9. Acho que mereço um beijo

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"Lanchonete" era mesmo um nome apropriado. O pâtissier não tinha exagerado: o lugar parecia mesmo ter saído direto de um filme retrô, com pisos quadriculados em preto e branco, uma jukebox que funcionava de verdade e garçonetes deslizando de um lado para o outro com copos enormes de milkshake, batatas fritas e hambúrgueres.

Honestamente, Minho esperava ser chamado para qualquer lugar: um bar, um pub, uma loja de conveniência ou um trailer de rua duvidoso, mas parar em um lugar como aqueles era totalmente inusitado. Talvez depois de certa idade a falsa convicção de que não era possível se divertir sem álcool viesse de forma natural, o que era até um pouco triste e igualmente cômico.

De qualquer forma, uma coisa era verdade: Felix já estava começando a se tornar a pessoa mais diferente que Lee Know tinha conhecido nos últimos tempos.

Acabaram sentando-se em um dos pequenos sofá-mesa no fundo do lugar e o mais novo não se fez de rogado ao ocupar em espaço ao lado do outro ao invés daquele em sua frente.

— Como você encontrou aqui? Estou com medo de trombar com o John Travolta fazendo uma dança ridícula a qualquer minuto.

— Lá no banheiro tem uma foto dele enorme na parede, não se assuste — Felix disse rindo, achando tudo divertido. — É um dos únicos lugares que fica aberto depois da meia-noite. Eu encontrei depois de sair do trabalho no meu antigo restaurante, que fica a alguns quarteirões daqui. E eles realmente fazem um milkshake incrível, palavra de chef — ergueu a palma da mão.

— Eu acredito em você, Felix — depois daquela tortinha, não duvidaria em nada de qualquer tipo de julgamento do loiro quando o assunto fosse doces e afins.

— Então... — puxou o cardápio e deu uma olhada rápida. — Quer dividir? É bem grande. Tem algum sabor que gosta mais?

Minho deu uma olhada para o outro. O loiro era pequenino e esguio e tinha uma carinha de quem se já fartaria com duas uvas e meia, quem diria beber um copo inteiro de milkshake.

— Claro. Pode escolher, você é o expert.

— Uau, quanta moral — o riso fora baixo e ele ergueu os dedos para a primeira garçonete que avistou, fazendo o pedido sem nem ficar na dúvida. Fechou o cardápio e virou-se na direção do outro. — E então, Minho. Você trabalha no Me-Waw faz muito tempo? — apoiou o rosto na mão fechada, mantendo o cotovelo sobre a mesa.

— Não muito, tem pouco mais de um ano. Eu trabalhei em outros lugares antes, inclusive enquanto ainda estava estudando.

— Sua comida cheira muito bem. — A cozinha era uma mistura maluca de todos os tipos de aromas e temperos, porém Lee trabalhava logo ao seu lado e por isso Felix conseguia sentir facilmente o cheiro incrível dos pratos que o outro preparava.

— Ah, obrigado. Tem dias que sai melhor, tem dias que sai pior — moveu os ombros. Queria ter chegado no ponto em que tudo o que colocava a mão se transformava em um prato dos deuses automaticamente, só que ainda não era o caso.

— Sei bem como é! — sorriu com tranquilidade. — E o que você gosta de fazer quando não está cozinhando?

Toda vez que ele sorria, Minho fica um pouco perdido nas próprias sensações, precisando de alguns segundos para organizar os pensamentos.

— Hun? — Ah, tinha viajado por alguns segundos.

— Seus hobbies. Tenho certeza de que você não fica na cozinha o tempo todinho. 

— Ah, nossa. Que pergunta difícil. Faz tempo que ninguém pergunta algo assim.— Talvez a última vez tivesse sido com Hyunah, há muitos anos atrás? Apoiou o braço na mesa e virou-se para o lado do outro também. — Hum, deixa ver. Sou entusiasta de cinema. Gosto de filmes de terror, principalmente os clássicos. Também gosto de viajar e de encontrar lugares novos pra comer. Eu costumava correr todo dia também, mas agora estou parado. E... não sei, acho que é isso. Eu não sou assim tão interessante, minha ex-noiva dizia que eu era um idoso em potencial. — E nunca tinha descoberto se era uma crítica ou uma brincadeira. Provavelmente a primeira opção.

Be my Chef! | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora