Capítulo Vinte e cinco

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— Eu espero que você... — começou Heitor, assim que o moreno cruzou a porta e tomou o cuidado de fechá-la.

Tudo aconteceu muito rápido, Toni o alcançou num instante, encarando-o com uma ferocidade renovada e interrompendo qualquer discurso moral.

— Eu tô trabalhando porra! — brigou, lutando ferozmente para não gritar pois não queria que Samuel ouvisse.

Heitor não se intimidou, pelo contrário, juntou as sobrancelhas claramente reprovando sua atitude.

— Eu acho que você devia moderar o seu tom de voz e me explicar o que está fazendo aqui fora do horário de expediente e ainda por cima sozinho com... — começou realmente sério, mas Toni não o deixou terminar.

— Vai pro inferno, caralho! O que parece que eu tava fazendo?! Trabalhando! Tu não tinha nada que ter aberto a merda da porta! Tem alguma noção de como tu atrapalhou tudo?! — brigou, os dentes muito apertado, simplesmente histérico por dentro.

— Eu sou o chefe aqui Antônio, não se esqueça disso se não quiser ir parar no olho da rua. — falou pausadamente, raivoso e ameaçador.

— Tu acha mesmo que eu dependo desse trabalho pra pagar minha contas?! Tu não me conhece, não sabe nada da minha vida e pelo visto nem do meu trabalho, então pega essa tua arrogância toda e enfia no cu!

— Me respeita! Quem você acha que é pra...

Mas Toni não se calou então acabaram falando quase ao mesmo tempo, num misturado estranho de palavras raivosas, um mais indignado que o outro.

— EU SOU O PERSONAL TRAINER DELE! — gritou enfim, apontando para a porta fechada, mas se controlou no último momento, se esforçando para não perder o controle.

Heitor se calou por um momento, passou a mão no rosto, frustrado e furioso, mas infinitamente mais sensato que o personal trainer.

—  A gente conversa na segunda-feira Antônio, você tá de cabeça quente e eu não tô aqui pra aturar abuso de funcionário mau acostumado. — falou com os dentes apertados, mas categórico e com uma demissão silenciosamente prometida.

Heitor lhe deu as costas e saiu andando, sem lhe dar mais nenhuma atenção e Toni se imaginou pegando qualquer peso de qualquer aparelho mais acessível e jogando em direção a cabeça do homem. No entanto, tudo que fez foi fechar os olhos e lutar contra seus demônios, pois estes estavam simplesmente sanguinários.

Quando voltou para a sala encontrou Samuel em pé, com as mãos nos bolso da calça de malha, a mochila pendurada num ombro só, a cabeça baixa e um olhar perdido em qualquer lugar do piso, tão concentrado nos próprios pensamentos.

— Me desculpa, eu te causei problemas não é? Eu sinto muito.

A voz baixa o tirou do seu momento de torpor e mais uma vez Toni desejou matar Heitor.

— Relaxa parceiro, a culpa não é tua não. Eu já te falei que esse cara é um pé no saco. Vem, vam'bora. 

No caminho de volta Samuel não conversou muito, estava disperso e fechado mas não tinha o mau humor característico dos dias de treino e Toni não sabia se isso era bom ou ruim.

Em casa, Samuel continuou silencioso, tomou banho, se vestiu e deitou na cama ao seu lado e veio de bom grado, se aconchegou no seu corpo e deitou no seu ombro.

Samuel era sempre tão reservado com "suas coisas", estava refletindo sobre os possíveis finais dessa conversa, porém o dia havia sido tão longo que antes que decidisse havia caído no sono.

Sábado amanheceu chuvoso, fazendo a temperatura cair alguns graus. Eram chuvas atípicas da estação, mas eram muito bem-vindas para aliviar o calorão que geralmente castigava aquela região nessa época do ano. 

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