Paqueras

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Pov
Ana

Acordei bem cedo, tomei um banho, fiz uma maquiagem suave, mas com minha identidade, vesti um conjunto de terno bem elegante, pois da escola das crianças, iria direto ao centro de convenções onde aconteceria a premiação, ficaria por lá até a hora do evento.

Ja havia dado ordens para Ramón levar Rodrigo e Alta Gracia. Juan Carlos buscaria Ceci no aeroporto e a levaria direto para lá. Tudo sob controle até agora. Só não combinei nada com a Mariana, mas enfim, eu a convidei, não sei se ela poderia ir, ela mencionou sobre o tal "amigo"... Me impressiona a capacidade da Mariana fazer amigos da noite para o dia. "Bufei" e continuei meus afazeres.

Desci até a mesa do café, Mariana já me aguardava, as meninas estavam arrumadas e prontas para a escola. Rodrigo havia saído para a aula, ele estava nas provas finais.

- Bom dia! Achei que não fosse mais descer... - Mariana comentou nervosa, ela me secou de baixo para cima. De fato estava muito mais elegante do que o "normal", afinal não eram todos os dias que eu recebia uma premiação assim.

- Me atrasei um pouco me arrumando. - comentei acelerada.

- Você vai assim na reunião?! - Mariana franziu a testa.

- Algum problema?! - indaguei também franzindo a testa.

- Não é que... - Mariana disfarçou o olhar.

- O que? - insisti tentando encara-la, achei graça a forma como ela se desconcertou.

- Nada. Vamos, pega a Valentina, precisamos correr. - Mariana me entregou Valentina e foi com Regina no colo.

Mariana não conseguia tirar os olhos de mim. Talvez eu tenha "exagerado" na produção, pensei. De toda forma, era bom sentir que Mariana me desejava, sempre foi bom, no fundo gostava de provoca-la.

Pegamos meu carro, eu dirigi e Mariana foi atrás com as meninas, Ramon estava ocupado.

Chegamos na sala de reunião e a professora nos aguardava. Soltamos às meninas no chão e elas se "soltaram" para brincar. Eu, Mariana e a professora sentamos em cadeiras organizadas para a gente.

- Que bom puderam vir... - A professora nos encarou aliviada.

- Ficamos preocupadas com o comportamento da Valentina. - Me pronunciei.

- Valentina sempre foi uma criança doce, calma, mas de uns dias para cá, tem demonstrado essa agressividade que é pontual, mas que têm nos preocupado.

- Não entendo... Ela não costuma ser assim. - comentei franzindo a testa confusa.

- Algo mudou na casa de vocês? - a professora perguntou.

- Pequenas coisas, mas nada que altere a rotina que ela ja vinha tendo. - respondi.

- Brigas? Intrigas? - a professora foi um pouco audaciosa e até tendenciosa, não gostei do tom.

- Não! Não brigamos, zero brigas... - respondi incomodada.

- Bom, às vezes acontece de discordarmos em uma coisa ou outra, mas não brigamos. - ao notar meu desconforto, Mariana se manisfestou.

- Desculpa perguntar, mas as crianças nessa idade ja sentem... Como funciona o relacionamento de vocês? - a professora terminou de me deixar desconfortável.

- Isso é realmente necessário?! - perguntei inquieta.

- Não, claro que não. Digo, isso é particular, mas me ajudaria a entender melhor.

- É ótimo. - repondi sem dar espaço para maiores intromissões. Mariana me olhou confusa pela minja grosseria.

- Bom, vou observar então, fico feliz que estejam aqui juntas para tentarmos solucionar isso. Quando temos parentes unidos, fazem toda diferença nos resultados. Por hora é tudo que preciso de vocês....

- Ok. Obrigada, vamos Mariana??? - Eu fiquei irritada com o fato de praticamente ir atoa para a escola, achei o posicionamento da professora desnecessário.

