Segredo de Família

Capítulo Nove

- Já pensou em alguma coisa para amanhã?
Samuel forçou a memória por um segundo.

- Hã... não, eu deveria pensar em alguma coisa para amanhã?

Toni o encarou sorrindo, como se Samuel tivesse contado uma piada, mas quando o músico ergueu as sobrancelhas, um tanto  desentendido da conversa, o mais novo percebeu que ele falava sério e o sorriso quase sumiu.

- Ah Samy... Sério que tu esqueceu que dia é amanhã?

- Domingo? – tentou uma vez.

Toni estreitou os olhos para o homem, como se avaliando uma possível pegadinha, mas a testa ligeiramente enrugada do loiro denunciava a veracidade do seu palpite inocente. Seria pissivel alguém esquecer algo tão importante?

- Também – comentou, estranhando um pouco o esquecimento do outro.

Um tanto quanto intrigado, o mais velho se soltou mais do abraço, deitado de lado, olhando o marido com curiosidade.

- O que tem amanhã?

- Sei lá... é tipo só o teu aniversário? – sugeriu de forma irônica.

Samuel absorveu a informação de forma passível, apenas olhou para o lado por um instante, buscando algo na sua mente sobre datas.

- Ah... Verdade. Eu me esqueci completamente.

Toni sorriu meio incrédulo.

- É, eu percebi! Sabe que se for pela mamãe, ela vai chamar aquele monte de gente, fazer  um daqueles almoços no quintal, daquele jeito que ela gosta.

- Não precisa, eu realmente não quero dar trabalho para ela – deu de ombros, se ajeitando com a cabeça apoiada no ombro do marido.

- Fala sério amor!

- Sabe que eu nunca fui bom com confraternizações. Eu só ia ficar sem jeito chamando os seus amigos da academia para um almoço de aniversário, quase não falo com eles, ia ser estranho, desculpe. Além disso, não vejo motivo para comemorar.

-Opa opa, calma aí, também não é assim.
Samuel virou a cabeça, olhando para o marido de perto, num ângulo meio diferente, mas com aquele jeito inocente de sempre.

- Você sabe que para mim é só um dia como qualquer outro - falou muito simplista.

-O quê que tinha no teu cigarro hoje? Tá doidão por a caso?

Samuel sorriu divertido, essas falas do marido, apesar de frequentes sempre o pegavam desprevenido.

- Tu tem noção que trinta e cinco anos atrás tu nasceu! Tu NASCEU! – reforçou, como se fosse a coisa mais obvia do mundo, frisando bem a palavra.

Samuel lhe olhou com a sua melhor expressão de "E daí?", até ergueu as sobrancelhas. Foi o bastante para Toni continuar, como se seu marido fosse uma criança de cinco anos.

-Para mim já é motivo para festejar. Acho que ia ser uma droga não te conhecer... eu não ia ter o meu homem assim, perto de mim, dormir e acordar do teu lado todo dia... beijar essa tua boca linda...

O  sorriso irônico do músico foi sumindo a medida que ouvia o marido, até engoliu a saliva da boca, fazendo o pomo de adão subir e descer. Toni percebeu a afetação súbita do músico e sorriu um pouco daquele jeito tímido, se ajeitou na cama, de modo que o envolvia nos braços com seus rostos muito próximos.

-... nem ia poder te pegar assim...

- Hum, sei – foi tudo que respondeu, embora seus olhos denunciassem a emoção que sentia.