O Bilhete

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Pov
Mariana

Amanheceu e eu ainda estava ali, abri os olhos e os braços da Ana me envolviam a cintura. Era bom acordar do lado dela, isso me fazia sentir em casa, segura e até mesmo protegida.

Olhei para ela dormindo tão serena, feliz que até parecia sorrir. Passei a mão deslizando suavemente por seus fios loiros que insistiam cair sob seu rosto, os joguei para trás tentando alinha-los atrás da orelha. Ela estava com o sono tão profundo que não acordou, suspirei apaixonada.

A amava tanto, às vezes acho que desde o dia em que que a "encontrei" pela primeira vez... Digo encontrar porque quando duas pessoas se conectam, elas precisam se encontrar antes. Honestamente não sei porquê tivemos tantas desavenças, desencontros, mas sei que iria provar para ela com singelas atitudes o quanto eu a queria.

Consegui me desvencilhar do seu abraço sem que ela acordasse. Vesti o pijama que ela sempre me emprestava e desci até a cozinha. Queria fazer algo especial para ela.

Ainda era cedo e como todos haviam dormido tarde, ainda não havia ninguém acordado. Cheguei na cozinha e comecei a buscar coisas que eu sabia que Ana gostava. Primeira coisa que fiz foi espremer laranjas e fiz um suco natural, logo em seguida separei algumas torradas, cortei algumas frutas, preparei café é fiz um creme doce para ela misturar nas frutas. Achei também geleias uma de morango e outra de damasco e coloquei uma porção de cada num potinho. Peguei leite, manteiga e outras coisas para completar o café da manhã do meu amor. Coloquei tudo sob uma bandeja improvisada e fui no quintal buscar por alguma flor, sabia que o jardineiro cultivava rosas, lírios e orquídeas na parte da frente da casa. Corri lá, pois estava só com a camisa do pijama, não queria ser vista, roubei uma linda e perfumada rosa branca. Voltei rapidamente para a cozinha e terminei de  ornamentar minha bandeja. Procurei por um papel, escrevi uma mensagem para Ana e a coloquei ao lado da rosa. Não estava tudo perfeito, mas o imperfeito era o perfeito, pois era feito com amor.

Equilibrei aquela bandeja lotada de coisas e subi em silêncio, não queria acordar ninguém. Quando eu estava prestes a entrar no quarto, escutei o chorinho da Valentina. Ah não! Pensei batendo com a mão livre na testa. Mudei a rota e fui até o quarto das meninas. Repousei a bandeja na cômoda e acudi a Valentina.

- O que foi meu amor... Acordou assustada? Mamãe está aqui... Shiii shiiii... - balancei a bebê suavemente. Para meu alívio, Regina não acordou.

Estava tão distraída com Valentina no chão do quarto, que acabei esquecendo da bandeja do café. Até que escutei um som vindo da porta, meu corpo inteiro gelou, era a Ana, ela estava recostada no batente, de braços cruzados com aquele sorriso apaixonado da noite de ontem. Eu sorri tímida e então ela entrou encarando a bandeja, franziu a testa e me olhou surpresa...

- Suponho que essa bandeja seja um belo café da manhã para nossas filhas... - ela sussurrou para não acordar Regina.

- É-é.... - levantei do chão, deixando Valentina por lá brincando, me aproximei da Ana e falei: - Eis como tudo aconteceu: Acordei cedo, te vi embarcada num sono profundo e sereno ao mesmo tempo. Saí da cama com um plano imbatível, então coloquei esse pijama.

- Que era do Juan Carlos. - Ana me cortou brincando.

- Talvez eu precise deixar um meu aqui... - comentei brincando e continuei: - O que importa era que todos nessa casa dormiam. Cheguei na cozinha e nem mesmo a Alta estava lá.

- Ela tomou uns drinks junto com minha mãe ontem, acho que vai dormir bastante... - Ana comentou achando graça.

- Pois é, fiquei um pouco perdida, mas achei boas laranjas, torradas, geleias, café... Enfim, tudo isso e depois fui no jardim correndo para roubar essa linda rosa.

- Está tão perfumado.... - Ana se aproximou da bandeja e inspirou próximo a rosa.

- O melhor de tudo é que ninguém me viu. O próximo desafio era buscar um papel e uma caneta, não demorou para achar, pois lembrava de uma "gavetinha" na cozinha que a própria Alta guarda essas coisas para anotar as compras do mercado. Depois disso escrevi um bilhete e me equilibrei toda para chegar aqui em cima sem derrubar nada.

- Que aventura. - ela comentou sorrindo.

- Quando estava finalmente chegando ao seu quarto...

- Nosso quarto... - Ana me cortou e sorri timida.

- Bom, escutei o choro da Valentina e corri para acudi-la... - dei uma pausa e continuei: - O objetivo era acalmar ela e retornar ao quarto com essa surpresa antes que você acordasse...

- Mas agora é tarde demais para isso....

- Sim... - comentei desanimada.

- E o que você acha de pergarmos a Valentina que madrugou, a bandeja, voltarmos para o quarto e fingirmos que eu não acordei antes? Se quiser pode me contar tudo de novo... - Ana sugeriu.

- Acho ótimo!

- Aproveito e leio o que você escreveu nessae bilhete, confesso que estou um pouco. Não. Muito curiosa... - Ana comentou.

- Espero te surpreender.

- Espera?! Se trata das tais três atitudes??? - ela indagou curiosa.

- Você vai saber... Vamos?! - peguei a bandeja e Ana a Valentina. Regina como dormia, iríamos deixa-la no quarto.

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