Deu duas batidas suaves na porta, só entrou depois de ouvir um "entra".
Clara, estava sentada na cama, confortavelmente encostada em travesseiros macios na cabeceira. Certamente estava muito mais à vontade do que na maternidade. Afinal aquele era seu quarto, suas roupas, suas coisas, sua casa, seus familiares. A mulher sorriu com toda sua delicadeza cansada assim que o viu.— Oi — falou a moça, com um sorriso bonito no rosto.
O músico acabou sorrindo em meio a sua apreensão, foi se aproximando da cama, enfiou as mãos nos bolsos.
— E como estão os dois pequeninos? — questionou sorrindo com suavidade.
— Eles são fortes, você precisava ouvir os coraçõezinhos deles. Estão me dando um trabalho danado, esses meninos... Mas são meus amores, já sou apaixonada por eles.
Nesse momento ela se emocionou outra vez, pensando nos filhos que ainda iam nascer, Samuel ficou quieto, respeitando seu momento frágil, mas logo respirou fundo, buscou forças em algum lugar em si mesma e sorriu, mesmo que fosse um sorriso trêmulo.
— As meninas deram muito trabalho?
— Na verdade não, elas acabaram ajudando a Luz a fazer as tarefas de casa, você sabe que ela detesta e sempre reclama, parece que o mundo está sempre acabando quando ela tem que...
Se escorou na parede, de frente para cama e à medida que foi contando, que Toni precisou limpar toda a água do chão da cozinha depois as três lavaram a louça da janta, Clara foi sorrindo, realmente divertida, alegrando-se um pouco.
— Pois fique sabendo que a sua filha e eu somos iguais nesse aspecto. Eu até faço as coisas da casa, desde que fique bem longe da cozinha! Já perdi as contas de quantas vezes me queimei tentando fazer alguma coisa comestível!
— Não é tão difícil assim!
Clara revirou os olhos sorrindo mais.
— Você só fala isso porque é um excelente "dono de casa". Aliás saiba que você daria um mordomo perfeito. Se um dia resolver mudar de carreira, estou aberta a propostas!
Os dois sorriram mais relaxados.
Conversaram por alguns momentos, aos poucos Clara estava se acalmando da aventura dos últimos dias na maternidade pública. A conversa tranquila foi se estendendo. Até que ela pousou a mão sobre a barriga, com um sorriso mínimo, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas outra vez.
— Tudo bem? Está sentindo alguma coisa?
— Sim... — mas sua voz sumiu num susto.
— Quer que eu chame o César?
Samuel permanecia calmo, embora estivesse atento a tudo, observando a falta de desespero na mulher, deduziu que fosse o que fosse não era algo ruim.
— Não precisa! Vem cá! Rápido! — chamou-o alegremente, apressando-o com as mãos agitadas no ar, se esticando para alcança-lo logo.
Samuel sorriu intrigado e obedeceu, foi até a cama e deu a mão a Clara, que prontamente o puxou, fazendo-o cair sentado na cama, com a mão espalmada na sua barriga. Não demorou muito para sentir aquele movimento repentino contra sua pele, vindo de algum lugar no interior daquela barrigona, foi rápido, mas forte e muito perceptível.
Samuel ergueu as sobrancelhas, incapaz de esconder a surpresa, Clara lhe sorriu com doçura, com um daquele sorrisos que só mãe sabe mostrar. A mulher levantou a blusa, exibindo a pele esticada, dessa vez colocou ambas as mãos do músico no seu ventre. Por puro instinto Samuel quis puxar as mãos de volta, mas segurou seu impulso inicial.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segredo de Família
RomanceOito anos se passaram, Samuel, Toni e Luz acabaram formando uma família como qualquer outra. A menina que antes idolatrava o irmão mais velho se revolta, no auge da adolescência, quando Samuel se recusa a falar sobre, Mauro, o pai biológico da irmã...