Deixamos às meninas na sala de aula e voltamos juntas para o carro. Eu tinha os passos apressados, iria tentar alcançar a Ceci no aeroporto, talvez o vôo dela ainda não tivesse pousado. Mariana me acompanhava sem entender.

- Ana! - ela se irritou o que me fez parar de andar.

- O que?! - respondi irritada.

- Eu que pergunto... O que foi aquilo lá dentro? - ela indagou de braços cruzados.

- Nada, a professora só queria fazer "fofocas", me irritei. - respondi indignada.

- É importante para ela entender como funciona a dinâmica e conformação famíliar da Valentina! - Mariana se irritou comigo.

- Ela tanto sabe que nos convocou para reunião, não a mim e o Juan Carlos que é o pai, por exemplo. Convidou eu e você, as duas mães! Mariana me poupe com seu moralismo. - respondi com raiva.

- Te poupar do que Ana??? De falar a "verdade" para a professora das meninas???

- Verdade?! Essa professora quer fazer fofocas... Afinal o que mais pode se querer saber sobre isso? - estava impaciente.

- Ela quer saber se as mães estão juntas, brigam, se o ambiente que a criança vive é tranquilo. - Mariana respondeu.

- Só faltou perguntar se a gente transa, quem é a dominante ou quem é a passiva...Melhor, se ambas somos relativas!!!-  estava falando tão alto que algumas pessoas ao redor escutaram, Mariana por sua vez só faltou se esconder em um buraco no chão. Recuperei o eixo, respirei fundo, dei uma pausa antes de entrar no carro e continuei a falar com calma agora: - Vou tentar encontrar a Cecília no aeroporto, quer vir comigo???

- Claro que sim. - Mariana entrou no carro um tanto indignada. Assumi o volante, Mariana sentou no banco do carona, ela olhava pensativa através da janela. Ficou chateada com meu posicionamento.

De certa forma, acho que acabei misturando às coisas, exagerei no comportamento, eu andava assim há algum tempo. Respirei fundo e enquanto dirigia eu falei:

- Desculpa... - Mariana continuou pensativa, sem responder. Eu endossei: - Mariana, eu estou pedindo desculpa...

- Porquê está agindo dessa forma?

- Não sei, tem tanta coisa passando pela minha cabeça... - comentei confusa.

- A professora das meninas não tinha nada haver com isso. - Mariana tomou a dor da professora.

- Você tem razão, depois da premiação, vou ligar para a escola e conversar melhor com a professora. - comentei.

- Eu entendo o motivo da sua reação...

- Entende?! - indaguei confusa.

- Sim, você tem tido uma sobrecarga afetivo-emocional muito grande. Como você poderia por exemplo explicar sobre a Tamara.

- Nós terminamos... - resolvi abrir para Mariana.

- O-o-oi? - Mariana indagou incrédula e eu pude notar um sorriso discreto em seu rosto.

- Contei a verdade para ela, que havíamos ficado juntas. - comentei sem graça.

- Ok...Mas você está bem com isso? - Mariana indagou preocupada.

- Não sei Mariana, acontece que não estou pronta para ter essa conversa com você.

- Tudo bem. Eu respeito isso...

- De toda forma, preciso conversar com a professora sobre o lar das meninas, como funciona esse processo durante a semana e ainda assim não consigo compreender o comportamento da Valentina...

- Fica tranquila, pode ter sido pontual, vamos observar se vai persistir.

- Espero que não. - Mariana me olhou sorrindo, eu fiquei tímida e comentei: - O que foi?! Já é a segunda vez que me olha assim...

- É que você está muito bonita.

- Isso significa que vai na premiação? - indaguei tímida.

- Não vejo impedimento. - Mariana respondeu e eu sorri olhando para a frente, concentrada no trânsito. Ela por sua vez deu um sorriso tímido,  e percebi que talvez aquele movimento estivesse sendo uma paquera, não sei, mas senti borboletas no estômago.

Ficamos em silêncio até o fim da viagem, chegando no aeroporto, pedi para Mariana estacionar o carro para mim, queria tentar pegar Ceci chegando.

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