Cinquenta e seis

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Aviso: este capítulo contém cenas fortes que podem acionar gatilhos psicológicos.
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Luz subiu as escadas carregando a própria bagagem, porque infelizmente Samuel não tinha condições de fazer isso por ela.

O som dos passos lentos e da bengala não eram altos, mas era o único barulho que quebrava o silêncio. Chegaram ao pequeno espaço de entrada do primeiro andar e na parede logo a frente haviam quadros com fotografias da família em molduras de madeira que se destacavam na parede branca. Nas fotos os rostos sorridentes e estáticos, mostravam dias felizes que pareciam ter acontecido séculos atrás.

No final do corredor havia uma janela enorme e lá fora estava escuro, mas era possível ver as luzes dos postes da rua de trás, o céu noturno estava escuro e sem estrelas. Tinha uma pequena mesa de madeira na frente da janela e duas cadeiras. Aquele era o lado norte da casa, então a luz do sol não batia diretamente naquela janela, mas mesmo assim, à luz do dia, era um lugar que trazia muita tranquilidade.

Samuel caminhou na frente, ajeitando o molho de chaves na mão, passou na frente da porta do próprio quarto e parou na próxima, verificando as chaves com mais atenção. Fazia tanto tempo que não destrancava qualquer outro quarto, que mal lembrava qual era a chave correta.

Luz parou logo as suas costas observando com olhos lânguidos a enorme janela no fim do corredor largo.

— Você pode estudar ali se precisar, pode deixar seu material na mesa, raramente vamos até essa janela. É o lugar mais calmo da casa. — ofereceu Samuel, abrindo a porta e indicando que a menina entrasse e ela prontamente obedeceu.

O quarto era espaçoso, mas extremamente simples e sem detalhes marcantes. Tinha uma cama de casal, a cabeceira dupla era branca. O teto tinha quatro luminárias brancas e fracas, que distribuíam a iluminação pelo ambiente de modo uniforme e confortável aos olhos. O roupeiro, era branco como a cabeceira da cama e seguia os mesmo estilo minimalista, como se fizessem parte do mesmo conjunto de móveis.

— É uma suíte, então você tem seu próprio banheiro. O roupeiro está totalmente vazo então você pode guardar suas coisas, vou pegar lençóis para você.

Dizendo isso se afastou, foi até o próprio quarto, abriu as portas do roupeiro monocromático e pegou lençois e fronhas. Quando retornou ao quarto ao lado, Luz estava com a mala aberta em cima da cama, de onde tirava as roupas e as dobrava antes de colocar na pilha ao lado. Assim que entrou ela diminuiu o ritmo da tarefa, os movimentos se tornaram extremamente lentos a medida que se aproximava. Seus passos não eram muito ágeis, pois se apoiava na bengala com a mão esquerda e carregava a pilha de roupas de cama no braço direito.

Quando alcançou a cama ela já havia parado o que estava fazendo com uma camiseta rosa claro embolada nas mãos. Por tanto, Samuel colocou os lençóis no colchão, perto da mala e tentou não dar importância ao acanhamento da irmã, mesmo que este fosse notável a distância, especialmente quando ela apenas olhava a camiseta que devia estar dobrando e evitava lhe encarar de frente.

— Eu vou olhar as panelas, — anunciou, tentando parecer tranquilo, embora também sentisse os efeitos do clima cheio de incerteza que os rodeava — jantamos daqui a pouco, então... não demore muito.

Luz acenou afirmativamente e o coque improvisado se soltou e os fios loiros e arrepiados caíram para trás de forma desengonçada. Imediatamente ela os puxou para cima outra vez e começou rodar e torcer para formar outro coque e isso fez Samuel sorrir discretamente. Quer dizer, era tão óbvio que ela tentava encontrar qualquer coisa para fazer com as mãos apenas para se manter ocupada, ela não ia olhar nos seus olhos tão cedo.

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