53. Confio em você

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[Atenção! Este capítulo contém menção a assédio. Não há nada explícito, mas sugiro pular para o próximo se você for sensível ao tema.]

Dentro do carro, Jisung encolheu-se no outro canto do banco, buscando ficar o mais longe possível do homem que estava com um braço apoiado no encosto e virado em sua direção. Droga. As lembranças que a situação trazia eram, simplesmente, horríveis. Conseguia fechar os olhos e reviver de maneira desagradável e nítida cada segundo daquele tinha sido, disparado, um dos piores "encontros" de sua vida, se é que dava para chamar assim.

O fato era que via de regra, a quantidade de dinheiro que alguém possuía e o tamanho de seu caráter eram coisas inversamente proporcionais. Pelo menos, era o que Han tinha aprendido durante aquela penosa caminhada.

— O que você quer? — Jisung falou baixo, esmagando o celular entre os dedos.

— Não precisa ficar nervoso. Não conseguimos conversar direito naquele dia e eu confesso que você ficou na minha cabeça — manteve o sorriso sarcástico e fez um sinal para o homem que o acompanhava e que, naquele momento, já estava atrás da direção.

— Espera, aonde você vai me levar?! — deu um olhada aflita para a porta e puxou a maçaneta, no entanto aquela merda sequer tinha uma trava manual. Tudo era automático e controlado do painel do carro, para o seu azar.

— Fica calmo, não precisa dar chilique, garoto. Vamos dar uma voltinha no bairro, tenho uma proposta pra você.

— Eu já disse que não estou interessado. Não faço mais aquelas coisas e gostaria que você não me procurasse nunca mais — afirmou com veemência. 

— Que menino difícil — a barriga avantajada moveu-se em um riso e ele puxou um lenço do bolso, limpando o suor leve que sempre brotava abaixo do bigode. — É só uma noite e eu vou te recompensar bem.

— Você podia me deixar milionário, a resposta continuaria sendo negativa — garantiu.

— Vamos lá, Jisung — ele se moveu e os dedos grossos tentaram tocar a perna próxima do rapaz. — Você quer me convencer de que fazia sexo por dinheiro e agora é um anjinho? Eu tenho idade o suficiente pra saber que tudo no mundo pode ser comprado. Se você parou de verdade, pode sempre abrir uma exceção.

Não rela em mim — espremeu-se ainda mais no canto, respirando com mais força.  — Por que você não procura outra pessoa? Tenho certeza de que contatos é que não faltam.

Com tantos amigos pervertidos como os que estava em sua mesa no La Fleur, deviam trocar indicações aos montes.

— Eu poderia, mas nenhum deles seria como você. Acredite, eu ainda tenho sonhos interessantes com aquela noite — passou o dedo pelo colarinho da roupa social que vestia enquanto devorava-o com os olhos.

O homem era muito mais jovem na época e hoje em dia não conseguiria ter a mesma performance, só que mesmo assim desembolsaria uma bela grana para ter Jisung de novo.

Han contraiu os lábios com força e ódio, mantendo os olhos baixos e cobertos pelos fios escuros. Como alguém podia ser tão desprezível e asqueroso a ponto de gostar de ver o sofrimento de um garoto que claramente estava sendo destroçado por dentro? 

Porra.

Há uns meses, estar ali o colocaria em pânico. Teria começado a chorar, exatamente como fizera tantas vezes, corroído por mágoas e arrependimentos de seu passado e pelo medo do que poderia acontecer consigo.

Quando começou naquela vida, era mesmo uma criança assustada que teve que aprender a lidar e com as crueldades que as pessoas eram capazes de fazer diante de alguém indefeso. Depois, com o passar do tempo, havia se blindado e aprendido a distinguir as situações que ofereciam ameaça, escolhendo melhor os programas e aproveitando plenamente o escapismo que o sexo com dor poderia proporcionar.

Be my Chef! | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora