Batendo Portas

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Pov
Ana

Cheguei em casa e me deparei com a Tamara escorada numa das pilastras da frente.

- Que bom que você veio... Porquê não entrou? - vasculhei minha bolsa a procura da chave e assim que a encontrei engatei para abrir a porta.

- Não sei se tem alguém na casa... Enfim, achei melhor esperar por aqui. - Tamara respondeu consternada.

- Vamos entrar... - abri a porta e Tamara me acompanhou. Fomos até a sala. - Sente, por favor, fique a vontade... - pedi apontando para o sofá.

- Não vou demorar... - Tamara respondeu inquieta.

- Tamara eu... - coçei a testa perdida no rumo que a conversa teria.

- Antes que comece a falar qualquer coisa, preciso te pedir uma única coisa. - Tamara pediu.

- Sim, claro o que desejar.

- Que da sua boca, só vai sair a verdade. Nada de mentiras ou desculpas.... - ela deu uma pausa para ganhar fôlego e continuou: - Você acha que pode prometer isso??? - Tamara pediu franzindo a testa e me olhando firme nos olhos.

- Sim... - respirei fundo, agora sim sabia que não seria uma conversa fácil.

- Você e a Mariana estavam "ficando" no batizado???

- Não! Ela só ajeitava um fecho que estava me machucando no meu vestido. - apontei para o fecho nas minhas costas.

- E porquê não me chamou? Afinal até onde eu sei, sou sua namorada. - Tamara indagou ainda franzindo a testa e com as mãos na cintura.

- Não achei que fosse necessário, aliás, ela ja estava lá, era algo simples e... - ia continuar a falar, mas Tamara me interrompeu:

- Você e Mariana têm ficado juntas? - essa era pergunta que eu temia e que sabia não poderia mentir, fiz silêncio. Tamara entendeu e sentou-se no sofá fechando o rosto com as duas mãos. Eu sentei do lado dela e toquei em seu ombro... Ela desviou o corpo e olhou para mim com lágrimas nos olhos indagando:  - Quantas vezes??? Quanto tempo???

- Duas vezes... - respondi lamentando. Mas havia prometido a verdade.

- Não posso acreditar que logo você que é cheia de "moral", preceitos, tenha sido capaz de fazer isso comigo!!! - Tamara levantou do sofá e começou a andar de um lado a outro, ela estava inconsolável.

- Eu não sei onde estou com a cabeça... Nem ao menos sei como te pedir desculpas por ter feito isso com você.

- Você se arrependeu Ana? - Tamara se agarrou a um fio de esperança de que poderia talvez mudar o rumo da conversa.

- Não... - admiti e olhei para baixo sem conseguir encara-la.

- Eu vou sair por aquela porta e vou te pedir mais uma última coisa... - Tamara deu um tempo enquanto se recumpunha e continuou: - Nunca mais em sua vida você vai voltar a me procurar.

- Justo... - respondi triste, mas convencida de que era o certo a se fazer.

- Ana, eu realmente me apaixonei por você e pensei que um dia você também pudesse...  - Tamara não podia conter as lágrimas insistentes, mal conseguiu terminar de falar.

- Sinto muito por tudo isso. Cometi um grande erro com você e nunca vou me perdoar por isso. - levantei do sofá e me aproximei dela na tentativa de tentar consolar.

- EU nunca vou te perdoar por isso. Na verdade Ana, não querendo comparar, mas você agiu pior do que a própria Mariana com você. Mariana cometeu um deslize, já você me enganou, alimentou esperanças falsas e ainda por cima não foi capaz de terminar comigo, simplesmente me traiu!

- Por favor Tamara... - meus olhos se encheram de lágrimas e tentei tocar em sua mão, ela recolheu com raiva e falou:

- O que? Vai dizer que estou errada???

- Não, você não está. Mas é que eu não costumava ser assim. Não sei se você quer ouvir meu lado, mas quando terminei com a Mariana, era para sempre, eu não a perdoei pelo  que ela fez comigo e achei que justo por isso, não teriam chances de retomar qualquer tipo de relacionamento com ela...

- Ana, ficando ou não com a Mariana, você precisa se resolver.  - Tamara respondeu tentando enxugar suas lágrimas com a própria mão.

- Já é a segunda vez que escuto isso hoje... - sussurrei baixo.

- Não tenho mais o que fazer aqui e não vou te desejar sorte, pois no momento o que sinto é raiva, muita raiva do que você fez... - Tamara foi embora sem olhar para trás, ainda por fim bateu a porta com força.

Assim que ela saiu subi para meu quarto, me tranquei e comecei a chorar.  Estava me sentindo mal pelo sofrimento que causei a Tamara e também pela confusão que minha vida tinha se tornado. Não sabia mais o que fazer...

Depois de tantos devaneios e pensamentos, fui vencida pelo cansaço extremo e acabei pegando no sono profundo.

Acordei cedo, me olhei no espelho e estava acabada, meus olhos estavam fundos. Fui tomar banho e peguei a agenda para revisar meus compromissos. Tinha apenas uma reunião na parte da tarde. 

Resolvi que iria tomar café da manhã sem fazer retoques como de costume, desci vestida com um robe simples e arrastando o chinelo pela cozinha. Estava emocionalmente devastada.

Chegando à mesa encontrei Rodrigo, Valentina, a babá da noite e Alta Gracia. Todos me encaravam estranho.

- Que foi? Perderam alguma coisa aqui???

- Você está bem mamãe? - Rodrigo indagou preocupado.

- Estou ótima! Incrivelmente bem... - respondi em tom de deboche.

- Ontem saiu do batizado mais cedo. - Rodrigo continuou.

- Eu precisava resolver algumas pendências de trabalho filho.

- Olá pessoal! - Mariana adentrou animada na cozinha com a Regina no colo. Ela colocou a bebê no cadeirão do lado da Valentina e fez graça com as bebês, até então não havia notado a mim ou a minha aparência. Quando ela se virou, arregalou os olhos e deu um pulo para trás: - Cruzes Ana! O que houve? Está doente???

- Eu estou ótima! Porque todos me perguntam isso? Não posso simplesmente descer de pijama??? - levantei com minha xícara de café e fui terminar na mesa que ficava na varanda que dava para o quintal.

Enquanto tomava café, sozinha e em paz, Mariana se aproximou de mim  desconfiada e sentou na cadeira ao meu lado. Eu não esbocei nenhuma reação, continuei meu café, sentada relaxada na cadeira e pensativa. Tinha o olhar fixo para a frente.

- Ana, você quer conversar? Ontem não vi quando saiu do batizado ... - ela perguntou, eu permaneci em silêncio. Ela insistiu: - Ana?! O que está acontecendo???

- Achei que tivesse o que fazer... Não deveria levar as meninas para a escola? - respondi curta e grossa, mas sem desviar meu olhar, ele permanecia fixo.

Mariana, não insistiu. Se irritou e saiu da varanda entrando para dentro da casa novamente e o que é mais grosseiro, outra que bateu a porta com força.

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