Capítulo 12

3K 189 11
                                    

Sophie

Cinco dias depois

-Está gostando do emprego, irmã? - minha irmã diz ao telefone.

- Estou amando, Nina. Alice é um amor e muito comportada. Hoje combinamos de ter nossa festa do pijama.

Conto para minha irmã que meu chefe vai para um evento junto de seu amigo Nick hoje e pediu para que eu tomasse conta de Alice após do fim do meu expediente e que eu dormisse por lá mesmo, já que provavelmente ele irá voltar tarde. Thomas irá me pagar a mais por isso, então nem cogitei negar.

- Eu sei o quanto você gosta de criança, seu útero coça toda vez que vê uma. - dou risada e ela me acompanha.

- Você não é muito diferente de mim. - retruco. - Tenho certeza que quando conhecê-la, o seu também irá coçar.

Conversamos mais um pouco sobre tudo que está acontecendo em nossas vidas. Não conto a respeito da minha relação esquisita com meu patrão, porque creio que não seja o momento.

Nesses últimos dias, Thomas tem me ignorado completamente, só usamos cumprimentos básicos, como bom dia, boa tarde e boa noite. E isso é estranho, porque terça feira ele me seguiu em seu instagram, eu também o segui de volta, depois disso o homem fingiu que eu nem existia. A única vez que tivemos uma conversa mais longa, foi a respeito do evento que terá hoje à noite e para eu dormir aqui também.

Por um lado, fico feliz, pois assim não há mais complicações em nossas vidas. No entanto, pelo outro, fico um pouco chateada, porque sei que senti algo por ele que nunca senti com ninguém. Thomas mexeu comigo de tal forma, que não há alguma explicação racional.

Interrompo meus pensamentos e busco continuar a conversa com Nina.

- Quando virá novamente para Annecy? - minha irmã pergunta.

- Só em agosto, no feriado Nossa Senhora da Assunção. - respondo. - Além de visitar vocês, vou conhecer um estabelecimento que está sendo vendido aí. Já combinei o encontro com o dono e tudo.

- Sério? - ela diz empolgada. - Vou junto com você, quero te ajudar nesse momento importante.

- Claro, irmã. Sua companhia é o que mais quero. - olho para meu relógio e concluo. - Tenho que ir agora, Alice está me esperando.

- À bientôt*, Sophie.

- Até algumas semanas, irmã. - desligo a ligação e me preparo para ir embora.

A voz de Édith Piaf ecoa pelo rádio e eu aprecio a sonoridade da canção

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A voz de Édith Piaf ecoa pelo rádio e eu aprecio a sonoridade da canção. La Vie en Rose* é uma das músicas mais bonitas que já ouvi, apesar de ser um pouco clichê. Todos já ouviram sua melodia ou algum cover alguma vez, de tão famosa que é.

Estamos na cozinha no momento. Estou ensinando uma receita de madeleines para Alice, uns bolinhos fofinhos em formato de concha, muito comuns aqui na França. Pego o saco de confeiteiro com a massa já dentro, começo a fazer os formatos e a menina faz o mesmo.

Ela está tão concentrada e focada, que a cena vista de fora é muito fofa. Vou instruindo ela, até que terminamos de modelar toda as madeleines na forma e agora é só colocar no forno.

- Quand il me prend dans ses bras*, qu'il me parle tout bas*, je vois la vie en rose*... - cantarolo enquanto coloco os talheres e utensílios na pia para lavá-los. - Il me dit des mots d'amour*, des mots de tous les jours*, et ça me fait quelque chose*...

- O que essa música quer dizer, Sophie? - a pequena me questiona.

- É uma música de amor, princesa. Ela diz que quando estamos apaixonados, nós vemos a vida em cor de rosa, ou seja, tudo é mais bonito e colorido quando amamos alguém profundamente.

- E você ama alguém? - olho para ela completamente corada. Não posso negar que a primeira coisa que veio na minha cabeça foi Thomas.

- Amo minha família e meus amigos. - tento sair pela tangente.

- Tô falando do amor, tipo da Rapunzel e do Flynn. - ela faz analogia ao seu filme favorito, Enrolados. - Ou tipo o do Linguini e da Colette, de Ratatouille.

- Não, não sinto isso por ninguém no momento. - falo completamente sem graça.

- Mas já sentiu? Eu queria saber como é estar apaixonada. - Alice diz sonhadora. - Será que vou estar algum dia?

- Não sei se já me senti assim, pequena, então sou a pior pessoa para explicar. Mas eu acredito que seja quando você não consegue parar de pensar na pessoa e quando vai falar com ela, se sente nervosa ou tensa e parece uma idiota. As vezes você nem consegue olhar nos olhos da pessoa, de tanto que ela te afeta. - tento fingir que não é assim que me sinto com meu chefe. - Mas fique tranquila, um dia, talvez daqui a uns anos, você conhecerá esse sentimento. Você tem apenas seis anos princesa, tem muito o que viver ainda.

Encerro o assunto e me sento na mesa ao seu lado observando ela colorir seu desenho. Esperamos os bolinhos ficarem prontos para tirá-los do forno. Enquanto aguardamos esfriar, aquele quem não paro de pensar entra no local.

Nota da autora:

- À bientôt*: até logo.

- La Vie en Rose: a vida em cor de rosa.

- Quand il me prend dans ses bras: quando ele me toma em seus braços.

- qu'il me parle tout bas: ele me fala baixinho.

- je vois la vie en rose: eu vejo a vida em cor de rosa.

- Il me dit des mots d'amour: ele me diz palavras de amor.

- des mots de tous les jours: palavras de todos os dias.

- et ça me fait quelque chose: e isso mexe comigo.

Um Amor em Paris Onde histórias criam vida. Descubra agora