Capítulo 18

964 58 33
                                    

Isadora

Eu poderia montar uma historinha triste sobre minha vida e contar pra todo mundo, arrumar motivos que pudessem de alguma forma justificar minhas atitudes, mas eu não tenho razões pra ser como sou, nem pra ter feito o que fiz, eu simplesmente escolhi ser assim, não tenho uma história dramática,nem uma infância difícil, não tenho trauma nenhum, pelo contrário, sempre fui a princesa da família, não nasci em berço de ouro, mas também não fui criada na sargeta, sempre tive tudo e todos ao meu dispor,nos meus pés, minha mãe sempre se matando pra me dar do melhor, coisa que eu comecei a exigir assim que me entendi por gente, meu pai o mesmo, fui criada assim, rodeada de pessoas fazendo as minhas vontades, se tinha amor ou não, nunca me importou, esse sentimento não enche barriga, não trás dinheiro, nem ia me dar a vida de rainha que eu sempre sonhei e merecia ter, aliás, sentimento nenhum me enche olhos, não preciso disso pra viver,pra ser sincera eu nunca liguei pra nada que não fossem meus interesses pessoais,desde nova eu já pensava assim, e nunca aceitei ter menos do que eu achava que merecia.

Não vejo mal nenhum nisso, se eu quero, eu posso e tô pouco me fodendo pra como eu vou fazer pra conseguir, e isso não é de hoje, lembro de quando eu era criança e muitas vezes fazia minha mãe tirar de onde não tinha pra comprar tudo o que eu queria, tanto roupas, quanto objetos, maquiagens, perfumes, tudo do bom e do melhor, não me importava se ela iria se endividar, se ia deixar de comer, se não ia ter dinheiro pra pagar as contas, eu era a prioridade e quando as coisas não saiam como eu queria, eu dava meu jeito, bastava uma chantagem emocional e minha mãe acatava os meus pedidos, meu pai não se envolvia, nem contestava, porque se fizessse não ia adiantar, nada mudaria meu pensamento, eu não nasci pra viver na miséria, com pouco, era obrigação deles manter o padrão de vida que eu decidi que merecia ter, quando eu tivesse idade suficiente daria meu jeito, como dei, se foi limpo ou não, não me importa, se pequei, cometi crimes, quem liga?! A única pessoa que me importa sou eu mesma e mais ninguém.


Nasci na favela, mas ao contrário do que muitos possam imaginar, eu não tinha vontade nenhuma de sair de lá, meu pensamento era totalmente o oposto,eu sempre idealizei minha vida dentro do morrão, já tava tudo montado na minha cabeça, desde os meus 13/14 anos, um dos meus maiores desejos era ser primeira dama, não me importava quem fosse o cara, se era velho,novo,nunca liguei, eu só queria status, o dinheiro e a boa vida que eu cresci vendo muitas mulheres ter, nunca quis estudar, me formar, ganhar meu dinheiro próprio, isso não era coisa pra mim,pra quê me dar esse trabalho se eu nasci gostosa?! Ouvi muita gente dizendo que eu pensava pequeno, que o futuro de mulher de traficante não era boa coisa, que dinheiro e satats não valia de nada diante das condições que as mulheres desses caras tinham que viver,quem liga?! Eu não queria amor, nem conto de fadas, eu queria um otário pra me bancar e me comer, o que viesse era consequência, se eu tivesse que apanhar, que apanhasse tendo vida de madame, se tivesse que ficar careca, que fosse pelas mãos de quem poderia me dar o dinheiro da lace, tudo na vida requer um sacrifício, se o meu seria esse, eu estava disposta, eu só nunca estive disposta a desistir da idéia de ser primeira dama do cpx, pra mim era como uma meta de vida.

Comecei minha vida sexual muito cedo, nunca tive controle, na verdade não tinha ninguém que fosse capaz de me controlar, os conselhos da minha mãe entravam por um ouvido e saiam pelo outro, meu pai já tinha desistido de mim a muito tempo, melhor coisa que ele fez, era menos um pra atormentar minha mente e dizer o que eu devia ou não fazer, não que isso mudasse alguma coisa, porque nada que ninguém dizia trazia impacto nenhum pra mim. Eu fazia o que queria, dava pra quem eu bem entendesse, mas eram sempre meninos do movimento, óbvio, só que eu também não era muito escacancarada, fazia minhas coisas na calada, se rolava um burburinho entre os caras que eu ficava, não sei, mas eu não saia por aí exibindo ficante, até porque pra conseguir o que  realmente queria eu precisava manter a postura, e esperar a melhor hora que meu bandido de ouro iria aparecer, eu não queria qualquer um, queria o dono do morro.

Destino TraçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora