Capítulo Onze

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Samuel foi pulando num pé só até uma pedra maior, onde Lucas o ajudou a sentar. Toni veio correndo. Logo César veio se juntar aos três, se abaixou ao lado de Toni, com um jeito completamente profissional, foi subindo a perna da sua calça, encolhendo-a cuidadosamente até a cima do joelho.

O músico não protestou, ou disse qualquer coisa, mas começava a ganhar alguns tons de vermelho no rosto com tanta atenção.

Aos poucos foi se formando um círculo a sua volta, Vitória tinha uma carinha preocupada e seus olhinhos curiosos captavam tudo. Magnólia já estava passando a mão no cabelo loiro e molhado do músico, como se ele fosse um criança. Carmem estava por ali com as mãos unidas numa prece muda, apesar de ter um comportamento muito libertino, era uma mulher muito religiosa e tendo em vista o histórico de cirurgias do homem caído ali, orar para que não fosse nada grave, era o melhor que poderia fazer. As outras meninas logo se juntaram a família toda assim que César precisou se abaixar ali para atender ao Franco mais velho.

Luz teve sua atenção completamente tomada por aquela cicatriz, era feia, disforme, mas fazia todo sentido, afinal sabia que seu maior protetor teve sérios problemas com aquele joelho.

- Caramba! Aquilo deve ter doído! – começou Isa, muito afoita com a novidade.

- Acho que não. Lembra que o papai disse? – comentou sua irmã, mais preocupada que curiosa.

- Espera aí... Como assim? O que ele disse? – interveio Luz, muito atenta a tudo.

- Ele contou para gente faz muito tempo! – sussurrou Bel.

- Tipo muito muito tempo! – enfatizou Isa.

- Éramos bem pequenas e perguntamos porque as vezes o tio usava bengala. Parece que o tio Samuel fez um monte de cirurgias nesse joelho – começou Bel.

- Mas parece que não resolveu o problema, seja qual for, só adiou alguma coisa inevitável... tipo um problema que não tem mais jeito, sabe?

Por um segundo se questionou porque suas primas sabiam disso e ela não. Mesmo que Samuel nunca tenha dito, a cicatriz era tão chamativa, era no mínimo estranho nunca ter prestado atenção nela. Tentou lembrar de alguma vez que viu Samuel de bermuda, mas nada lhe ocorreu, mas lembrou de algo confuso, lembrou do mais velho lhe dizendo que seria apenas uma noite. Ele ainda não tinha cabelos brancos, lhe sorria com tranquilidade embora estivesse apreensiva. Levou um minuto para entender que aquilo era referente a um dia que ele foi internado para uma cirurgia, logo que veio morar com ele e Toni.

Os dois convidados extras acompanhavam o desenrolar dos fatos há um metro e meio de distância, em parte por não serem tão próximos do aniversariante e tanta gente poderia atrapalhar mais do que ajudar, em parte porque tudo pareceu apenas uma queda sem sentido, algo tão natural num dia de brincadeiras que aos olhos dos dois não fazia sentindo todo aquele alvoroço.

César seguia impassível com seu atendimento, apertava de leve as laterais investigando alguma coisa.

- Bem... não inchou, nem tem hematomas... Dói?

De repente ouviram uma risada irônica.

- Ele é alguma criança por a caso? – soltou Vagner, nitidamente irritado com toda aquela comoção que girava em torno do músico. Camilo se encolheu um pouco, com algum amargor expresso no seu rosto, enfiou as mãos nos bolsos da bermuda verde folha que usava.

Samuel pareceu ser o único atingido pelo comentário questionador, pois o enfermeiro apenas terminou de examinar o joelho alheio junto com Toni.

- Samuel?... Dói? – insistiu Toni, repetindo a pergunta do enfermeiro.

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