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MARCELE

Dava 22:00 mas não dava 17:00. Parecia que o tempo não passava, menó. Tava agoniada já, doida pra fuma um balão.

Mas me controlei. Tava ligada que não era momento pra isso. Só queria acertar tudo com a dona encrenca e ficar na paz.

Quando nois começou a ficar, eu não achei que ia me apegar naquele gnomo. Mas aconteceu, e eu perdi minha marra todinha.

Sempre fui fria pra caralho quando o assunto é esses bagulho de relacionamento, mas com a Pietra foi diferente desde o começo.

Nunca fiquei sério nem namorei com ninguém, então não sei como fazer essas parada. Não sei como cuidar nem de mim, dirá de outras pessoas. É o papo cria, sou errada pra caralho e tenho mó medo de meter a cara nesses bagulho, e fudê com a vida de alguém.

Pietra já sofreu pra caralho, e eu não quero ser mais uma filha da puta na vida da mina não. Ela não merece uma porra fodida que nem eu. Na real, eu que não mereço ela.

Nunca fui pontual, mas a agonia era tanta, que antes da hora eu já tava batendo na porta dela.

Sem neurose, vê ela sentada na minha frente e não tá no direito de tocar nela tava me matando, papo retão.

Ferraz: Pô, parece que ele espichou pra caralho esses dias. - Falei olhando pro Cria que tava deitado do meu lado no sofá.

Pietra: É, tá numa fase rebelde também. Não pode ver um pedaço de bacon, que já quer roubar. - Deu de ombros e eu ri fraco. Senti falta até dessa porrinha desse gato.

Fiquei fazendo carinho no Cria enquanto ele dormia, só pra vê se eu tomava coragem de começar a falar. Mas porra de bandida de merda que eu sou. Pra matar alguém é facinho, agora pra falar, me travo toda.

Ficamo se encarando por quase uns cinco minutos, pô. Ela não falava nada, e nem eu. Era muito foda ficar assim com ela. Parecia que nois nem se conhecia.

Ferraz: Quero te falar um pá de coisa, mas na moral, não sei nem como. - Passei a mão na cabeça, enterrando o boné de volta em seguida. - To aqui pra resolver tudo, pô. Minha cabeça tá fudida sem saber o que fazer pra consertar essa merda toda. - Joguei limpo com ela. E pelo jeito que nois tava, ou eu falava, ou nois continuava no zero a zero.

Pietra: Eu já esperava que não fosse ser fácil. - Sorriu fraco. - Passar esses dias longe não foi fácil, mas foi necessário. Eu entendi o que quero pra mim e pro meu futuro. E por mais que eu queira muito que você faça parte de tudo isso, não depende só de mim. - Coração tava a milhão pô, parecia que tinha injetado adrenalina em mim mermo.

Ferraz: Tu sabe que eu nunca passei por nada desse tipo. Sou toda errada, Pietra. Nunca namorei nem nada desses bagulho aí. Ainda mais nessa vida doida que eu levo - Neguei com a cabeça. - É foda pra caralho.

Pietra: Usa qualquer desculpa, mas não usa o fato de você ser envolvida pra dizer que a gente não pode dar certo. Você sabe mais que ninguém os riscos dessa vida, mas sabe que sim, da pra ter alguém do lado. Nada é impossível, por mais arriscado que seja.
- Só conseguia continuar olhando pra ela. Pietra parecia um ímã. Eu só queria ter ela por perto, mermo sem entender direito o que eu sentia. - Como eu disse antes, esses dias foram difíceis, mas eu consegui entender quem eu realmente sou. Quem eu me tornei depois de tudo que eu passei, e tudo o que eu quero pro meu futuro. - A perna dela começou a tremer e eu tô ligada que quando ela tá assim, é por que tá nervosa. Coloquei minha mão na coxa dela e fiz um carinho, rapidinho ela parou de tremer. - Eu sou nova, e eu sei disso. Mas eu tô cansada de viver quebrando a cara por me entregar demais. Eu quero um relacionamento leve, tranquilo, e que eu seja a escolha da pessoa. Eu nunca fui a certeza de ninguém, Marcele. Ninguém nunca me fez sentir como se eu fosse o suficiente. - A voz dela embargou e eu tive certeza que ela tava querendo chorar. É pique tomar um soco na cara. Ruim pra caralho ver ela assim. - Mas com você eu me sentia o suficiente, mesmo que a gente não tivesse rotulado o que a gente tem, ou tinha, não sei. - Coração apertou pelo jeito que ela falou. - Eu posso ter confundido as coisas, mas acredito que não foi isso que aconteceu. O que a gente viveu nesses três meses foi intenso demais. Era bom, era sincero, era real. Bom, ao meu menos da minha parte era. - Riu fraco.

A DONA | SÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora