Capítulo Vinte e Dois

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A campainha soou por toda a casa, por sorte Samuel havia deixado a porta do estúdio aberta e o som o alcançou também. Deixou as pastas e documentos em cima da mesa e foi atender.

Qual não foi sua surpresa ao se deparar com aquela cachoeira de cachos ruivos exuberantes, tão vívidos que precisou piscar os olhos para assimilar a presença inesperada.

— Oi professor. — cumprimentou a moça, de forma tímida e ajeitou o cabelo atrás da orelha.

— Ana... oi. Eu acho que não temos aula hoje. — falou lentamente, deixando o tom de dúvida apenas por educação.

Toda a semana estava livre, por tanto tinha certeza que não tinha nada marcado.

— Ah, eu sei, é que eu tava na casa de uma amiga aqui perto e só parei aqui pra dar um oizinho... — explicou, ruborizando e se atrapalhando com as mãos.

Samuel ergueu as sobrancelhas sem esconder a surpresa, indeciso sobre o que fazer.

— Eu agradeço a visita, mas estou organizando o estúdio e não vou poder te dar atenção agora.

— Eu posso ajudar! — prontificou-se tão rápido como um tiro de espingarda.

Samuel piscou rapidamente, se recuperando do susto. Não estava inclinado a interação social no momento, mas parecia errado não receber sua aluna. Sentia como se estivesse descontando nela seu conflito interno sobre a briga com Toni no carro e isso certamente era errado.

Acabou afastando para o lado, dando espaço para ela entrar.

A visita inesperada o deixou inquieto. Ana estava usando uma saia tão curta ao ponto de ficar constrangida. A primeira hora que passou separando partituras de música, estava tão vermelha quanto seus cabelos ruivos, embora Samuel não tenha dado a mínima atenção as pernas jovens expostas.

Não porque ele não tenha notado a roupa diferente, afinal Ana sempre usou calças jeans personalizadas, tinha um estilo próprio e outras vezes já havia contado que customizava as próprias roupas para ter autenticidade.

A medida que a falta de interesse do músico pelas pernas brancas e jovens ficou mais evidente, Ana deixou de ficar vermelha de vergonha o tempo todo. Mas as intenções da menina em vir ao seu estúdio sem hora marcada ficou muito claro desde o começo, talvez porque Samuel tenha finalmente aprendido algo depois de conviver tanto tempo com Carmem, a inquilina da pensão que de vez em quando ainda lhe dava algumas indiretas.

— Não, esses você pode deixar que eu organizo — determinou, pegando a pasta preta das mãos da menina.

— Mas eu posso fazer isso para o senhor sem problema — garantiu, muito solícita.

Samuel colocou a pasta de volta na mesa, puxou as mangas da camisa social para cima outra vez, pois estavam escorregando pelo braço.

— Não pode não, são documentos do projeto social.

Ana silenciosamente o questionou se isso deveria significar alguma coisa, mas como Samuel não deu atenção ao seu olhar curioso, acabou verbalizando a dúvida.

— E daí...?

O músico acabou sorrindo levemente, o que trouxe um rubor diferente as bochechas da menina.

— Quando digo "documentos" estou incluindo informações pessoais de alunos, dados contratuais, avaliações de desempenho, recomendações quanto a interrupção ou não do curso... são informações sigilosas, você não deve ter nenhum tipo de acesso. —  explicou pacientemente.

Ana abriu a boca num "ou" silencioso, erguendo as sobrancelhas.

— Tudo bem, então, o que eu faço agora?

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