Capitulo 3

2.2K 109 17
                                    

Ana Luíza

De tudo que eu já passei aqui dentro dessa casa, todo desprezo que eu recebi, palavras ofensivas, humilhações e até agressão,nada me doeu tanto  quanto ver a forma que o Diego tratou meu filho - depois que tudo que já ouvi e vi ele fazendo, eu não espero mais que ele crie algum laço afetivo com o menino, não espero que ele seja o pai que um dia eu tanto quis que ele fosse, pra ser sincera eu joguei a toalha em relação a ele, parei de criar expectativas, parei de esperar que ele caia na real, acho que eu comecei a entender que a realidade dele é essa - mas ver o que ele foi capaz de fazer foi a gota d'água pra mim

As vezes penso que todos os momentos bons que vivemos foram de mentira, faziam parte do personagem que por tanto tempo ele conseguiu manter,  hoje tenho a sensação de que nada do que vivi foi real, a pessoa que amei nunca existiu, e consequentemente a nossa história também não. Até um tempo atrás eu ainda torcia pra que ele acordasse, esperava que ele deixasse de lado seja lá qual fossem os motivos que fizeram ele começar a agir assim - se é que existem motivos pra ser ruim - o que sei é que eu acreditei até o último momento que aquele não seria o rumo da minha vida

Mas toda a minha expectativa acabou ontem, eu nunca estive disposta a aceitar o que venho passando durante todos esses anos, até porque não tem como esquecer uma ferida que não fechou e que é mexida constantemente, eu não iria esquecer as ofensas, ameaças, humilhações nem o desprezo, isso eu não faria de jeito nenhum. Mas eu queria tentar entender, queria que houvessem explicações, queria pelo menos que eu e ele conseguíssemos ter um diálogo, mas vejo que é impossível, depois de ontem não existe mais essa possibilidade, agora quem não quer sou eu.

Eu nunca tive coragem se quer de pensar na possibilidade de ir embora daqui, eu jamais voltaria pra casa dos meus pais, principalmente sabendo que lá seria o primeiro lugar que ele iria me procurar, mas também porque eu não me sinto no direito de colocar esse fardo em cima deles, essa culpa eu vou carregar sozinha, o preço de não ter dado ouvidos a eles eu estou pagando, e não vou parcelar com ninguém.Além de querer poupar meus pais, eu sinto vergonha do que me tornei. De tudo que sonhei pra mim, eu nunca me imaginei nessa situação, por isso nunca pedi ajuda nem nunca pensei em uma forma de cessar essa agonia

Porém agora eu estou disposta a mudar minha atual situação,se não for por mim que seja pelo Kauê que precisa crescer em um ambiente com cheiro de lar, que precisa brincar, ir a escola, fazer coisas de criança sem ter que presenciar gritos, brigas, ameaças, sem ter que ver a mãe dele apanhar, sem sentir medo. Ontem quando o Diego saiu de casa e eu corri pra pegar meu filho, me quebrou ver os olhinhos dele assustados, tentando achar em mim algum conforto, e eu que estava quebrada em mil pedaços, tive que juntar um por um, por ele, sempre por ele.

Agora vai ser por ele também que vou achar meios de sair daqui, de nos livrar desse pesadelo, meu filho tem a mim e eu tenho a ele e isso basta, sei que quando a gente for embora daqui tudo vai fluir. Durante esses 3 anos somos ele e eu, tenho muita ajuda da minha mãezinha e do meu pai, mas o fardo pesado somos nós dois quem aguentamos - não porque meus pais não me ajudariam, mas porque eu não tenho coragem de recorrer a eles.

Passei a madrugada pensado no que fazer, pra onde ir já que pra qualquer lugar que eu for, tenho certeza que  ele vai dar um jeito de me achar, em outro estado eu não conseguiria me manter por que as economias que junto com o dinheiro do meu estágio dariam só pra passagem e despezas da viagem, não teria como me virar até arrumar outro serviço, e ainda assim eu teria que tentar a sorte de sair do Rj sem Diego descobrir, porque ele vem usando a influência da polícia pra me intimidar, e eu sei que apesar do cargo dele ainda não ser um dos melhores, ele teria apoio de seus colegas de profissão para me achar.

Destino TraçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora