Capítulo 11

132 21 175
                                    

O por do sol na Sicília.

Há mais de 2 anos atrás.

- Andiamo più veloci, andiamo - grito pelo ar enquanto pedalo o mais rápido que eu posso.

Emíjya está atrás de mim tentando ao máximo chegar mais perto e falhando miseravelmente. Sua pele escura e seu cabelo longo cacheado ao vento fazem uma espécie de ballet, seu vestido branco florido e seus olhos castanhos-escuros como a noite a dão um ar de emoção e vivacidade. Por minha vez meu cabelo ao vento, minha blusa meio esverdeada florida e calça jeans azul me dão um ar de doença, apenas a bandana vermelha no meu cabelo me salva.

Paro e encosto minha bicicleta em uma parede, Emijya para uns segundos depois de mim.

- Você é muito rápida - diz ela ofegante descendo também.

- Sou a melhor.

- Exibida.

Sorrio, ela vem sendo minha amiga desde que me mudei para cá aos 3 anos, naquela época falava muito pouco e ria menos ainda.

Começamos a andar lado a lado.

- E aí, vai trabalhar aonde nessas férias? No Aragosta al Limone ou no Mercato Delle Pulci? - ela quer saber.

Pondero antes de responder, na semana passada meu pai se candidatou a um emprego em outro país então talvez tenha que passar a estação estudando uma língua nova.

- Ainda não decidi. E você? - me viro para ela, que ergue a cabeça e olha para frente.

- Na pizzaria no final da rua, se tudo sair como eu quero vou ter dinheiro o suficiente para ir a Heidelberg no aniversário dele - ela me olha e sorri.

- Incrível - balanço a cabeça em positivo, acho que ela entende que estou triste pois me abraça.

- Ella, vai achar alguém, confie em si, ainda é muito nova.

- E você não acha que ele é muito velho, quer dizer você tem 15 e ele 19, você mora aqui e ele na Alemanha.

- Ele é daqui.

- Agora ele não tá - rimos juntas.

- São só quatro anos - ela diz cantarolando - distância não é impedimento e a gente se ama - ela para na minha frente - quero que tenha isso também - ela ponhe as mãos em meus ombros.

- Emijya...

- Já sei, hora certa - ela toca a ponta do meu nariz com o dedo.

Decemos a rua e paramos á frente da catedral.

- Ella, espere, onde estão nossas bicicletas?

Aponto para a parede próxima a loja onde as deixamos e voltamos rindo para pegá-las.

Uma vez que as pegamos de volta e descemos a rua, paramos perto da Quattro Canti e vamos a um bar-restaurante-doceria.

- Um cannolo para mim e - Emijya olha para mim que aponto para o número 5 do cardápio - uma Arranja para a minha amiga, por favor.

Assim que os pedidos chegam nos sentamos e começamos a comer.

Meu celular toca, uma mensagem do meu pai chegou.

- Vai ler? - ela pergunta levantado a cabeça.

- Daqui a pouco a gente vai voltar mesmo.

- Ei, quer ir a festa di strada? - ela me parece empolgada.

Uma festa di strada basicamente é um amontoado de pessoas no meio da rua ás 04:00a.m. dançando e bebendo. A maioria são turistas.

- Hummm.

- Vai ser legal.

- Não faça essa cara.

- A vai - ela pega a minha mão que está no centro da mesa - e no final de semana a gente pode ir para Mondello.

Eu a encaro por uns segundos.

- Só desta vez - ela sorri, bate palmas e passa por cima da mesa para me abraçar.

***

- Não viu minha mensagem? - meu pai diz assim que cruzo o solado da porta.

- Ciao pai, e não, tava ocupada, o que era?

- Lembra daquele emprego que eu falei que me canditei?

- Aquele na China?

- Não, a Ásia não é só China sabia.

- Japão?... - ele fecha a cara, semisero os olhos pensando - Indonésia? Coreia?

- Isso - ele bate palmas e da um pulinho no sofá.

- Tá, o que que tem?

- Ele conseguiu - grita a minha mãe saindo da cozinha com um bolo enorme nas mãos escrito " nos sempre acreditamos em você João/papai ".

Fico incrédula, de repente meu lanche quer voltar do estômago, nosso apartamento com paredes cor de madeira se torna uma caixa minúscula sem ar.

Meus pais não estão sorridentes mais e sim me encarando preocupados.

- O que foi? É uma ideia maravilhosa - diz minha mãe.

- São só dois anos, vai continuar mantendo contato com as pessoas daqui e melhor vai ter amigos em outro pais, mudar de ares, aprender uma cultura nova qual o problema?

- Nenhum - respondo indo para meu quarto.

Não desço para jantar quando sou chamada, só tomo banho e saio para a rua.

- Tudo bem? - Emijya pergunta.

Assinto e nós seguimos caminho.

Danço a noite inteira, sabendo que daqui a pouco não terei mais isso; não poderei ir ao Teatro Massimo, ao Palácio Norman, ou pegar um ônibus e passar o dia na praia, ou o metrô e ir parar em Roma, Florença ou Verona, nem ver o vulcão dessa região entrar em erupção.

Mas principalmente, não verei por muito tempo o meu querido por do sol na Sicília.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora