Capítulo 6

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Sophie

Me concentrar na entrevista foi muito difícil. A forma como o senhor Williams me encarava, parecia que conseguia ver minha alma. Toda vez que eu tomava a coragem de encarar sua íris azul, eu me perdia completamente, porém dei meu máximo para disfarçar.

Algo que me deixou feliz foi perceber seu interesse em tudo que eu dizia, aparentava beber cada palavra que saia de minha boca.

Ele mexeu comigo de uma forma que nunca havia sentido com ninguém, nem mesmo com Adrien, meu ex-namorado. Toda vez que olhava para sua mãos enormes em cima da mesa, imaginava elas por todo o meu corpo.

Afasto esses pensamentos da minha cabeça, porque se eu for contratada devo me manter distante de Thomas, já que ele será meu chefe. Já é de conhecimento popular que relacionamento entre patrão e empregada nunca dá certo e o lado que sai sempre prejudicado é, geralmente, o mais fraco, ou seja, eu.

Por isso, o mais longe que eu conseguir me manter do senhor Williams melhor.

Assim que saio da sua sala e chego no hall de entrada vejo uma garotinha descendo as escadas, distraída. Deve ser a filha de Thomas. Ela é tão linda quanto seu pai descreveu para mim. Sua pele é tão branca que chega a ser pálida, seus cabelos são loiros, porém mais escuros que os meus, olhos castanhos e lábios pequenos. Parece uma bonequinha.

Quando a menina chega no último degrau sob minha atenção, vejo que ela pisa em falso e meu coração erra as batidas. Alice cai de joelhos no chão, soltando um gritinho agudo de susto. Corro em sua direção quando vejo que está chorando.

- Calma, princesa. Foi só um susto. - digo calmamente em inglês, mas com o coração acelerado.

Me agacho bem próxima a ela e passo a mão em seu rosto carinhosamente para limpar as lágrimas. Acabo me sentando na escadaria e a trago para meu colo. Seus bracinhos vão em direção aos meus ombros rodeando-os, enquanto sua cabeça se enterra no meu pescoço. Ficamos nessa posição por um tempo. Passo a mão em suas costas tentando acalmá-la.

- Você se machucou, pequena? - ela tira o rosto do meu pescoço e balança a cabeça para cima e para baixo. Seus olhos estão vermelhos por causa do choro. - Deixe-me ver seu joelho.

Está apenas um pouco vermelho, o choro é mais pelo susto que levou ao cair do que pelo machucadinho. Limpo suas lágrimas.

- Fique tranquila, princesa. Está apenas vermelhinho. Podemos pôr um pouco de gelo e depois passar uma pomada. O que acha?

- Tudo bem. - ela diz baixinho, mas não me solta por nada.

Olho em volta e percebo só agora que Thomas, Matilde e as outras candidatas para o emprego, que chegaram há alguns minutos, observam esse momento. Isso não me abala, continuo segurando Alice e ela não parece querer me soltar também. Olho para a governanta e peço educadamente:

- Matilde, poderia, por gentileza, trazer gelo e uma pomada? - a senhora me olha admirada e concorda rapidamente. - Espere um pouquinho que já cuidaremos do seu joelho, tudo bem, Alice?

- Sim. - a pequena já não chora mais e me olha como se eu fosse seu porto seguro.

- A propósito me chamo Sophie.

- Seu nome é lindo. - a menina diz baixinho. - Você parece uma princesa dos contos de fadas.

Quando vou responder seu elogio, Matilde chega e me entrega o que pedi. Posiciono as pedrinhas de gelo cobertas com um pano em cima da vermelhidão do joelho e começo a conversar com ela para distraí-la um pouco.

- Acho seu nome lindo também. Me lembra de Alice no País das Maravilhas, já devo ter lido umas dez vezes. Você conhece a história? - Alice se empolga.

- Sim, papai já leu para mim. - olho para o senhor Williams que está quieto nos observando.

