O lanchinho era pequeno, mas tinha um cardápio de guloseimas bem diversificado, salgados fritos, assados, bolos, tortas, doces, sucos, vitaminas, refrigerantes, tinha até uma plaquinha anunciando café da manhã e almoço, mas obviamente por ser de noite a comida caseira estava fora de questão. Não que eles fossem conseguir comer qualquer coisa, pelo menos não Samuel.
O café preto foi a única coisa que ele aceitou, isso preocupou muito o mais novo, afinal desde que chegaram do banho não comeram nada de substancial. Isso quase o fez se arrepender de ter sugerido o café, sua única intenção naquele momento foi tirar Samuel de perto dos olhares raivosos daquele homem, fosse quem fosse, era irritante o modo julgador com que os olhava. Se fossem outros tempos, já teria encarado aquele homem, dito algumas grosserias, xingado com palavrões feios e dependendo da reação do cara já teria dado uns três ou quatro murros e quebrado pelo menos um nariz. Mas tinha consciência do momento delicado em que a família estava, não seria oportuno arrumar uma briga agora. A melhor solução que encontrou foi levar Samuel para dar uma volta e tentar colocar algo no estômago no lanchinho em frente ao hospital assim que Otávio foi autorizado a ver a esposa.
Apesar da fome, Toni teve que se contentar com um copo de suco. Sempre foi muito disciplinado quanto a sua preparação física, isso incluía cuidados rigorosos com a alimentação, mas em datas comemorativas sempre quebrava um pouco as regras. Naquela tarde tinha extrapolado muito sua dieta com toda aquela carne gordurosa no almoço.
Puxou uma conversa a tôa com Samuel, apenas para distraí-lo, perguntou sobre as aulas de música Mas a cada palavra trocada percebia Samuel distante, obviamente preocupado com a situação dos primos.
— Será que ela vai resistir?
Gostara de poder dizer com toda convicção que sim, mas ninguém tinha essa certeza, nem mesmo os médicos
— Espero que sim.
Samuel esboçou um sorriso fraco, quase imperceptível e bebeu um gole de café.
— Todos esperamos então — concordou.
Toni gostaria de poder dizer qualquer coisa que fizesse o músico sorrir de verdade, pois detestava quando ele precisava ser forte. Apesar dos seus modos, contido e frio, sabia que Samuel era muito empático, sofria silenciosamente pelos outros, especialmente quando se tratava de uma pessoa próxima e querida, mesmo que não declarasse isso em voz alta.
Naquela noite ninguém foi autorizado a entrar na sala estéril onde os bebês estavam. As primeiras horas eram muito importantes e tudo que podiam fazer era assistir pela parede de vidro enquanto a equipe médica trabalhava arduamente.
Logo depois da meia-noite o amigo de Otávio se despedi e foi embora, deixando apenas o trio de parentes na sala de espera. Honestamente Toni não achou isso ruim, era menos uma coisa para ter que tomar cuidado. No meio da madrugada encontraram César no mesmo lanchinho na frente do hospital, apesar do lugar ser pequeno, era muito frequentado pelos funcionários do hospital.
Apesar do clima tenso, aquele foi o momento mais agradável, Samuel até contou um pouco sobre as comemorações do seu aniversário quando o primo lembrou da data, tudo para desviar um pouco a atenção dos problemas.
— Então ano que vem vamos ter uma festa ainda maior, agora três pessoas dessa família fazem aniversário no mesmo dia — comentou o policial, um tanto esperançoso.
Toni abriu logo um sorriso, mas Samuel ainda demorou um longo minuto para entender a quem seu primo se referia. A conversa razoavelmente agradável se estendeu por algum tempo. Apesar de não poder ver nem a esposa ou filhos de perto, Otávio se conformou em velar os bebês através da parede de vidro do berçário, não tinha nenhuma intenção de ir embora. Samuel por sua vez não quis deixar o primo sozinho nos corredores do hospital diante da incerteza que pairava no futuro. Além disso era o único parente do policial, com laços sanguíneos, que ainda não havia o deixado de lado e definitivamente não fazer isso agora. Obviamente lembrou de Rosa Franco, sua tia e mãe de Otávio, que até momento não havia se dado ao trabalho de mandar uma mensagem de conforto que fosse ao filho.
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Segredo de Família
RomanceOito anos se passaram, Samuel, Toni e Luz acabaram formando uma família como qualquer outra. A menina que antes idolatrava o irmão mais velho se revolta, no auge da adolescência, quando Samuel se recusa a falar sobre, Mauro, o pai biológico da irmã...