Ana Luiza
Em uma ponte, daquelas típicas de filmes infantis, onde todos os degraus de trás estão quebrados, não tem jeito de voltar, a única opção que resta é seguir em frente, torcer pra dar certo e o personagem chegar ao seu objetivo final, eu inclusive já vi uma cena como essa em um filme do Shrek, que esses dias mesmo estava assistindo com o Kauê. É exatamente assim que me sinto agora, em uma ponte de degraus desgatados, que a qualquer momento pode me derrubar, se eu voltar atrás, não tem jeito, seria o fim da linha, se permanecer onde estou, uma hora esse degrau também vai ceder e eu vou cair, a opção válida pra mim é seguir em frente enquanto ainda me resta essa saída, mas tomar uma decisão como essa requer coragem, é preciso engolir o medo do que aquela escolha pode te causar e simplesmente ir, sem olhar pra trás, foi o que eu acabei de fazer, engoli tudo de ruim que poderia me fazer retroceder, e segui.
Encarei de frente a dor de mexer em uma das minhas maiores feridas, tive a coragem que por tantas vezes eu convenci a mim mesma que não tinha, falei sobre a pior parte da minha história, me abri pra pessoas desconhecidas e contei o que eu nunca tive coragem de contar para as pessoas que eu tanto amo, enfrentei a ponte da minha vida, que só me deu a opção de ir em frente e tentar, eu fui, receosa, apavorada mas fui, cada palavra que eu falava sobre os momentos que vivi eram como um degrau velho e prestes a cair que eu avançava, algumas vezes eu senti vontade de parar e me deixar ser vencida pelo medo, mas o desejo de continuar percorrendo e ver até onde aquela ponte ia me levar foi maior, eu sabia o que iria acontecer se eu parasse, se voltasse atrás, o mesmo, mas ir em frente era novo, me causava entusiasmo, eu quis ir, melhor, eu consegui, e estava ansiosa pra colher os resultados bons da escolha que fiz, porque os ruins vieram de pressa.
Quando o alemão interrompeu o vídeo agradaci mentalmente a Deus e a ele, eu não tinha condições nenhuma de continuar, mais uma palavra e eu iria explodir em mil pedaços, minha cabeça não estava mais raciocinando, as idéias não se encaixavam mais, eu era inteira dor e lembranças ruins, cada vez que relembrava o que vivi, era uma viagem de volta pra dentro daquela casa que deixou de ser meu lar e passou a ser meu cativeiro, quando eu precisei mostrar as marcas que aquele homem deixou pelo meu corpo, foi como se eu tivesse me teletransportado para aquele maldito dia, eu conseguia ouvir todas as palavras que ele usou pra me humilhar, senti até a dor das porradas que ele me deu, era tão forte o que eu estava sentindo, que chegava a a me afetar fisicamente, em alguns momentos durante o tempo que estava falando, senti falta de ar, era sufocante, angustiante e desesperador.
Mas eu consegui, venci, pelo menos dessa vez fui forte o suficiente, superei meus medos, minhas dores, meus traumas, mostrei a mim mesma que sou capaz, dei um passo que me fez entender de uma vez por todas que sou a dona da minha própria vida, que ninguém tem mais direito sobre mim, do que eu. Esse dia de hoje foi como um empurrão pra que eu tome as rédeas da situação e comece a fazer por mim mesma o que ninguém pode fazer, não quero mais ser submissa a ninguém,tão pouco dependente, quero e vou ser dona de mim e das minhas escolhas, foi difícil, está sendo, mergulhei em um mar de recordações ruins e quase me afoguei, mas consegui voltar a margem e trouxe comigo a certeza de que não quero nunca mais voltar pra lá, entendi que preciso passar por um processo de reconstrução, preciso me estabilizar, acima de tudo emocionalmente, mas a largada já foi dada, agora basta o tempo passar e colocar tudo no seu devido lugar, me sinto leve, apesar do furacão que sei que vai se formar lá fora ,assim como as especulações e questionamentos que sei que vão aparecer, sinto que tenho um fardo a menos pra carregar e esse era o mais pesado.
Depois de terminar meu desabafo, saí pra varanda da casa do alemão, não sabia onde estava indo porque não conhecia nada lá, só sabia que precisava sair daquela sala, eu não queria ouvir mais nada que me levasse de volta ao passado, queria agora esperar o que iria acontecer daqui pra frente e virar a página,o peito ainda estava apertado, mas eu me sentia mais leve, um pouco mais livre, ainda não era a liberdade que vim buscar, mas essa também era boa e nova pra mim, já que a anos eu não sabia o que era desfrutar desse privilégio. Estou com o coração mais tranquilo, tenho a sensação de que fiz o que estava ao meu alcance, dessa vez eu não permiti que passasem por cima de mim, não me omiti, ou me deixei ser vencida, pela primeira vez em anos eu pude fazer algo por mim mesma, na verdade eu entendi que nunca foi questão de poder ou não, eu só não sabia que era capaz, hoje eu vi que sou, que o lugar de pilota da minha vida sou eu quem tenho que oculpar, e esse ninguém mais vai tirar de mim, estou... em paz, mesmo sabendo que muitas águas ainda vão rolar,sinto que estou preparada pra o que vier.
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Destino Traçado
FanfictionAna Luiza Martins, jovem desacredita do amor, com um filho pequeno e carregando nas costas o peso que foi obrigada a suportar sozinha depois que o marido a abandonou, 8 anos de um relacionamento que foram jogados no lixo assim que ele se transformou...