Capítulo Vinte e três

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— Só me diz porque tem que ser tu?

Sua voz ainda estava rouca e grossa por causa do sono.

— Sou o único com tempo disponível para substituir ele e você sabe disso. — argumentou brandamente.

— Mas esse "tempo livre" era pra tu descansar e não se enfiar no hospital o dia inteiro! — rebateu inutilmente.

Samuel se mexeu na cama buscando uma posição mais confortável e num movimento automático e familiar, Toni colocou o braço para frente, buscando o corpo quente e macio do músico.

— Eu descansei o bastante durante essa semana, eu estou bem e você sabe que ele precisa disso. As meninas estão carentes da atenção do pai e vai ser bom para ele sair um pouco de lá.

O mais velho ainda estava rouco também, falava com serenidade, numa daquelas inúmeras conversas que tinham nas primeiras horas do dia, ainda na cama.

— Cara, eu odeio quando tu tá certo! — ralhou, tentando parecer bravo quando tudo que sentia era sono.

— Depois de oitos anos, você ainda não se acostumou? — falou, sugerindo que estava sempre certo e isso fez Toni sorrir.

Conhecia o músico o bastante para saber que quando ele falava bobagens como essa, pequenas brincadeiras ou ironias inocentes é porque estava de bom humor e isso era tão bom, pois ainda haviam resquício dos desentendimentos daquela semana, especialmente sobre Samuel ter ficado furioso sobre a amizade do marido com César.

No entanto, o moreno parecia o único a estar pensando sobre as turbulências recentes, pois Samuel se virou na cama, veio facilmente para os braços musculosos, beijou de forma lânguida e preguiçosa o queixo do marido e se aconchegou mais, fugindo do frio da manhã, até puxou o edredom macio até cobrir os dois até os ombros. 

— Eita porra! Nunca percebi que tu se achava desse jeito, brother! — brincou, aliviado por tudo estar voltando ao normal.

— Eu estava brincando. — esclareceu o músico, ficando sério e enrugando a testa.

Toni sorriu da reação tão compenetrada do marido, o puxou para mais perto, juntando bem os corpos.

— Eu também tava, mas agora falando sério, dá pra tu tirar a perna daí. Não seja um filho da puta,  — falou com grosseria, embora ainda de bom humor — Eu acabei de acordar e ainda tô de pau duro e claro também teve aquela parada de ontem, tu me deixou na mão, cara, e agora vem se esfregando em mim, isso é  sacanagem.

Samuel realmente recuou alguns centímetros, olhando o marido de perto por um momento e corou um pouco ao lembrar do ocorrido.

— Eu não estou me "esfregando", você fala como se... eu só estava te abraçando — defendeu-se, quase gaguejando, mas logo fechou os olhos e retomou o equilíbrio — Me desculpe, eu estava cansado, mesmo estando de folga, acho que é efeito do estresse.   Eu não tinha intenção de dormir, mas em minha defesa, deixe-me dizer, você é realmente bom com as mãos, sabia? — argumentou, num tom de justificar envergonhada, se referindo a massagem. 

— Não fica falando frase de duplo sentido se tu não vai fazer nada. — implicou de volta.

Samuel olhou nos olhos escuros e sonolentos do personal trainer por um segundo apenas, hesitou uma vez, pareceu pensar por um momento.

— Bem... estou acordado agora, não é?  — sugeriu, não completamente constrangido.

Toni ergueu uma sobrancelha, surpreso, seu corpo reagindo facilmente, mesmo quando sua mente ainda se recuperava da primeira impressão.

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