- E qual é o seu personagem favorito? Eu amo o Chapeleiro Maluco.

- Eu também! - diz animada.

Conversamos mais um pouquinho sobre o livro, depois retiro o gelo e aplico a pomada.

- Agora só falta algo que minha mãe sempre diz que cura tudo. - dou um beijinho no seu joelho. - Prontinho, princesa. Você foi uma menina forte e corajosa.

- Como a Alice do livro? - seus olhos brilham.

- Sim. - falo sorrindo. Ela levanta do meu colo sorridente.

- Obrigada, Sophie.

A pequena me abraça e vai correndo em direção ao seu pai, que agacha para ficar na sua altura e diz algumas coisas baixinho. Depois de levantar, o homem pede a governanta:

- Matilde, poderia acompanhar Alice até a cozinha, preciso conversar com a senhorita Fournier. - a mulher obedece seu patrão prontamente. Ele se vira para as outras candidatas. - Estão liberadas, senhoritas.

As duas saem pela porta principal e no cômodo só resta eu e Thomas. Um silêncio, similar ao que estava no escritório, se instaura. Me permito encará-lo e me assusto quando vejo que faz o mesmo. No entanto, dessa vez não parece desejo ou atração, e sim fascínio.

Não sei quanto tempo passa, mas só paramos de nos observar quando escutamos risadas altas vindo da cozinha.

- Me acompanhe até o escritório novamente, Sophie.

Andamos até sua sala e paramos em frente a porta de madeira que está fechada. Ele a abre e gentilmente me dá passagem. Quando vou entrar, percebo que o espaço que deixou livre para mim é um pouco apertado, fazendo que eu fique encurralada entre ele e o batente. Sinto o cheiro do seu perfume amadeirado, creio que seja Hugo Boss.

Também sinto sua respiração acelerada próxima ao meu pescoço. Por isso, entro rapidamente para evitar cometer algum ato impensado.

Thomas, em vez de sentar na mesa, se senta no sofá e aponta para o outro para eu me sentar também. Ficamos um de frente para o outro.

Estou com medo dele ter se ofendido por eu ter ajudado sua filha sem sua permissão e por isso nem considere me contratar mais. Um defeito que tenho é quando estou nervosa ou com medo não consigo parar de falar. É incontrolável.

- Senhor, me desculpe se te desrespeitei de alguma forma, só queria ajudá-la. Alice estava descendo as escadas distraída e foi só um instinto meu...

- Sophie...

- Me perdoe. Não deixe de me contratar por causa disso. Eu sempre respeitei a todos os meus chefes e com o senhor não seria diferente. Minha mãe me educou muito bem e...

- Sophie! - fala um pouco mais alto me assustando, mas quando olho para seu rosto, vejo que está sorrindo. - Está tudo bem. Nunca vi alguma babá cuidar tão bem e carinhosamente de Alice, como você. Seguiu seu instinto e ajudou minha filha sem pensar duas vezes. Isso mostra que sempre priorizará a segurança da minha menina. - me sinto tão aliviada e feliz ao mesmo tempo. - Além de já ter conquistado a confiança da minha filha. Parece que você a cativou de alguma forma.

- Sim, senhor. - tento esconder empolgação.

- Por isso o emprego é seu. - sorrio verdadeiramente para ele. - Pode começar amanhã. Enviarei para seu e-mail todas as informações necessárias, como alergias ou o que minha filha come, sua rotina, o contrato, entre outros. Matilde te entregará o uniforme amanhã quando chegar. Seja bem-vinda, Sophie.

- Muito obrigada, Thomas. Cuidarei de Alice com minha vida.

Damos um aperto de mão e nos encaramos por um tempo. Ele toma atitude primeiro de se afastar quando seu telefone toca.

- Au revoir, Sophie. - me surpreendo quando diz adeus em francês.

- Até mais, senhor Williams. - saio pela porta.

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