Cinquenta e três

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O som do celular tocando surgiu no meio da escuro do quarto e seguiu por um longo momento, antes de silenciar, mas já era tarde, estava acordado agora. Quando a música alta tocou novamente, seu marido resmungou, aborrecido e virou para o outro lado, puxando o edredom para cobrir a cabeça e Samuel sentou na cama, alcançou o aparelho e atendeu.

— Oi.

— Samuel, graças a Deus, eu achei que não ia atender. — cumprimentou-o a voz masculina e cheia de urgência.

— Oi, César? — questionou, confuso, esfregou os rosto numa tentativa de ser mais consciente.

Olhou rapidamente o relógio digital no móvel de cabeceira, os números vermelhos e brilhantes, marcavam 00:34. A hora avançada o fez franzir a testa, estranhando a ligação, especialmente do ex-marido do seu marido, quer dizer, não eram próximos ou algo meramente semelhante.

— Desculpe se eu demorei, estava dormindo... mas porque eu não atenderia? — peguntou, no mesmo instante pareceu hipócrita.

— Escuta, eu preciso que me escute com atenção. O pai do Camilo tá indo pra pensão, por causa da briga de hoje. — informou, ignorando sua pergunta.

Samuel sentiu o coração acelerar em sinal de alerta, precisou de um segundo para se organizar mentalmente, afastando totalmente o sono. No momento seguinte levantou da cama e foi até o roupeiro, mesmo no escuro pegou uma calça jeans e vestiu rapidamente, ignorando a dor desconfortável no joelho doente. Normalmente fazia uma alongamento antes de sair da cama, algo para aquecer a articulação antes de se entregar a rotina do dia, isso ajudava a minimizar o desconforto, mas nesse momento não tinha tempo para isso.

— Faz tempo que ele saiu daí? — perguntou de maneira objetiva, pegando um casaco moletom cinza e começando a vestir por cima da camiseta azul, afinal a noite estava fria.

— Uns dez minutos, eu nem sabia que ele estava aqui, o Lucas tá fazendo companhia pro Camilo e ele acabou de me avisar. Seu tivesse encontrado o Vagner eu teria impedido. — explicou, soando realmente tenso, isso era preocupante.

Tinha suas reservas em relação ao enfermeiro, no que se referia a vida pessoal, alguns acontecimentos foram pontuais e marcantes, como Ícaro e houve também um episódio mais antigo, sobre como encontrou o marido rolando na cama com o ex dele, isso foi chocante na época. No entanto, no que se refere ao profissional, César era impecável e tinha uma excelente postura e justamente por reconhecer isso é que toda aquela urgência e tensão na voz dele lhe preocupava.

Samuel pegou uma muda de roupa para o marido com pressa enquanto ouvia a explicação. Assimilando a nova informação antes de prosseguir.

— Você ligou para alguém na pensão? — perguntou, indo até a cama sacudir o ombro do homem deitado ali e conseguindo apenas um resmungo em resposta.

— Não tem ninguém lá pra avisar. A Magnólia já tá dormindo a essa hora e ela só ia ficar assustada e como eu disse o Lucas tá aqui no hospital comigo. — explicou.

— Eu entendo — concordou, sacudindo o ombro do personal trainer com mais força.

Toni gemeu alto como resposta, rabugento e rouco, mas finalmente abriu os olhos e Samuel mostrou as roupas balançando na frente do homem e as deixou no colo dele.

— Desculpa por essa loucura, mas eu te liguei porque vocês estão mais perto e tem mais chance de interceptar ele.

De fato, o hospital era no centro e levava cerca de 20 minutos de lá até a Pensão da Magnólia. Calculou rapidamente o quanto Vagner devia estar correndo, ele não demoraria tanto para chegar lá e isso era ruim.

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