No autocarro
Depois de responder às mensagens do João, decidi fechar os olhos e dormir um bocadinho, já que tinha acordado cedo. Assim ainda era melhor, o tempo passava mais rápido.
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— Menina? - abri os olhos ao sentir alguém tocar-me no ombro. — Tem de sair do autocarro.
Quando olhei em volta, reparei que o veículo estava vazio. Éramos só eu e o motorista.
— Claro... Desculpe! - respondi com uma voz sonolenta. Levantei-me e olhei para as horas exibidas no monitor do autocarro e era 12:13.
Saí do autocarro com o motorista e o homem ajudou-me a pegar na mala. Agradeci pela ajuda e liguei à Maria, que ficou de me chamar um uber.
•••
— Senhor, ainda não paguei. - lembrei o condutor, que não parecia lembrar-se de que tinha de lhe dar dez euros pelo transporte.
— Quem chamou o uber já pagou. - sorriu.
— Ah, não sabia. - disse. A Maria é mesmo uma querida. — Obrigada.
Peguei na mala e abri o portão da casa dos Neves. Subi as pequenas escadas do alpendre e toquei à campainha.
— É ela! - consegui ouvir a voz da Sra. Neves devido à janela que estava aberta.
A porta rapidamente foi aberta, revelando três pessoas: ela, o João e a Maria.
— Bibi! - a Maria exclamou e puxou-me para um abraço. — Que saudades! Ai!
— Há que tempos! - sorri. — Sra. Neves!
Separei-me da Maria e abracei a mãe dela.
— Como andas, Bia? - perguntou-me com aquela sua voz doce. — Soube que vais para a Nova de Lisboa!
— Vou sim senhora. - sorri. — Tenho andado bem, e a senhora?
— Ai, já sabes. - riu-se. — A ficar mais velha.
— Cá nada!
— Anda mãe, temos de tirar a lasanha do forno! - a Maria chamou-a já da cozinha.
— Com licença querida.
Sorri. Quando a mais velha saiu da entrada, fiquei de frente com o João. Estava mais alto, embora continue baixinho. Não posso falar, eu pareço um anão.
— Então puto? - abracei-o. — Tás mais alto!
— Tás... mais baixa. - riu-se ao me olhar de cima a baixo. Dei-lhe um soco no braço. — Ai!
— És mesmo parvinho. - ri-me.
— Também senti a tua falta, já agora! - disse indignado.
— Boa. - fiz um like com a mão.
Nós tínhamos esta cena de sermos maus um para o outro. Claro que era a brincar, porque nós somos melhores amigos.
— Vamos mas é comer. - sugeriu. — A minha mãe fez daquelas lasanhas que tu sempre adoraste.
— Sai-te mas é da frente, então! - gritei entusiasmada e dei-lhe um pequeno empurrão que sugeria uma corrida até à cozinha.
•••
— Está incrível, Sra. Neves. - elogiei a lasanha.
— Obrigada querida. - sorriu. — O João ajudou-me.
— Ah foi? - olhei para ele impressionada.
— Ele anda a cozinhar muito ultimamente! - a Maria disse. — Tá crescido.
— Menos um bocadinho, sim? - reclamou. — Olha mãe, o Gonçalo e o António chegam amanhã à tarde.
— O Ramos? - perguntei curiosa.
— Sim, eles vêm cá passar o verão connosco. - a Maria respondeu. — Queríamos mais pessoas para ser mais fixe.
— Gosto da ideia. - ri-me. — Eles são fixes.
— Vocês conhecem-se? - a Sra. Neves perguntou.
— Sim. - o Neves disse. — A Bia chegou a ir ver um treino nosso no ano passado. Eles conheceram-se lá.
— Ya, isso mesmo. - sorri.
— Ah, e Bibi - a Maria chamou-me. — Também convidei uma amiga minha, chama-se Rita. Vais gostar dela.
— Quando é que ela chega?
— Amanhã também.
— Fixe! - sorri.
Continuámos a comer e a meter a conversa em dia. Não consegui deixar de sentir o olhar do Neves sobre mim diversas vezes. Acho que sei porquê.
VERÃO DO ANO ANTERIOR
— Apanhei-te! - o João rodeou-me com os seus braços. Estava a fugir dele porque tinha uma foto no meu telemóvel que ele queria que eu apagasse.
Virei-me para ele.
— Dá-me o telemóvel! - exigiu a rir. — Anda lá, puto!
— Tás irritadinho? - ri-me da cara dele.
— Não comeces! - reclamou.
O silêncio invadiu o espaço de repente. Ainda rodeada pelos braços dele, consegui perceber que nos estávamos a aproximar um do outro.
Cortei o momento ao fazer-lhe uma rasteira e continuei a fugir com o telemóvel.
NO PRESENTE
Eu sei que ele gostou de mim no verão passado. Pelo que a Maria me disse, ele já esqueceu. E ainda bem. Não sinto o mesmo por ele, e não quero por nada que a amizade seja estragada.
— João, porque é que não vais ajudar a Beatriz com as malas? - a mãe deles perguntou-lhe.
— Tass bem. - levantou-se. — Anda. - sorriu.
Ele pegou na mala e fomos até ao meu quarto, que era o quarto de hóspedes.
Instalei-me e tomei um banho. Naquele dia eu só queria dormir, por isso deitei-me e fechei os olhos. Não conseguia parar de pensar em como este verão ia ser melhor agora que tínhamos mais pessoas na casa.
Ia aproveitar ao máximo.
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THE SUMMER I TURNED 18 • João Neves
RomanceBeatriz Pires, uma adolescente que sempre foi passar o verão na casa dos seus amigos de família, os Neves, está prestes a completar 18 anos, o que fará do verão de 2023 um verão especial. Ou será especial por outros motivos? À medida que o tempo ava...