Capítulo 3

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6 meses depois - Brasil.

Pov' Macau. 

O calor cortante do Rio de janeiro colocava o calor quente da Tailândia no chinelo. Eu estou a cinco passos de desmaiar de calor com essas roupas pretas e grossas, feitas para serem usadas em países frios, mas mantenho a postura para que meu superior não se preocupe comigo.

— Por que nossa equipe não foi designada para trabalhar nas fronteiras do Sul? — Harowd questionou.

— Porque por lá não entra o que nós queremos. Aqui na favela é um dos lugares mais fáceis para sumir com alguém sem deixar rastros — eu respondo impaciente, já que Harowd me perguntou aquilo quinhentas vezes.

Ele é um cara legal, mas nem se compara com John. Depois dos tiros que John levou por mim ele teve que ficar em repouso absoluto, então, pelos próximos meses Harowd é meu parceiro.

Estamos bem próximos de acabar com a rede de tráfico humano de uma vez por todas, mas, quando maior o peixe, maior o perigo. Eu estou quase no topo dessa pirâmide, e vou fazer de tudo para terminar com isso de uma vez por todas, inclusive me enfiar em um cassino cheio de pessoas loucas para trocar tiro.

— Vê se não faz merda de novo Coreano — um idiota do grupo falou quando a gente estava perto de entrar.

— *É Tailandês, idiota* — eu pensei, mas não falei em voz alta porquê não queria que outras pessoas soubessem da minha vida.

Olhei para meu braço que foi baleado no dia da operação na casa de Marie e senti um calafrio em meu corpo, depois daquele dia eu me obriguei de uma vez por todas a esquecer Chay. Eu realmente queria morrer no início, mas queria morrer com honra, em uma batalha épica. No entanto, quando aquela bala me acertou, eu percebi que na verdade só queria esquecer essa paixão doentia.

Decidi que estava na hora de ficar com alguém. FICAR DE VERDADE. Desde quando sai da Tailândia eu fiquei com pessoas apenas pelo trabalho. Eu ainda tinha em minha mente a lembrança da noite anterior ao pedido de casamento de Chay, quando nós dormimos juntos sob o céu estrelado. A sensação da pele macia do meu pequeno Porchay ainda estava em meus dedos, fazendo eu suspirar durante todos esses anos.

— Está na hora de esquecer — sussurrei e engatilhei minha arma.

Uma semana depois - Mongólia.

Sair de um país que pegava fogo no chão para um com o frio abaixo de -20 foi a coisa mais bizarra que eu já fiz. Meu corpo parecia estar sofrendo uma convulsão do tanto que tremia, mas meu chefe não parecia ligar, porque continuava falando e falando.

— Noventa por cento do nosso plano já está concluído, agora chegamos aos cabeças da pirâmide. Tenham em mente que essa tarefa vai necessitar de duas coisas: habilidade de manipulação e precisão física. Não estamos lidando com amadores... Eles são profissionais e não vão hesitar em esmagar vocês. Pra essa missão eu quero  chefe da equipe 1 e chefe da equipe 5, se apresentem.

Quando ouvi que eu estava escalado para a última missão fiquei em êxtase, pois, estava precisando de uma coisa mais 'punk para relaxar. Meu coração acelerou e o ar fugiu dos meus pulmões por alguns segundos, e eu não entendi porque. Meu chefe me chamou novamente e me tirou do transe. Eu caminhei como pude até a meu chefe e parei ao lado dele ao mesmo tempo que meu celular tocou.

— Desculpe, preciso atender — falei para ele quando vi que era Kamol quem estava ligando.

— Hey, Phī̀ chāy (pronuncia de irmão mais velho em tailandês)

— N̂ong chāy (pronuncia irmãozinho em Tailandês), tenho uma notícia ruim para te dar, você pode falar agora?

— O que aconteceu? — perguntei preocupado, sabendo que aquela sensação estranha a alguns segundos atrás não era atoa.

— N'Syn está em coma.

Meu mundo parou de repente por alguns segundos e eu quase caí. Syn era o sobrinho que eu mais amava e tinha carinho. Por mais que eu estivesse longe tempo o suficiente para que ele não sentisse mais minha falta, eu estava sempre a par de sua  vida, e sempre torcia para que ele fosse feliz, colocando seu pequeno nome em minhas orações.

— N̂ong chāy, você está aí?

— Hum. O que houve com ele? Qual seu estado? Tem previsão de quando vai acordar? — as perguntas saiam desesperadas da minha boca.

— Infelizmente, não. Sinto muito, Macau... Preciso desligar, Vegas está a caminho. Eu vou ligar novamente quando tiver notícias, amo você.

— Também te amo amo, Phi.

Eu desliguei o celular e corri até meu chefe, avisando-o que não poderia fazer parte daquela operação. Eu tinha que estar ao lado do meu sobrinho, tinha que vê-lo mais uma vez antes... Antes... Respirei fundo e fechei os olhos para não chorar, tentando não pensar no pior.

— Você não vai a lugar algum! — foi a resposta dele — se John estivesse aqui ele poderia te substituir, aliás, essa missão era pra ser dele e você ficar apenas com último chefe, mas você fodeu tudo desmaiando, então, você fica!

Eu não tinha obrigação nenhuma de ficar, até porque eu era um 'fantasma entre eles, mas, eu cometi um erro que tirou a glória das mãos do meu amigo e, eu faria de tudo para que seu nome não ficasse sujo. Decidi ficar, e fazer tudo o mais rápido possível para poder partir. Só não esperava que durasse longos dez dias.

Seul - Coreia
Dez dias depois

No avião eu só conseguia pensar em como fui idiota por ter me afastado da minha família por causa de Chay. O pior é que eu nem posso culpa-lo, já que o único a se iludir fui eu.

Quando meus pés tocaram o chão de Seul, eu senti que um novo ciclo se iniciava na minha vida. Mesmo que eu ainda tivesse que trabalhar para a NSA e para o FBI, parecia que algo ia ser diferente, eu só não sabia dizer o que.

Liguei para John e contei que passei meus negócios que eu tinha na América do Sul para o comando dele - Eu ainda vou receber dinheiro, mas John vai administrar tudo já que ele não pode mais voltar aos combates tão cedo - ele ficou feliz com a notícia e me garantiu que tudo continuaria perfeitamente bem e próspero como já estava.

Um carro blindado parou ao meu lado e por instinto eu saquei minha arma, mas quando olhei quem estava dirigindo a guardei e respirei fundo.

— P' Kimmmm — gritei animado quando vi a 'esposa de Kamol. 

— Bem vindo, meu pequenino.

— Eu estou grande e forte agora, não sou mais um bebê chorão.

— Pra mim, você sempre vai ser meu bebê, assim como meus filhos.

Eu sorri de verdade pela primeira vez em muitos anos e abracei Kim. O marido de Kamol era a pessoa mais doce do mundo depois de Pete e, eu o amava como se ele tivesse meu sangue

Entramos dentro do carro e seguimos para a casa dos Wongsavanischakorn's que ficava a poucos km's dali. Quando cheguei me deparei com um Vegas totalmente diferente do que eu conhecia; ele estava mais protetor e mais caloroso e, exceto pelo tapa que ele deu em meu rosto, eu só recebi amor da parte dele.

Estava emocionado demais por estar voltando para minha família e quando o pequeno Dao encostou seu nariz fofinho no meu, eu não consegui conter as lágrimas por mais tempo. Aquela criança tomou meu coração como o pai dele havia tomado a anos atrás e, eu sabia que meu mundo a partir dali seria dele.

Eu já não sentia mais vontade de me arriscar por qualquer coisa e, queria viver mais do que nunca para assistir a pequena estrela crescendo forte e feliz.

Dormi com a cabeça apoiada nas pernas de Vegas, enquanto ele segurava em seus braços o pequeno Dao. Senti meu coração bater mais rápido por alguns segundos antes que eu me acalmasse totalmente e meus olhos se fechassem por vontade própria. Agora, só faltava Syn melhorar para meu mundo estar completo.

Macau e Tay - Especial MDBOnde histórias criam vida. Descubra agora