24. Milo, o esquilo

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Na segunda-feira, conseguiram pegar a sessão das seis no circo, bem no finalzinho da tarde. Tinham combinado o jantar para as oito e meia, então daria tempo de chegarem para receber os convidados.

Jisung estava sentado na quarta fileira da plateia, mirando o picadeiro ainda vazio enquanto escutava o som das risadas infantis para lá e para cá. A última vez que tinha frequentado um espetáculo como aquele talvez remetesse aos seus sete ou oito anos.

Lembrava bem, porque tinha ganhado um catavento do pai que ainda tinha em sua casa, guardado em uma caixa de recordações. O objeto fez parte da decoração de seu quarto por muito tempo, mesmo quando era adolescente. Figurava dentro de um porta-trecos qualquer sobre sua escrivaninha e ali tinha ficado até o dia em que tivera que mudar da casa, depois que os pais foram tristemente levados para sempre por um acidente que era para ter sido apenas uma viagem de final de semana.

Coisas da vida.

— Aqui, Hannie — Minho apareceu ao seu lado, sentando-se na cadeira para depois oferecer o saquinho cheio de arroz colorido para o mais novo.

— Ah! Não acredito que vou comer isso — pegou a comida quentinha em um sorriso divertido e agradado. — Obrigado, Min.

— De nada — passou o braço pelo encosto de onde o outro estava sentado e cruzou a perna, apoiando um dos tornozelos sobre o joelho. — Eles tinham pipoca e algodão doce também, mas eu quis preservar sua saúde e resolvi trazer só esse.

— Eu também adoro os dois — pegou um punhado daqueles pontinhos coloridos para levar até a boca.

— Claro que adora — Lee riu mudo. Han era uma formiga em potencial e adorava uma porcaria, independente do que fosse.

— Não quer? — estendeu em sua direção.

— Não, obrigado. Estou bem — tocou brevemente o topo de sua cabeça em um carinho rápido e deu uma olhada no centro da tenda ainda vazio.

— Eu vi uma porrada de palhaços lá fora. Pareciam uma família inteira — Hannie zombou.

— Que animador — murmurou. — Antes que você me julgue de novo por causa desse assunto, eu vou te contar uma história. Eu não sei se já te comentei, mas os meus pais eram os doidos das festas de aniversário, todo ano faziam e sempre era de um tema diferente. Naquele ano, foi a primeira vez que eles me deixaram escolher e adivinha? O tema foi circo. Caralho, eu fiquei muito empolgado. Passei o mês todo na expectativa, treinando os meus melhores truques, já que seria o grande mágico da noite. Quando chegou o dia, eu nem consegui dormir. Na minha cabeça infantil, eu achava que, sei lá, tava me preparando pra um grande show.

Han contraiu os lábios, afogado na fofura de pensar em um pequeno Minho de cartola, capa e varinha mágica na mão.

— Eu acho que essa é a coisa mais adorável que eu ouvi nos últimos tempos — Jisung confessou em bom humor, virando-se na direção do outro.

— Calma, a história não termina bem — garantiu, lembrando-se perfeitamente do momento tragicômico. — No dia, a minha mãe contratou um bendito de um palhaço. Até escrevemos no convite que ia ter palhaço e tudo, a maior frescura. Mas o cara não foi. Simplesmente não apareceu, não mandou notícias, sinal de fumaça, nada. E, assim, honestamente, eu não tava nem aí. A festa era minha e eu achava que era a atração principal, mas as outras crianças começaram a me encher o saco. Todo mundo ficava perguntando "mas cadê o palhaço!?", "você não disse que ia ter palhaço?", "sua festa tá chata sem o palhaço"— imitou em uma voz caricata, fazendo uma careta. — Eu fui ficando fulo da vida. Quem ligava pro palhaço, sabe? Quem ligava pra balão de bexiga, pra cambalhota, torta na cara e todo o resto? Eu sabia fazer um truque de cartas in-crí-vel e até fazia um coelho de pelúcia sair da cartola. Eu sabia soltar as minhas mãos de uma corda com dois nós! — O quão impressionante não era aquilo? Na opinião do pequeno Mister Minho, era demais! — Mas todos só queriam saber da droga do palhaço. Na hora do parabéns, tava geral com cara de bunda. As crianças porque não tinha palhaço. Eu porque o filho da mãe tinha acabado com a minha chance de brilhar e meus pais, coitados, porque eu estava de péssimo humor e saí com cara feia em todas as fotos. Enfim — chacoalhou os dedos. — O fato é que no meio da minha revolta, eu enfiei as duas mãos no bolo assim que começou o parabéns.

Be my Chef! | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora