Capítulo 3

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Sophie

Annecy, França

Termino de flambar os crepes e sinto uma explosão de aromas. O adocicado da manteiga perfumada misturado com as raspas de tangerina e do licor de laranja. Coloco eles em um refratário e os posiciono em cima da mesa de jantar.

Hoje é meu último dia aqui em minha terra natal, Annecy, uma das cidades mais bonitas da França, modéstia parte. Cozinhar com a vista dos Alpes Franceses pela janela, não tem preço. Sempre me sinto bem quando venho aqui visitar meus pais e minha irmã, que ainda vivem nessa região.

Atualmente moro em Paris, lá as oportunidades de emprego são muito maiores do que aqui, e sempre que posso venho ver minha família. A viagem de trem dura em torno de cinco horas, mas vale cada segundo com os cenários esplêndidos que te acompanham pelo caminho.

- O cheiro está maravilhoso, Sophie. - papai diz.

- Eu amo quando você faz crepe suzette, acho que é um dos meus favoritos. - Nina, minha irmã, diz enquanto coloca o doce no seu prato.

- Obrigada, adoro cozinhar para vocês, porque nunca me criticam. - brinco com eles.

- Depois que você ajudou a montar o cardápio de sobremesas do restaurante, a clientela só tem aumentado. É turista para todo lado. - meu pai informa empolgado.

- Não exagere, papai. Você sabe que o Chateu* Fournier sempre foi um sucesso, graças ao seu trabalho duro.

Simon Fournier herdou esse restaurante quando ainda era um jovem. Seus pais morreram num acidente de carro e por isso foi criado por um tio que já faleceu há muito tempo. Ele deixou de herança um estabelecimento o qual já estava caindo aos pedaços, no entanto papai reformou o local com suas próprias mãos. Hoje, o Chateu é um restaurante familiar, mas que faz muito sucesso entre os habitantes de Annecy e principalmente os turistas, que sempre buscam comidas tradicionais francesas. Tanto minha mãe quanto minha irmã trabalham lá, ajudando ele, e sempre que venho ajudo também como posso.

Apesar do sucesso do estabelecimento, vivemos uma vida simples e confortável. Nossa casa é estilo francesa com três andares, mas mesmo assim não é muito grande. Ela é branca com as portas e janelas azuis marinho. O primeiro andar é a garagem e entrada da casa, o segundo é uma sala espaçosa, a cozinha e um lavabo. O terceiro consiste nos quartos e um banheiro. Nos fundos da casa, há um pequeno jardim, onde minha mãe tem sua própria horta e suas plantas.

 Nos fundos da casa, há um pequeno jardim, onde minha mãe tem sua própria horta e suas plantas

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- Sempre que você vem para cá, eu engordo uns cinco quilos, minha filha. - mamãe fala enquanto come o crepe. Seus cabelos loiros e volumosos estão presos em um coque. - Você tem mãos de fada.

- Obrigada, mamãe.

Recolho os pratos quando todos terminam de comer e vou para meu antigo quarto no terceiro andar, onde atualmente meus pais guardam itens que não usam mais e algumas caixas. Minha mochila está em cima do colchão que durmo, pego algumas roupas dentro dela e me preparo para tomar banho. Quando estou saindo do cômodo, minha irmã aparece.

- Você acredita que Adrien passou aqui mais cedo, perguntando quando ia voltar para Paris? - Mon Dieu!* Quando ele vai me deixar em paz?

- E o que você respondeu? - pergunto a Nina.

- Que não sabia. - ela dá um sorriso sapeca.

- É por isso que te amo, irmãzinha. - beijo seu rosto.

Nina tem vinte e dois anos, é dois anos mais nova que eu. Sempre fomos muito próximas, principalmente por conta da nossa diferença de idade ser pouca. Ela é baixa, tem cabelo liso e castanho, olhos verdes como os de papai e tem o corpo magro. Eu já puxei mamãe que tem os olhos azuis e o cabelo loiro como eu.

Diferente de mim, minha irmã já se formou na faculdade e ajuda meu pai a administrar o restaurante. Acredito que quando ele se aposentar, Nina que tomará conta do lugar, já que eu pretendo seguir outra carreira.

- Nem acredito que namorou esse cara por anos, Sophie. Ele é uma ameba. - gargalho com a declaração.

- Foi um namoro de adolescência que durou mais do que deveria.

- Espero que conheça alguém legal lá em Paris.

- Bem que eu gostaria. - sorrio para ela. - E quando você vai arranjar um namorado para eu falar mal?

- Você sabe que sonho em me casar e estou esperando o homem que será meu futuro marido. - Nina sempre foi muito romântica.

- Enquanto espera, devia aproveitar a vida, Nina. É linda e só tem vinte e dois anos.

- Sabe que isso não faz meu estilo, sair com com homens desconhecidos.

- Entendo. - suspiro. - Você vai encontrar seu amado, souer*. Ele será um sortudo por ter você.

Meu trem chegou na estação as seis horas em ponto

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Meu trem chegou na estação as seis horas em ponto. Me preparo para me despedir da minha família e as lágrimas inundam os meus olhos, sempre me emociono quando me despeço deles.

- Odeio despedidas, sempre me deixam triste. - Nina lamenta e dou um abraço forte nela.

- Manda notícias, Sophie, e não esqueça de nos contar se conseguiu o emprego. Qualquer coisa eu e seu pai te mandamos dinheiro. - mamãe me abraça e beija minha bochecha. - Não vejo a hora de você voltar para cá.

- Não precisa se preocupar, dona Anna, tenho minhas economias guardadas e consigo me virar. Tenho certeza que logo voltarei para cá para abrir minha confeitaria. - limpo suas lágrimas. - Até logo, papai.

- Até mais, minha filha.

Entro no trem, procuro minha poltrona e me sento confortavelmente. Olho pela janela e vejo minha família acenando para mim. Repito o gesto e mando beijos para eles.

Nota da autora:

- Chateu: castelo;

- Mon Dieu: meu Deus;

- Soeur: irmã.

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