Cinquenta e sete

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Samuel abriu os olhos, estava assustado, o coração batia acelerado no peito, mas se conteve antes que fizesse qualquer movimento e acabasse machucando o homem. Respirou profundamente tentando se acalmar dos emoções voláteis daquele pesadelo, queria fechar os olhos e se tranquilizar com qualquer um dos seus mantras bobos, mas a cama estava sacudindo levemente e isso lhe aterrorizou por um segundo, o medo de ainda estar dormindo e isso ser outro pesadelo  rastejava por baixo da sua pele. Preferia ficar com eles bem abertos, encarando a parede e a pouca luz que a cortina deixava passar.

Se perguntou se estava tendo um pesadelo consciente. Imaginou que se virasse para o outro lado se depararia com a imagem do marido morrendo banhado em sangue, já que esse tinha sido o teor das suas últimas noites de sono mal dormidas. Isso o enregelou por dentro, mas foi apenas por um segundo, pois logo ouviu aquele murmúrio.

— Samy… ah…

A sensação fria e aterrorizante que tinha por dentro foi aquecida até que seu rosto estivesse completamente vermelho. Quer dizer, seu casamento teve altos e baixos ao longo dos anos e obviamente sabia que nos momentos em que estiveram mais afastados fisicamente o marido se aliviava de alguma forma, mas nunca presenciou um momento tão íntimo. Quer dizer, parecia um pouco errado, como se fosse um intruso.

Estavam estranhos desde a bebedeira na lua de mel, mas admitia que provavelmente já teriam se acertado na cama se não fosse por aqueles machucados. Quer dizer, toda a situação era séria e grave em todos os aspectos, mas o que realmente os estava mantendo distantes eram aquele repouso por ordens médicas. Mal podia se mover na cama para não topar em algum hematoma dolorido. Isso significava que se enfiar entre as pernas dele era algo totalmente fora de cogitação, embora tenha imaginado isso algumas vezes quando o flagrava dormindo com aqueles malditos shorts estupidamente curtos e as pernas escancaradas.

Não que isso fosse uma possibilidade de qualquer forma, já que era consciente que essa sua fantasia acabaria em constrangimento e frustração no momento em que broxasse. Xingou sua maldita disfunção erétil secreta por algum tempo, ouvindo a respiração exaltada do homem e os gemidos contidos.

Não sentia mais medo ou estava pensando em pesadelos, pelo contrário, sentia seu corpo quente e se perguntava no que o marido estava pensando nesse momento, embora não fosse muito difícil deduzir já que ele havia dito seu nome. No entanto, estava curioso sobre os detalhes, sobre como ele fantasiava isso, como estava lhe imaginando e o tipo de coisas que estavam fazendo. 

— Hum caralho, eu queria tanto ter um vibrador agora.

A última parte foi mais um comentário sussurrado, do que um devaneio de prazer e Samuel fechou os olhos com o impacto que isso causou. Quer dizer, não era difícil de entender o que aquilo significava, o homem estava lamentando a falta de um vibrador enquanto chamava seu nome baixinho no meio da madrugada.

Sua mente armou a cena, Toni ardendo em desejo sem conseguir dormir, o corpo machucado não permitia movimentos muito longos nem vigorosos, uma masturbação ritmada e cansativa, definitivamente um vibrador no lugar certo teria um efeito avassalador.

De repente estava xingando sua disfunção erétil outra vez, com todo o rancor que ardia no seu interior, seu marido não sentiria falta de um maldito vibrador se atendesse às necessidades dele. A raiva súbita que o acometeu foi tão violenta que seus olhos arderam e virou a cabeça, enterrando o rosto no travesseiro e imediatamente o balanço ritmado e sutil do colchão parou.

Como suspeitava, Toni não queria que participasse desse momento íntimo, era algo realmente particular e ele provavelmente só estava fazendo isso na cama porque não tinha condições de levantar. Logo estava xingando Vagner por ter machucado ele, com a mesma raiva intensa que sentia por si mesmo.

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