Capítulo 26

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TESSA

Acordei mais feliz que o meu normal hoje, e parece que as meninas perceberam já que me encaravam na cozinha como se eu fosse um polvo de duas patas enquanto colocava cere al em um pote azul com várias girassóis desenhadas, fingi não perceber os olhos de gavião nas minhas costas e guardei o leite na geladeira assobiando e me encostei no armário comendo meu cereal de chocolate.

— perguntem de uma vez — finalmente olhei pra elas e revirei os olhos cruzando os braços.

— o que foi que vocês fizeram ontem? sua pele tá muito boa — Heather falou com uma cara de quem suspeitava dos meus últimos passos.

— nada do que vocês estão imaginando, só saímos e nos beijamos algumas vezes — não precisava esconder os jogos delas, já que são as únicas e melhores pessoas que eu tenho pra compartilhar qualquer coisa — na verdade, eu acho que nós vamos transar — me aproximei mais delas quase me deitando na bancada da cozinha e arregalaram os olhos soltando gritinhos que doeu meu ouvido.

— quantos capítulos dessa história eu perdi? — Casey perguntou ainda de olhos arregalados — desculpa pelo choque, vai fundo amiga — segurou meus ombros me chacoalhando e gargalhamos juntas.

— o que vocês fizeram ontem então em? — Heather bateu o quadril no meu cheia de malícia.

— só nos beijamos — remexo o cereal com a colher — e ele disse que eu sou linda, e gostosa — segurei um sorrisinho e elas gritaram pulando pela cozinha.

— bom sabemos que o Bryce não é cego então, vamos descobrir se é tão bom na ação quanto no papo — Heather comemorou batendo palminhas.

— mas, o mais importante — Casey anunciou como se fosse o rei proclamando e ficamos em silêncio prestando atenção — você reconhecer que é gostosa Tessa Cooper, por que você é, e você sabendo que é linda e se amando por isso ninguém vai poder te diminuir nunca — me olhou e Heather concordava enquanto eu prestava realmente atenção — nenhuma garota pode ser melhor que você, então não deixe isso te atingir nunca, eu sei bem o que garotas apaixonadas podem fazer — concordei e ela sorriu me abraçando — nosso anjinho está saindo da jaula — parecia uma mãe orgulhosa da filha.

— só cuida desse coração tá? Ele é bonito demais pra acabar machucado — Heather disse enquanto passava os braços pelos meus ombros e nos abraçamos as três — amo vocês.

— amo vocês — dissemos juntas arrancando risadas de todas nós.

Chegando na redação do campus eu atravessei a porta azul carregando minha mochila e vi Marta na sua mesa e Vincent na sua sala trabalhando, me sentei despreocupada na minha mesa e antes que eu ligasse meu computador Vincent apareceu na minha mesa soltando fumaça pelo nariz e doido pra me esgoelar.

— Cooper, eu não sei o que você está pensando, se somos uma brincadeira pra você eu se sente melhor por namorar a estrela de New Haven, mas o seu prazo pra entregar a matéria sobre feminismo está por um tris de esgotar e eu ainda não vi um rascunho se quer, e pra você não deve ser tão difícil escrever sobre uma simples masturbação feminina — ele gritou pra quem quisesse ouvir e passei os olhos por Marta que me olhava passando algum tipo de força e senti que minha voz foi roubada por um duende, e todo meu corpo esquentou pela vergonha de ser chamada atenção pelo meu trabalho de uma forma tão cruel.

— Eu tenho um rascunho, mas eu queria terminar tudo antes que você lesse — ele gargalhou debochando de mim e colocou as duas mãos na minha mesa se aproximando.

— quem você pensa que é pra achar que algo vai ser publicado sem que eu leia, sou o dire
tor desse lugar, você se acha melhor que alguém nessa sala pra sua matéria passar sem ser avaliada? — olhei indignada para o garoto na minha frente, que poderia facilmente ser confundido com um garoto gentil, o que Vincent tinha de bonito por fora tinha de feio por dentro.

— claro que não, eu nunca publicaria sem você aprovar, eu tenho um rascunho antigo aqui no meu computador você pode ler se quiser — tirei o notebook da mochila tremendo e abri correndo procurando meu word sob o olhar acusador dele.

— trás na minha sala — me deu as costas e eu segui ele me sentindo insegura com o que eu tinha escrito, não era nada perto do que eu queria publicar. Deixei que ele lesse tudo enquanto mordiscava o canto da boca nervosa e sua reação foi rir e cruzar os braços em cima da mesa.

— vai em frente, mas eu já te adianto que ninguém vai querer ler essa coluna sem graça — encarei ele sem entender.

— sem graça? eu tô escrevendo sobre coisas reais, as pessoas vão gostar — disse isso só pra não perder a discussão, mas eu não tinha certeza disso nenhum pouco.

— tudo bem então, se os números diminuírem é você que vai vai perder esse estágio, fala sério as pessoas querem ler uma coisa mais quente, orgasmos em lugares públicos, vibradores cor de rosa — começou a divagar e devolver meu computador já sem se importar com a minha presença então eu aproveitei pra sair o mais rápido possível e voltar pra minha mesa.

— ei — ouvi um sussurro e levantei a cabeça encontrando Marta me olhando e ela piscou — não liga pra ele tá legal? se quiser sair um pouco eu te dou cobertura —  sorri agradecendo e peguei todas as minhas coisas saindo daquela sala que parecia mais quente que o inferno, tudo bem Tessa não precisa chorar, só senta essa bunda em algum lugar e escreve logo. Entrando na biblioteca ficava cada vez mais decepcionada a cada mesa que eu encontrava e estava ocupada, nem mesmo minha mesa mais escondida estava vazia.

— qual é — suspirei derrotada e marchei até a última divisão da biblioteca e me sentei no chão entre duas estantes, cruzei as pernas tirando meu computador da mochila e liguei ele no chão deixando minha bolsa de lado — vamos lá — comecei a escrever do início, do meu inicio, de como é não conhecer o próprio corpo e ter medo de descobrir, ou vergonha. mas o que fazer quando o medo se junta com a vontade? e o que fazer quando essa vontade parece tão errada? sinceramente eu acho que a resposta certa nem existe, mas a resposta que eu encontrei pra mim foi "faz o que você quiser com medo mesmo, é assim que nós sempre descobrimos algo bom na vida, esporrando coragem e um pouco de ousadia".

Meu pecado - amores improváveis #3Onde histórias criam vida. Descubra agora