— Não está sentindo... esse cheiro?
Toni ainda estava bêbado de tesão, mas o vinco na testa do músico e o jeito preocupado com que o encarava, superando o próprio desejo aos poucos trouxeram de volta a lucidez de seus pensamentos.
Ofegou um tanto impaciente, sem entender do que Samuel estava falando, afundou seu rosto no pescoço do músico, inspirando seu odor. Era o único cheiro que queria sentir. Precisava loucamente daquele momento a sós com o marido, nem que fosse para uma rapidinha, Samuel nem precisava fazer nada. Ansiava pelo calor daquele corpo.
— Toni é sério. — apertou os ombros do moreno, tentando tirá-lo de cima — Não está sentindo esse cheiro... de algo queimando?
Toni ergueu a cabeça no mesmo instante, vendo o estado de alerta do mais velho e logo contagiado pela preocupação. Virou a cabeça de lado, olhou para a porta, concentrado. Quando o dito cheiro o alcançou em meio ao torpor da excitação, pulou da cama num segundo, jogando a coberta longe numa corrida precipitada até a porta.
Samuel levantou rapidamente, rápido até de mais, seu joelho estalou, deu uma fisgada dolorida, percebeu que estava um pouco rígido, mas não tinha tempo para se preocupar com isso. No caminho até a porta escancarada avistou o roupão de banho e só então percebeu aquele vento frio no peito.
Estava sem camisa, não havia tempo para procurar roupas adequadas então o roupão preto ia servir. Saiu do quarto ainda se vestindo, mas hesitou, assim que saiu na sala ampla viu a fumaça que começava a invadir o lugar, arregalou os olhos um pouco assustado.
Terminou de vestir os braços rapidamente, se apressando até a cozinha, mas assim que entrou foi recebido por uma lufada de fumaça que o fez tossir e fechar os olhos.
— Mas que inferno! O quê que cês três tem na cabeça? — brigava Toni, num misto de fúria e tensão, as meninas tossiam amontoadas perto da porta, assustadas.
— O que aconteceu? — questionou o músico, indo ajudar a abrir as janelas.
— Essas pestes quase colocaram fogo na casa! — ralhou Toni, quase rosnando de tanta raiva e frustração.
Toni desligou a válvula na botija de gás, vasculhou loucamente o armário.
— Foi sem querer pai — choramingou Luz.
Toni ia jogando algumas panelas no chão na pressa, por fim achou uma tampa grande o bastante. Com certeza o barulho estridente ia acordar todo casarão.
— Tentamos apagar tio, mas quando jogamos água o óleo pulou e o fogo subiu — contou Isa, abraçando protetoramente a irmã.
Rapidamente o moreno cobriu a panela incendiada, antes que o fogo saísse do controle. Samuel abriu a última janela, enquanto Toni jogava sal nas chamas fracas que ainda persistiam por cima do fogão.
— Vamos sair daqui meninas, todo mundo. Vamos Toni, essa fumaça faz mal.
Sem ver mais sinal de fogo todos foram saindo e tossindo. Por um instantes ficaram tensos, pelo menos até Isa e Luz se olharem e de repente caírem na gargalhada, nervosas e aliviadas.
— CÊS FICARAM MALUCAS PORRA?! JOGARAM ÁGUA?! NUMA PANELA CHEIA DE ÓLEO?!
As meninas se encolheram um pouco diante dos gritos bravos. Samuel segurou o braço do marido o puxando de leve.
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Segredo de Família
RomansaOito anos se passaram, Samuel, Toni e Luz acabaram formando uma família como qualquer outra. A menina que antes idolatrava o irmão mais velho se revolta, no auge da adolescência, quando Samuel se recusa a falar sobre, Mauro, o pai biológico da irmã...