mariana. - o cumprimentei.

- Posso sentar? - ele pediu.

- Claro, fique a vontade... - apontei o banco para ele sentar.

- Vamos ser colegas de classe. - ele comentou sorrindo, tinha um sorriso e olhar muito envolventes, daqueles que deixavam a pessoa tímida.

- Que legal! Você então é a primeira pessoa que conheço...

- O que te fez escolher pedagogia? - Ivan indagou curioso.

- Você é direto, heim?! - sorri franzindo a testa.

- Se você quer dizer que não perco tempo dando voltas... Sim, eu sou direto. - ele respondeu com o olhar intimidador.

- Dessa forma, vou tentar responder sem dar "voltas"... Eu escolhi porque amo educar e tenho diversos projetos pessoais, inclusive academicos que envolvem isso.

- Projetos?!

- Como falei, são pessoais, além do mais acabamos de nos conhecer.... - sorri e continuei: - Mas e você?

- Porque escolhi o curso?

- Sim.

- Venho de uma linhagem de pedagogos natos, mãe, pai, irmã, avó, tias a até duas primas... Confesso que relutei contra isso, mas cheguei a conclusão que estava nadando contra a maré.

- Quer dizer que todos na sua família são de fato pedagogos? - indaguei surpresa.

- Todos, sem excessão. - Ivan respondeu.

- Isso é um pouco bizarro...

- Bizarro?! Fala isso porque não conheceu meus pais.

- Ok, e você está tentando me assustar? - indaguei na brincadeira.

- Não! Imagina... Só queria conhecer sua motivação ou sua história.

- Não deve ser tão interessante quanto a sua... Mas vamos fazer o seguinte. - dei uma pausa e continuei: - Quando nos conhecermos melhor, você vai me contar sobre essa trajetória que percorreu para chegar na pedagogia.

- E você vai me contar sua história, aue segundo você, é menos interessante que a minha. - Ivan lançou aquele olhar sedutor.

- Combinado. - apertamos a mão com sorrisos no rosto. O sinal escolar tocou, olhei a hora e eu precisava ir buscar as meninas na creche. Comecei a recolher meu material.

- Vai embora? - Ivan indagou.

- Volto mais tarde para a aula experimental...

- Podemos trocar os números? Caso precisemos de ajuda com as matérias.

- Tudo bem. - Anotei o número do Ivan e mandei mensagem para que ele salvasse o meu. Logo seguido a isso fui embora apressada para buscar as crianças na creche.

No caminho para a creche, pensava em todas as possibilidades que a universidade iria me oferecer, portas iriam se abrir e eu de fato tinha muitas idéias que gostaria de colocar em prática.

Cheguei na escola e a professora me esperava com as meninas na porta, franzi a testa confusa, pois a Valentina estava com o rosto vermelho e um arranhão do lado do rosto. Regina estava tranquila no carrinho. Peguei Valentina no colo da professora e indaguei assustada:

- O que houve??? - Valentina se aconchegou no meu colo não querendo mais sair.

- Valentina tem tido um comportamento agressivo na escola.... Até então vinhamos contornando, mas hoje ela brigou com um coleguinha e ainda tomou a pior.

- Minha nossa, meu amorzinho... - abracei Valentina com carinho.

- Ela está bem agora, limpamos e passamos remédio no arranhão, mas queria conversar com você e a Ana juntas.

- Tudo bem, quando?

- O mais rápido possível? Poderia ser amanhã inclusive.... Sabe que vamos entrar em recesso de festas e isso precisa ser alinhado com as mães e familiares.

- Ok, amanhã vamos vir juntas trazer as meninas... O pai dela também precisa vir?

- Pode ser, mas não vejo necessidade caso no mínimo às duas mães dela estejam presentes. Através de vocês já posso puxar qualquer questão sobre a conformação familiar dela.

- Estaremos aqui então. - confirmei e terminei de conversar com a professora e fui para casa com as meninas.

Fiquei triste e pensativa no que pode ter acontecido para Valentina agir assim, logo ela que sempre foi um bebê doce e calmo... Mesmo que eu e Ana não estivessemos nos dando bem, precisaríamos sentar com a professora e conversar sobre o assunto.

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