Quando a exaltação momentânea finalmente passou, o moreno lhe beijou com carinho e reclamou porque o músico estava tomando café na hora do almoço. O levou para comer num restaurante. Toni estava sendo cuidadoso, afinal Samuel estava estressado e certamente as caras e bocas que Luz faria à mesa do almoço direcionadas exclusivamente ao irmão, não ajudaria.
O lugar servia comida caseira e barata, Toni adorava esse tipo de comida. Não foi necessariamente um almoço romântico, mas estavam só os dois, isso por si só já era um bom momento, quase raro, afinal moravam em uma pensão, estavam sempre rodeados de pessoas, quase o tempo todo. Acabaram aproveitando para falar de coisas práticas, como as finanças da família, os novos clientes que Toni havia conseguido como Personal Training, nesse ponto a conversa acabou rumando para termos menos financeiros e mais pessoal.
Entre uma conversa e outra, acabaram esquecendo a quase discussão, apenas almoçaram, voltados um para o outro, dividindo os sabores e dissabores das suas profissões, tão calmos e confortáveis como se era possível num restaurante popular lotado. Mas o tempo foi passando, junto com ele a bolha aquecida e amigável que os rodeava foi sumindo também, logo Toni teria que ir para a academia, isso estava cada vez mais presente entre os dois.
Eram como se tivessem pouco tempo para olhar um para o outro ultimamente, então assim que pararam outra vez na frente da casa da família Franco, Toni puxou Samuel num dos seus beijos possessivos, tirando o fôlego do mais velho, envolvendo-o de modo que o músico só poderia retribuir, meio tortos, meio apressados, ao mesmo tempo saudosos um do outro.
— Por que isso de repente? — questionou o músico, ainda de olhos fechado, assim que Toni liberou seus lábios.
— Tava me segurando desde o restaurante, tu não gosta muito de fazer isso na frente de todo mundo né?
Samuel não escondeu a surpresa quando abriu os olhos e percebeu Toni ainda a centímetros do seu rosto, com aquele olhar carinhoso para sua boca.
— Desculpa, eu não percebi...
Respirou fundo assim que os dedos alheios vieram se afundando nos seus fios loiros meio grisalhos.
— É porque tu é um cabeça de vento... sempre foi — rebateu. Divertido.
Não demoraram muito entre beijos suaves e toques inocentes, logo se despediram.
A primeira aula, começou as três e dez, era um aluno que estavam começando a aprender a tocar bateria, um dos instrumentos mais difíceis na sua opinião como professor. Alexandre tinha quatorze anos, era magrelo, tinha olheiras, um sorriso espontâneo, ligado numa tomada de duzentos e vinte volts. Sempre comparecia as aulas acompanhado de dois colegas, que assistiam tudo de forma passiva, revirando os olhos cada vez que ele interrompia lição para dizer algum absurdo que lhe rondava a mente.
Seu aluno fazia mais barulho do que música sempre que chegava perto da bateria, as aulas eram sempre divertidas, porque ele batucava ferozmente no instrumento, gritando coisas ininteligíveis. Quando Samuel o interrompia e tentava colocar ordem na aula, ouvia coisas como, "Não embaça tio, isso é rock.
A segunda aula, começou tarde, sua aluna chegou atrasada e esbaforida, pediu um milhão de desculpa, completamente vermelha de vergonha. Havia começado a pouco tempo, tinha quatorze anos e estava tentando aprender a tocar violão.
A música era extremamente lenta, perfeita para aprendizes tão inexperientes.
— Quer tentar outra vez? — retornou assim que finalizou a música, espalmando a mão na corda do violão.
A menina rapidamente se ajeitou no sofá, cruzando as pernas e apoiando o violão da melhor forma possível. Mas ainda deu uma última olhada nervosa para o professor.
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Segredo de Família
RomanceOito anos se passaram, Samuel, Toni e Luz acabaram formando uma família como qualquer outra. A menina que antes idolatrava o irmão mais velho se revolta, no auge da adolescência, quando Samuel se recusa a falar sobre, Mauro, o pai biológico da irmã...