Capítulo Sete

2.6K 284 115
                                    

Embora Toni por muitas vezes, tenha mostrado impaciência com certos aspectos de viver com um professor como Samuel, na maior parte das vezes, era apenas o ciúme falando mais alto.

Por isso mesmo, não foi surpresa nenhuma quando o mais novo veio lhe buscar no fim da tarde e obviamente encrencou com a cartinha que estava em cima da sua mesa, no estúdio.

- Teve aula com a ruivinha de novo? - questionou, pegando o bilhete cheio de coraçõezinhos com desdém.

Samuel suspirou, meio cansado só em lembrar da aula extensa e puxada.

- Sim, acho que estou fazendo progressos com a Ana, apesar de serem passos bem lentos - mas mal terminou de falar e Toni foi atropelando sua fala.

- Ah qual é amor? Sério isso aqui? Ela tá dizendo que sonhou contigo, tu devia dar um toco nessa garota antes que sobre para ti parceiro - comentou, meio aborrecido.

- Isso teria consequências desastrosas - argumentou tranquilamente, pegando o papel das mãos do marido calmamente e colocando de volta no meio das suas coisas.

- Aí tu vai ficar aguentando isso?! Sério Samy! A garota tá te mandando bilhetinho há um tempão! Isso é quase assédio sabia?!

Samuel acabou sorrindo um pouco da irritação do outro, era ridículo que seu marido sentisse tanto ciúme de uma adolescente, sua aluna.

- Faz parte da profissão lidar diretamente com a admiração deles...

- Admiração o caralho! - interrompeu, impaciente, mas ainda levando a conversa de forma leviana, tentando inutilmente não se incomodar.

- É preciso ter "jogo de cintura". Ela não é a primeira e nem será última aluna minha me dar cartinhas. Uma vez eu tive um aluno que me dava um chocolate por dia, tinha onze anos. É mais comum do que parece, não só meninas, mas meninos também. Além disso não posso simplesmente "dar o toco"... a adolescência é uma fase complicada, qualquer palavra mal colocada pode acabar gerando efeitos negativos nela.

Toni cruzou os braços, sem nem ao menos perceber que estava na defensiva, Samuel se divertia secretamente quando o desarmava assim, com argumentos. Por mais que os anos tenham passado e o mais novo tenha amadurecido, ele ainda era impaciente e raivoso, geralmente tentava impor suas vontades na marra.

- Tu já parou para pensar que um desses "efeitos negativos" vai acontecer se o pai dessa garota ao menos sonhar com uma cartinha dessas? - contra-argumentou, tratando do assunto com mais seriedade agora.

Samuel suspirou pesado.

Honestamente, acho que ele não acompanham a rotina escolar dela, está mais preocupados em provar para o familiares que se preocupam que esquece de se preocupar de verdade.

Toni continuou emburrado, sentou na cadeira almofadada um tanto largado, tentando realmente não se importar.

- As vezes nessa idade, eles podem não separar a imagem do professor que se comunica com eles abertamente, digamos "no mesmo nível", da imagem do homem em si. Você não precisa ficar tão preocupado por causa disso. Mas se isso acontecer, eu vou saber lidar com eles, assim como sei lidar com ela. Eu não dou aberturas para intimidades, esse deslumbramento dela vai passar.

A conversa foi se prolongando um pouco sobre o tema, rumando para um tom menos pessoal a medida que Toni ia se distraindo da irritação inicial.

Durante o trajeto até a academia, estavam debatendo sobre os desafios da paternidade nos dias atuais, com tantas influencias externas.

Samuel acabou mostrando um profundo conhecimento sobre o tema, já que lidava diretamente com adolescentes. Ironicamente, conhecimento nenhum parecia ser o suficiente para lidar com sua própria filha adolescente.

Segredo de FamíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora