Ana Luiza
Por mais que eu esteja tentando, ainda não consigo entender tudo o que aconteceu, digo isso em todos os sentidos, está tudo uma confusão, uma verdadeira bagunça, tanto fora, na vida real, quanto dentro de mim, agora fazem mais ou menos 24 horas que aquele inferno acabou, mas todo o estresse, todo medo que senti e o pânico que se instalou em mim por alguns instantes durante tudo que vivi, esses me deixaram algumas sequelas, confesso que estou aliviada por ter conseguido sair viva, tanto eu, quanto os que estavam comigo e me protegeram, mas nem isso tá sendo capaz de apagar o peso de tudo que eu enfrentei nessas últimas horas, claro que estou grata por estar bem, tenho consciência que poderia ser pior, mas isso não anula todo trauma que vai me rodear por algum tempo, não consigo parar de pensar que por um tris, aquele demônio quase me levou embora de novo, não consigo apagar da memória as palavras que foram ditas por ele, especialmente as que foram direcionadas ao meu filho, pensamento positivo nenhum, tá sendo capaz de apagar essas lembranças
Foi angustiante tudo o que presenciei do começo ao fim do dia de ontem, dia esse que dificilmente vou conseguir excluir da minha memória, por inúmeros motivos. Um deles claro, é esse medo fora do normal que ainda tô sentindo, mesmo que eu já esteja bem e em segurança, e o outro motivo é o alemão, que nesse momento está sendo o causador da minha maior agonia, por mais que eu procure, não acho justificativas válidas pra explicar o que aconteceu entre a gente no meio daquele tiroteio, não consigo se quer me fazer entender a dimensão do que vivemos ali, onde acontecia tanta desgraça, onde tantas coisas rolavam ao nosso redor, e mesmo assim, por alguns momentos parecia só existir nós dois.
Nada que eu tenha sentido antes, durante toda a minha vida, se compara ao misto de sentimentos que vem tomando conta de mím desde ontem, na verdade desde que eu coloquei os pés aqui, mas que ontem se intensificaram e tomaram uma proporção que me assustou e me tirou da minha zona de conforto, estou totalmente fora dela agora, sem saber se quer o que está acontecendo dentro de mim, tentando me decifrar e me entender, mesmo que por algum motivo, eu saiba que tudo isso ultrapassa qualquer entendimento, é como se fosse o destino colocando as peças no lugar, encaixando algo que estava solto, ou juntando peças de um quebra cabeça, e nesse caso as peças somos nós, ele e eu. É louco dizer isso, mas essa é a única conclusão que eu consegui tomar, baseada em instintos e nada mais, baseado somente no que eu senti desde a primeira vez que vi o alemão.
Depois do susto, pensando em tudo com sensatez, parece que era como se eu precisasse estar aqui, perto dele, talvez pra estar lá, no meio da guerra e salva-lo, ou pra estar com ele por tantas outras vezes caso ele precise, como o próprio me disse depois que saímos do meio do fogo cruzado, parece que asism como eu, ele também está confuso e impressionado com toda essa conexão repentina, eu não escolhi ele, não tenho a mínima condição pra isso agora, tão pouco ele me escolheu, acredito que pelas suas dores, que eu recém descobri, ele esteja tão fechado quanto eu pra sentimentos, mas e se for questão de nem precisar escolher?! Ao que parece não é, eu não tive escolhas quando gritei desesperadamente pra que ele reagisse e se levantasse, não tive escolhas quando o arrastei pra baixo quando ele não se movia em meio aos tiros, não foi escolha minha puxar uma arma para defende-lo, sem nem saber aitrar, não foram decisões tomadas por mim, foi instinto, foi como se eu precisasse fazer, como se eu estivesse ali exatamente pra isso.
Ouvi ele me dizer por inúmeras vezes que eu o resgatei, que o salvei de si mesmo e dos outros, mas isso ele também fez comigo, foi uma troca que existiu entre nós dois sem que nenhum de nós precisasse pedir ajuda, foi como se de alguma forma, soubéssemos que precisávamos um do outro, mesmo que no fundo, nenhum de nós entenda exatamente o por que. Ele me trouxe de volta quando minhas pernas perderam as forças e eu quis me entregar e deixar que me levassem, do jeito dele, com as palavras que ele sabe usar, me incentivou a continuar, de certa forma, mesmo que pra mim ainda seja inexplicável, foi por causa dele que eu tive coragem de pegar aquela arma e atirar, foi por um instindo forte, por um sentimento de proteção, foi por uma voz que me dizia que eu precisava salva-lo, sem motivos maiores, eu só fiz o que meu subconsciente dizia que era pra ser feito
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Destino Traçado
FanfictionAna Luiza Martins, jovem desacredita do amor, com um filho pequeno e carregando nas costas o peso que foi obrigada a suportar sozinha depois que o marido a abandonou, 8 anos de um relacionamento que foram jogados no lixo assim que ele se transformou...