Trinta e quatro

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"Como reconhecer os sinais do inicio de depressão", digitou lentamente, escolhendo as palavras que talvez lhe trouxessem algum resultado objetivo, em seguida clicou na lupa.

Uma lista de links e artigos surgiu na tela do smartphone, deslizou o dedo para cima e para baixo, sem saber ao certo se estava indo na direção correta.

O primeiro link o levou para um blog de psicologia, leu rapidamente o texto introdutório. O que realmente prendeu sua atenção foi a lista de sintomas a serem observados.

Talvez fosse leigo de mais no que dizia respeito a esse tema, os livros do seu pai não tinham muito sobre psicologia, o pouco que encontrou neles era uma noção básica aplicada a primeira infância. O fato é que apesar de reconhecer alguns sintomas daqueles presentes em Samuel, não parecia se encaixar no caso.

Dia após dia ele ficou quieto, de um jeito muito além do pensativo, apenas se entregou as dores da artrose, aos pesadelos constantes que o perturbavam durante a noite, no entanto ele já não chorava por eles, despertava agitado, imediatamente compreendendo o fato de se tratar de um sonho ruim, então se acalmava.

Em resumo, não havia mais desespero nos seus olhares, ou nenhuma tentativa declarada de fuga dos problemas. Se antes Samuel era dominado pelo medo, nos últimos dias isso havia se transformado em conformismo, ele estava visivelmente se entregando ao nada.

Era como se uma nuvem negra pairasse sobre sua cabeça.

Toni começou a buscar alternativas, mas aquelas pesquisas na internet não estavam ajudando muito. Um dos sintomas listados era alterações do apetite, com uma breve explicação sobre como certos indivíduos passam dias sem ingerir alimentos substanciais e outros passam a comer de mais. No entanto, Samuel não teve alteração, ele nunca comeu muito, isso sempre foi um problema e continuava sendo, pois ele permanecia no mesmo vício por café. Outro sintoma sugerido eram alterações de humor, mas definitivamente ele não estava apresentando isso, pois ele passava a maior parte do tempo no estúdio, tocando ou compondo, ou apenas ouvindo música, sempre com a mesma expressão vazia e distante, não ficava zangado, ou alegre, não falava nada. Não havia alteração alguma ali, talvez o momento de maior expressão eram nas madrugadas, quando acordava dos malditos pesadelos e assim que se livrava do medo ficava frustrado, também ficava mau humorado quando percebia que havia esquecido de comprar cigarros, mas em geral não demonstrada nada significativo.

Ao seu ver, ele não parecia ter nenhum dos outros sintomas, mas Toni não era psicólogo, não tinha como ter certeza sozinho, porém desconfiava que a Alexitimia estivesse camuflando todo o problema e talvez Samuel estivesse muito pior do que imaginava e apenas não estivesse externando isso. Tudo que sabia é que o marido estava introspectivo, de um jeito extremo e bizarro, quase como se definhasse em vida. Ele nem estava mais trabalhando, depois que conversaram sobre como Toni cuidaria da filha do casal dali em diante, ele pediu um afastamento e simplesmente parou.

Limpou a caixa de pesquisa e digitou "Alexitimia e depressão", mas a pesquisa resultou numa porção de arquivos em pdf para download, teses de mestrado e textos repletos de termos que não estava familiarizado.

— Porra! — xingou, frustrado, sem deixar de olhar a tela do smartphone. Uma coisa era ler blogs temáticos, outra totalmente diferente era decifrar termos técnicos de profissionais da saúde.

No fim da página havia sugestões de pesquisas relacionadas ao tema principal, a última se destacou ao seus olhos, talvez porque andava refletindo sobre isso.

"Como conviver com um alexitímico".

De imediato ficou indeciso, mas por fim seguiu o link e a pesquisa lhe trouxe uma lista de centenas de sites e blogs, acessou o primeiro, apenas por curiosidade. Anos atrás, logo que aceitou o fato de que teria que conquistar o coração de Samuel, havia feito pesquisas assim na internet, mas não havia tanta informação sobre o assunto.

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