Capitulo 2

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Diego

As vezes me pego perguntando a mim mesmo o que diferencia uma pessoa boa de uma pessoa ruim, será que mesmo cheio de traumas, dores e mágoas do passado, alguém consegue passar por cima disso tudo e ser bom? Por que eu não consegui, não sei se tudo que me transformei se deve ao peso que eu carrego, ou se é de mim mesmo.  Tenho consciência de que não posso viver transferindo minha culpa pra ninguém, mas posso afirmar também que boa parte da minha vida eu passei lutando contra o meu lado ruim, tentei viver como se eu nunca tivesse passado por nada, de certa forma escondi metade da minha vida pra ficar em paz, mas chegou um dia que eu não consegui mais.

A verdade que pouca gente sabe sobre mim é que eu cresci sem mãe, na realidade ela meteu o pé quando eu tinha 7 anos de idade, mas pra mim eu nem tive, já que ela nunca cumpriu com o papel dela. De todas as memórias que eu tenho da minha infância, em nenhuma eu me lembro de ter sido amado e protegido por quem tinha o dever de fazer isso, as únicas coisas que eu lembro é de ter visto minha mãe fazendo tudo,menos cuidando de mim, até por que quando ela ficava em casa só me queria por perto pra me agredir e descontar a porra das frustrações dela em mim.

Meu pai quando não tava trabalhando, tava na rua com mulher, não sei se culpo ele, já que minha mãe mesmo nunca compareceu dentro de casa, e isso aí eu não tô nem falando só da intimidade deles, até porque naquela época eu não tinha mentalidade pra imaginar essas coisas,digo isso porque tudo que ela sabia fazer era se drogar, me bater e vender as coisas que meu pai colocava dentro de casa pra poder usar mais droga, nunca vi meus mais pais como um casal, minha casa nunca teve um ar de família, muito menos amor, eram 3 pessoas que mal pareciam ter algum laço de sangue, e ao mesmo tempo esse laço era a única coisa que tínhamos, porque de resto era tudo vazio.

A última imagem que eu tenho dela foi no dia que ela tentou vender a geladeira de casa pra se drogar, tenho recordações desse dia até hoje e me dói como se eu revivesse tudo a cada vez que lembro. Meu pai pegou bem na hora que ela tava tentando sair de casa pra vender a geladeira ou trocar por droga, vai saber. Só lembro que nesse dia eu presenciei meu pai  perder todo auto controle que ele parecia ter - já que mesmo não sendo um pai nem um marido exemplar, ele nunca interviu em nada, nem pra o bem nem pra o mal, nunca tentou dar um freio na minha mãe, e até hoje não sei porque, mas também nunca se importou dela usar as paradas dela, parecia mesmo que ele nem exergava o que tava acontecendo ou fingia que não -  Mas nesse dia ele  bateu nela com a força de quem queria matar, parecia mesmo que ele tava descontando tudo que tinha deixado passar despercebido durante tantos anos, depois disso  mandou ela desaparecer das nossas vidas, e desse dia em diante tudo que eu sei dela são histórias que os outros contam, mas o paradeiro dela é mistério pra mim, e que continue assim.

Depois de crescido eu escutei várias versões sobre a história da minha mãe, mas nenhuna delas foi o suficiente pra fazer com que eu anulasse o sentimento ruim que eu nutri por ela, nem toda a culpa que eu deposito sobre ela até hoje. Não mudou nada pra mim por que em todas as versões ela era uma drogada, que tentou me abortar, que usava de tudo quando eu ainda estava na barriga, pra ser bem sincero, ela nunca fez questão de mim.

Meu pai era do tipo de pessoa que desmonstrava sentimentos da forma dele, me criou do jeito que ele achava certo, me deu estudo do bom, mas nunca me defendeu nenhuma vez que minha mãe me agrediu, nunca tentou me tirar daquela casa. Ja que era ele quem mantia tudo não tinha motivos pra gente permanecer ali, mas ele nunca fez nada por mim além do que julgava necessário, por isso que pra mim ele  nunca foi pai, ele foi só meu provedor. Podem me chamar de egoísta ou do que quiser, mas nada do que ele fez por mim, nem toda roupa que ele me dava, comida que colocava em casa, estudo em escola particular, nada disso significou muito pra mim, tudo que eu sempre esperei dele era amor, era que ele cuidasse de mim, que curasse minhas feridas, ou que não deixasse ninguem me ferir, mas isso ele nunca fez.

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