Sessenta e um

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Quando o alarme no celular tocou pontualmente às 06:00 AM, Toni gemeu em protesto e resmungou mau humorado, porque sua cabeça estava doendo. Isso estava sendo extremamente desgastante, dormir e acordar com dor de cabeça, especialmente porque nunca foi um sujeito de saúde frágil e poucas vezes teve que lidar com alguma doença.

Esfregou o rosto, numa tentativa de se motivar a abrir os olhos, de repente percebeu que não sentia o calor do corpo do marido junto ao seu, olhou para o lado e constatou o fato, estava só e isso lhe causou uma sensação de estranheza. Não era incomum, ele tinha tantas noites de insônia que vez ou outra desistia de dormir e levantava antes mesmo do sol nascer, mas dessa vez nem havia visto o homem chegar da delegacia na noite anterior.

Com a mente cheia dessas preocupações, levantou com cuidado e foi ao banheiro, fez xixi, escovou os dentes e tomou o remédio. Em seguida, foi ao quarto da filha, apenas para verificar, afinal ela foi atacada no dia anterior, precisava ver ela com os próprios olhos, mesmo que estivesse dormindo.

Ver a cama vazia foi uma surpresa, mas ver as duas pessoas adormecidas no canto do quarto foi inesperado. Samuel ainda estava com a mesma roupa que saiu no dia anterior, exceto pelo blazer que estava esquecido no encosto da cadeira, no canto do quarto e Luz estava deitada em posição fetal no chão, a cabeça apoiada na coxa do irmão mais velho. As escoriações nos joelhos e nas palmas da mão dela estavam visíveis, notavelmente vermelhos e mesmo que tenha assistido ao ex-marido limpar e desinfetar as feridas na noite anterior, ainda era difícil de olhar para elas, não porque fossem ferimentos graves, pois não eram, sim pelo que significavam.

- Samy? - chamou uma vez, mas não obteve resposta.

Esticou a mão, se inclinando um pouco e tocou o ombro do homem.

- Samy, ei! - chamou mantendo a voz baixa.

O mais velho teve um susto e despertou agitado, os olhos estavam extremamente vermelhos e o rosto normalmente pálido estava corado como se tivesse passado o dia todo no sol.

- Ei cara, calma, o que tá fazendo aí no chão? - perguntou em voz baixa e o tom manso.

Samuel olhou em volta, percebendo a menina com a cabeça no seu colo, até ergueu as sobrancelhas por um segundo, esfregou os olhos com os dedos, incomodado com o quanto estavam secos.

- Ela teve um pesadelo... não quis voltar para a cama de jeito nenhum - relatou de forma confusa, arregalando os olhos por um momento e piscando rapidamente no outro, até por fim desistir, recostar a cabeça na parede e fechar eles de vez - então, é fácil deduzir com o que ela sonhou.

O músico parou de falar, fez uma careta dolorida e passou a massagear o pescoço, totalmente alheio a sua súbita tensão, ou ao modo como fechou as mãos em punhos.

- Eu devia ter batido naquele filho da puta com mais força - resmungou em resposta.

- Você pode chamar o César, por favor? - pediu, como se fosse a coisa mais comum a pedir logo pela manhã.

- Quê? - rebateu, incerto se o homem falava sério ou ainda estava mais dormindo do que acordado.

- Eu não estou me sentindo bem, acho que não vou conseguir levantar sozinho, de verdade, mas você não pode se esforçar, então... pode chamar ele? - explicou calmamente, abrindo os olhos de uma vez e afagando a cabeça da menina para despertar ela - Ei querida, você realmente precisa voltar para a cama agora.

- Deixa de leseira Samuel, eu consigo te levantar. - teimou, enquanto Luz se movia com lerdeza no colo homem.

- De fato, consegue, mas não deve. Ontem você quase voltou para o hospital por causa do cachorro - começou a explicar Samuel, mas foi imediatamente interrompido.

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