Quarenta e oito

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— Sobe mais!

Samuel mostrou um sorriso nervoso, olhou para cima usando a mão livre para aumentar a proteção do boné contra a luz do sol.

— Como, exatamente, eu faço isso? — questionou, franzindo ligeiramente a testa.

Toni sorriu porque foi inevitável.

— É só empinar ué!

Dessa vez, o homem o encarou com olhos sérios.

— Isso deveria fazer algum sentido?

— Puxa a linha, várias vezes, a pipa vai virar de um lado pro outro enquanto sobe. Quando tu sentir que ela pegou uma rajada de vento boa, aí tu solta um pouco a linha.
Samuel olhou para o céu mais uma vez, olhando a figura distante.

— Eu não sei se entendi a graça dessa brincadeira — comentou casualmente, ainda segurando a linha que subia até se perder de vista no céu.

— Ah qual é Samy, é fácil. Dá um puxão nela que tu vai entender.

Samuel abaixou a cabeça com uma careta, fechou os olhos com força, esfregou com a ponta dos dedos e piscou rapidamente.

— Meus olhos estão ardendo por causa do sol.

— Tu não tem que ficar olhando pra cima né, oh nerdão. — implicou, recebendo a linha da Pipa quando o marido esticou o braço na sua direção.

— Mas se ela está lá em cima… isso não faz o menor sentido — rebateu, murmurando.

Samuel pegou a garrafa de água que estava na mesa de madeira, molhou o rosto, aliviando a ardência da pele e dos olhos.

Toni foi até o marido e parou ao seu lado, puxando a linha que segurava vez ou outra, garantindo que a pipa continuava voando. Se inclinou um pouco e observou o rosto avermelhado de perto.

— Tudo bem aí?

— Só está ardendo um pouco.

— Pessoas de olhos claros tem mais sensibilidade à luz do sol… tu não trouxe um óculos escuro?

— Eu não preciso de óculos, estou bem.
— Samy…

— Não tem a menor possibilidade d’eu colocar um óculos… olha aí, seu brinquedo de papel está em queda — desconversou, apontando para a pipa.

— Porra!

Samuel sentou na espreguiçadeira de palha, embaixo do ombrelone de madeira bege e sorriu ao ver o modo ágil e empolgado com o qual o moreno puxava a linha. Se acomodou, cuidando para que a perna direita ficasse confortável.

Naquela manhã Toni correu de um lado para o outro, como se fosse uma criança, olhos perdidos no céu azul límpido. No entanto, mesmo entretido na brincadeira era notável que não estava totalmente em paz, de vez em quando vinha até ombrelone, se abrigava à sombra pelo momento, bebia um pouco de suco e conversava um pouco, sempre com o olho na Pipa, movendo o braço puxando aqui ali para evitar que ela perdesse altitude.

Estava um pouco preocupado, depois do café da manhã Samuel ficou ligeiramente apático e inexpressivo, mas como era de praxe ele não disse qualquer coisa que lhe desse uma dica de qual seria o problema. Imaginava que o joelho estivesse doendo ou algo assim, afinal essas dores sempre minavam o humor do homem. A ideia de soltar pipa foi uma tentativa de animar o homem um pouco e pareceu funcionar por um momento.

— Será que é caro um passeio de barco? — comentou o moreno casualmente, enquanto engolia dois goles de suco de kiwi e hortelã.

— Podemos dar uma volta mais tarde se você quiser. — ofereceu o músico, um sorriso preguiçoso surgindo nos lábios finos enquanto fechava os olhos ardidos e relaxava contra a espreguiçadeira.

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