Capítulo 2

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TESSA

passado

— o que é isso? — meu pai socou a minha porta avançando sobre mim e me assustei agarrando o lençol — o que tem de errado com você garota? — agarrou o meu braço me olhando nos olhos enquanto eu não respirava, conseguia ouvir o meu coração bater nos meus ouvidos.

— pai eu sinto muito — me assustei com o barulho que ouvi em seguida ate me dar conta de que o tapa acertou o meu rosto, chorei em silencio me encolhendo na cama e senti ele se afastar de mim.

— todo nosso esforço não vale de nada pra você, eu estava de joelhos no altar orando pela nossa família e você estava se deitando com o seu namorado como se fosse uma vagabunda — foi um dos dias que eu me senti mais humilhada na vida enquanto ouvia palavras duras do meu próprio pai e não pude nem me cobrir me sentindo ainda mais exposta.

— a gente se ama pai — choraminguei me sentindo fraca e ele me olhou e depois olhou pro Jimmy que estava de cabeça baixa no canto do quarto — Jimmy? — esperei que ele me defendesse, mas nada aconteceu.

— eu sinto muito senhor e senhora Cooper, eu me deixei levar pela situação — pensei não ter ouvido essas palavras do garoto que eu amava — eu acho melhor tudo isso acabar Tessa, olha o que a gente acabou de fazer — levantou a cabeça e estava chorando, como se estivesse arrependido.

— saia da minha casa — minha mãe finalmente disse alguma coisa e Jimmy se apressou a pegar o tênis e a camisa antes de virar as costas pra mim. no fim eu estaria sozinha.

— eu te avisei que suas ações teriam consequências — meu pai não me olhou e saiu do quarto.

— mãe por favor — chorei, tentando de alguma maneira implorar e ela segurou o seu terço enquanto parava ao lado da minha cômoda.

— é pro seu bem Tessa, você precisa aprender que tudo de errado que fazemos em vida devemos pedir perdão, e merecer perdão — meu pai entrou no quarto carregando seu livro nas mãos e a corda na outra, fechei os olhos quando ele parou na minha frente e começou a ler um verso sobre o pecado da carne. eu não chorei, não me mexi, só encarei a minha cômoda cor de rosa com borboletas enquanto o meu pai chicoteava as minhas costas, e vez ou outra me causava um corte. apertei os dedos no lençol que cobria os meus peitos e torci os dedos dos pés, tudo isso já vai acabar era o que eu pensava, enquanto tentava me convencer de que eu não merecia nada disso. eles saíram do meu quarto me deixando sozinha ainda estática no colchão, alguns minutos depois eu consegui me mexer e fui ate o meu banheiro e enchi a banheira com agua quente, e mesmo sem esperar que a agua esfriasse eu entrei nela e me deitei ficando submersa, e então eu gritei. e isso era tudo que eu podia fazer.

na ultima semana de aula me vestia para mais um dia, antes de passar o suéter pelos braços olhei as minhas costas no espelho, cada cicatriz já tinha se perdido sobre a outra como se elas estivessem acostumadas a estarem ali, joguei a mochila no ombro e só peguei uma maça saindo antes que os meus pais acordassem. eu soube que havia algo errado assim que passei em frente ao casebre onde os adolescentes ficavam juntos antes das aulas, mas chegando na minha sala eu tive a confirmação quando li a palavra "puta" escrita na minha mesa, e então algo que eu não pensei na semana passada passou pela minha cabeça. Jimmy seria capaz de contar algo tão intimo nosso? passei todo o horário de aula querendo fugir daqui mas continuei no meu lugar e escondi aquela palavra com o meu caderno. quando o sinal tocou eu praticamente corri ate a mesa de Jimmy, e ele estava lá com os seus amigos.

— a gente pode conversar? — perguntei nervosa já que tínhamos terminado depois daquele dia e não nos falamos mais.

— e ai Tessa — seu amigo me olhou com malicia e chupou a colher na sua comida sugestivamente enquanto ria.

— Jimmy? — chamei sentindo meus olhos marejarem e ele me olhou dando os ombros e indiferente a minha presença.

— não podemos, já acabou, tenta seguir a sua vida — piscou os olhos fingindo ser um garoto gentil e eu dei um passo pra trás, ele voltou a olhar para os amigos dele me deixando falando com as suas costas e eu engoli as lagrimas me virando pra ir embora.

— que roupa é essa? hoje esta fazendo uns 35 graus — ouvi seu amigo dizendo mas andei sem parar ate empurrar a porta da saída e voltei a respirar enquanto corria pelo jardim, e corri ate em casa. durante o almoço com os meus pais eu fingi que estava tudo bem, não nos falamos e tudo que eu ouvia era o barulho dos garfos.

— vai se trocar, vamos a missa de hoje — meu pai disse seco e frio.

— eu queria ficar em casa hoje e estudar — minha mãe me olhou com julgamento.

— agora Tessa, me obedeça — não falei mais nada e sai da mesa em silencio, prendi os cabelos, coloquei um vestido longo com casaco e voltei pra sala esperando que desse 20:00 horas. todo sentimento ruim voltou a me inundar quando recebi os olharem das pessoas na igreja, me separei dos meus pais indo sentar no banco com os adolescentes e fiquei aliviada vendo o banco ao lado de Cindy vazio.

— que bom que você esta aqui — me sentei ao seu lado sorrindo e não entendi quando ela nem me olhou e continuou a assistir o coral cantando — Cindy? — chamei e ela piscou me ignorando.

— eu não quero ser vista falando com você, ou os meus pais pensaram besteiras — foi tudo o que ela disse e eu olhei em volta e todos me olhavam com julgamento — Jimmy andou falando muitas coisas sobre você.

— como é? nós não fizemos nada — abracei o meu próprio corpo sentindo o ar esvair dos meus pulmões.

— você sabe que é uma cidade pequena Tessa, me desculpa — se levantou me deixando sozinha, e foi quase impossível ficar ali completamente exposta e julgada por ações que não foram só minhas, mas eu aguentei ate o final e segurei o choro. a oração que eu fiz esse dia antes de dormir foi diferente de todas as outras.

por favor Deus, se o senhor existe mesmo me leve para longe desse lugar horrível.

"Meus parabéns! você foi aceita em Yale com nota máxima, seja bem vinda."

Meu pecado - amores improváveis #3Onde histórias criam vida. Descubra agora