Lembrancinhas

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Pov
Mariana

Acordei bem cedinho, peguei Regina, a semana estava começando e eu precisava chegar na casa da Ana para cuidar da Valentina também, prepara-las para a escola. Por serem duas, essa parte era um pouco cansativa, não tinha muita ajuda.

Cheguei e a casa estava um silêncio, fui até o quarto das meninas e Valentina ja estava lá. Provavelmente Juan Carlos trouxe ela e o Rô ontem a noite ainda, pensei.

Arrumei as bebês bem bonitas e também tratei de me ajeitar, provavelmente iria esbarrar com a Ana na cozinha e queria estar bonita para ela.

Peguei às meninas no colo e fui até a cozinha, às coloquei nos cadeirões e não vi nem o Rodrigo e nem a Ana. Alta já estava servindo o café e pedi que ela olhasse pelas crianças.

- Alta, pode olhar as meninas, vou lá em cima chamar a Ana, provavelmente ela perdeu a hora. - comentei preocupada.

- Não perdeu não, ela está la no quintal com a tal "Tamara". - Rodrigo chegou de fora. Senti  desânimo misturado com frustração invadirem minha alma, imediatamente toda minha auto confiança que havia ganho depois da noite do filme, caiu por terra.

- O que elas estão fazendo lá fora? - indaguei confusa.

- Não sei... Fui lá pedir a mamãe para assinar uma autorização de um passeio para escola e encontrei ela lá dormindo toda enroscada com a tal. - Rodrigo definitivamente não gostava da Tamara.

- Ela não acordou para assinar? - indaguei angustiada.

- Não e também nem quis atrapalhar. - Rô comentou cabisbaixo.

- Deixa eu ver essa autorização? - pedi que ele me passasse o papel. Eu li e vi que poderia ser assinada por qualquer responsável. Peguei uma caneta, assinei e falei: - Pronto! - olhei para ele sorrindo.

Nesse momento Ana e Tamara entraram juntas na cozinha e confesso que meu coração disparou e se encheu de ciúmes. Provavelmente meu rosto corou e encolhi meu corpo.

- O que está fazendo Mariana? - Ana indagou irritada. Tamara me encarava o tempo inteiro, acho que ela tentava me intimidar.

- Assinando uma autorização para o Rodrigo fazer um passeio pela escola. - respondi confiante.

- Por que não me pediu filho? - Ana indagou diretamente ao Rodrigo.

- Eu tentei, mas vocês duas estavam dormindo.

- Sua mãe sou eu... Quando for assim, você deve me acordar e não correr para a Mariana. - Ana cruzou os braços comentou irritada me olhando pelo canto dos olhos.

- Mas eu não corri...

- Ana, você me desculpa, mas fiz no intuito de ajudar. - levantei da mesa irritada, meus olhos marejaram, me senti mais uma vez humilhada, tirei as meninas do cadeirão e encarei Tamara, também tentei intimida-la.

- Vai levar elas para a escola? - Ana indagou ainda com os braços cruzados.

- Vou, ou vai me dizer que até isso precisa da sua autorização??? - respondi em desaforo, ela revirou os olhos. Não sei o motivo, mas pelo visto estavamos em pé de guerra hoje.

Peguei às meninas e fui embora o mais rápido possível dali, não gostava de ficar no mesmo espaço que a Tamara nem por um minuto eu a achava prepotente.

No caminho para a escola, já com as crianças no carro, fiquei pensando, Ana estava dormindo junto com a Tamara, estavam juntas pela manhã na cozinha,  estou perdendo território...

Além do mais, ela mal consegue me encarar.... Era doloroso encarar o grande amor da sua vida nos braços de outra mulher. Às vezes eu só gostaria de poder não esbarrar mais com a Ana. Esquecer seu rosto... Mas daí olho para Valentina e vejo a Ana todinha nela, os mesmos olhos, o mesmo sorriso... Isso nunca iria passar. É um vínculo eterno. Regina e Valentina são para sempre.

Sai da escola e não estava afim de retornar para a casa da Ana, mas eu prometi para minha mãe que faria as lembrancinhas do batizado e acabei esquecendo o material lá na casa.

Por sorte ao chegar, todos já haviam ido embora. Então peguei o saco com todas as lembranças e sentei a mesa na cozinha para começar a fechar laços e fazer dobraduras. Liguei uma música bem animada e super alta. Como estava sozinha, achei que não fosse ter problema.

Comecei a cantar animada, estava tocando "Lowkey"*, adorava essa música. Comecei a confeccionar as caixinhas de papel quando Ana apareceu irritada e gritando:

- Mariana! Precisa colocar música tão alta!!! - ela tampava o ouvido. Eu baixei o som nervosa e falei:

- Desculpa! Achei que tivesse todos saído...

- Como pode ver eu não saí. - ela sentou ao meu lado a mesa e indagou: - O que está fazendo?

- Lembrancinhas para o batizado do Dieguinho.

- Já?! Quando vai ser? - ela indagou curiosa, já não estava mais tão irritada como mais cedo.

- Domingo que vem, mamãe não te convidou?

- Não tenho certeza, mas acho que o Victor me mandou sim uma mensagem... Deixa eu ver... - Ana fuçou o celular e encontrou: - Minha nossa, ele mandou tem duas semanas! Ando tão focada no trabalho que acabei não marcando o batizado na agenda. - Ana balançou a cabeça desanimada.

- Ainda bem que viu as lembrancinhas, senão era capaz de faltar ao batizado do seu sobrinho. - comentei brincando. Ela balançou a cabeça.

- Posso te ajudar com isso? - ela pediu até que com muita simpatia.

- Não tem um compromisso ou uma reunião importante? - comentei com um pouco de deboche.

- Queria entender porque nunca respondem minhas perguntas... - Ana balançou a cabeça irritada.

- Toma, pode dar um laço nessas. - entreguei algumas lembranças na mão da Ana, óbvio que nossas mãos se encostaram e nos olhamos nos olhos com intensidade.

NOTA AUTORA:

* A música "Lowkey" foi uma das sugestões feitas por uma leitora. Achei que combinava muito com a Mariana. ;-)

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