Minho não disse nada, nem fez nenhuma expressão visível. Continuou em silêncio enquanto olhava para a chuva caindo sobre a cidade e o cigarro queimava entre os dedos, produzindo o único e solitário ponto de luz quente da varanda.
As mãos de Han pressionaram mais os joelhos cobertos pela manta e ele fixou-se em um ponto qualquer do chão, sem coragem de olhar para o mais velho ou fazer qualquer movimento brusco. Os polegares se arrastaram pela textura da lã algumas vezes em uma ansiedade crescente.
— Meus pais não me deixaram nada. Eu achei que ficaria pelo menos com a casa, mas ela estava hipotecada. Eles estavam devendo muito e tudo o que tinham ficou pra quitar essas dívidas. Eu tinha acabado de me formar no ensino médio e completar dezoito anos. Até então, eu era só um adolescente comum vivendo o drama que qualquer um vive nessa fase, como passar em uma prova, sair com os amigos, quebrar uma regra boba de vez em quando — fechou os olhos para ouvir melhor o barulho tranquilizante da chuva, caindo generosamente sobre a cidade.
Ah, era bom. Trazia um pouco de paz, mesmo diante da tensão de falar sobre aquele assunto. Os pingos eram constantes e o cheiro típico parecia ser a única coisa capaz de acalmar o seus sentidos naquele momento.
— Depois que eles se foram, eu fiquei perdido. Como não tinha experiência, a única coisa que sobrava pra mim eram bicos que pagavam muito mal, tipo limpar o chão de restaurantes de beira de esquina ou carregar caixas no fundo dos armazéns — moveu um dos ombros. — Me vi obrigado a dormir em lugares cada vez piores e mais baratos. Fui levando assim por meses, equilibrando de um lado, tirando do outro, fazendo dar certo. O problema era que eu estava trabalhando pra sobreviver e parecia que não ia sair do lugar nunca. Na verdade, tudo só piorava. As coisas chegaram no ápice quando eu fui chutado do lugar em que estava ficando e comecei a viver o desespero de não ter pra onde ir. Naquele dia, eu cheguei no fundo do poço. Não comia há dois dias, não tinha nada no bolso e também fiquei sem ter onde dormir. As horas iam passando, o dia ia terminando e eu ficava cada vez mais agoniado pensando que passaria a noite na rua. Tentava listar onde seria menos movimentado, onde ninguém me encontraria durante a madrugada, onde eu poderia ficar mais seguro. Eu estava sentado em uma lanchonete barata qualquer tentando descobrir o que fazer quando fui abordado por um cara bem mais velho, bem vestido. Talvez ele tenha percebido que eu estava angustiado e com medo e se sentiu seguro o suficiente pra se aproximar. Ele começou a puxar papo e pouco depois, como quem fala uma banalidade qualquer, disse que gostaria de dormir comigo. Assim, diretamente, com essas palavras. Na hora achei que tinha entendido errado. Mas, quando ele repetiu, foi chocante e perturbador — lembrou-se, contraindo os olhos ao reviver o momento. — Eu neguei na hora, mas ele insistiu e disse que me pagaria. Quando ouvi aquilo, eu realmente quis enfiar um soco nele. Estava disposto a discutir, até que ele disse o valor e... era muito dinheiro. Bancaria a minha estadia em um lugar decente por pelo menos um mês. Eu já não sabia o que fazer, não tinha ninguém, não tinha grana, tudo o que tinha sobrado eram uns pertences sem valor da minha mochila. Eu sei que é inaceitável e repugnante, mas eu me vi sem opção. Estava encurralado e tinha medo do que poderia me acontecer na rua, então eu acabei indo embora com ele.
O suspiro foi profundo e Han deu uma pausa necessária. A chuva ficou um pouco mais forte do lado de fora e um barulho qualquer de uma freada brusca veio muito longe, seguido de uma buzina demorada.
— Eu nunca tinha dormido com ninguém — Jisung lembrou-se. Se tinha dado o primeiro beijo com dezesseis anos, ser virgem com dezoito nem parecia assim algo tão inesperado, no fim das contas. — No começo, foi humilhante e asqueroso. O tempo todo eu me perguntei o que tava fazendo e senti nojo de mim, dele e do que estava acontecendo entre a gente. Achei que ia vomitar a qualquer momento e tive uma vontade descontrolada de chorar que não senti nem mesmo no enterro dos meus pais. Quando fui embora, jurei pra mim mesmo que não ia fazer aquilo nunca mais — puxou o ar, controlando a sensação úmida que começava a se formar na linha dos olhos. — Só que aquele dinheiro me garantiu por semanas e quando ele acabou eu ainda estava desempregado, sem qualquer perspectiva. É vergonhoso, eu sei que é, só que no fim eu acabei me encontrando com o cara de novo e foi quando ele me revelou que aquele era um meio movimentado onde o dinheiro corria aos montes e que aquele lugar em que eu estava era um ponto de encontro. Por trás dos panos, existiam várias pessoas ricas como ele que pagavam caro por sexo, principalmente com pessoas jovens e "com um rostinho tão bonitinho" quanto o meu.
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Be my Chef! | MinSung
FanficLee Minho e Han Jisung frequentaram a escola culinária juntos e trabalham no renomado restaurante Me-Waw. Apesar de possuírem personalidades completamente diferentes, a amizade entre os chefs poderia ser considerada perfeita... se um deles não tives...