Leggende italiane.
Dias atuais.
Quando eu era pequena, achava que as árvores se mexiam, que era só eu virar as costas e elas andavam, achava que contavam segredos bem baixinhos quando se moviam, então eu ficava pulando para tentar ouvir. Essas são algumas das minhas primeiras lembranças, as únicas em Portugal, e agora, quase 14 anos depois, finalmente sei que elas não se mexem, mas não por experiência e sim porque faz quase uma hora e meia que as observo, vendo o céu mudar de azul para laranja e rosa.
Eun-Joon esqueceu da aula, ou simplesmente não vem mais, embora ele não tenha falado nada, é bem provável. E eu nem o vi hoje, não que ele não tenha ido à escola, ele só não ficou no meu campo de visão.
Não o vi nas duas aulas de física, nas quatro de biologia, na segunda aula semanal de filosofia, no almoço, ou nos turnos de matemática aplicada e nos simulados preparatórios para os exames. Ele estava lá o tempo todo, eu só não o vi, é como se eu sempre chegasse depois que ele saiu ou sempre ficasse à uma parede. Talvez seja melhor assim, talvez assim eu consiga lidar com isso e superar, mas lá no fundo eu estou em pedaços, mas não deveria.
Mais dez minutos passam, as pessoas que entram no café ficam me olhando descaradamente, é como se pensassem " por que uma estudante está passando o tempo atoa quando as provas estão chegando? " ou " por que ao invés de estudar, ela está lendo um livro de língua estrangeira? " ou ainda " por que uma turista tá fantasiada com um uniforme escolar? ". Me fizeram essa última pergunta há alguns meses e eu perdi minha voz, não é como se não existissem estudantes internacionais aqui, mas os coreanos só gostam de turistas que vem, gastam, e voltam para os seus países.
- Se daqui a dez minutos ele não aparecer, eu vou em bora - falo levantando meu olhos do livro e olhando, novamente para a porta.
Se passam quinze minutos. Pego minhas coisas e vou para casa, vendo Hongdae entrar em outra hora do rush.
Passo na frente do karaokê da noite passada, do prédio que está sendo reformado para virar outro bar/clube, o café temático que parece ser totalmente desenhado em 2D, a drogaria que vende tudo pela metade do preço, um mini pet shop...
- Ella! Ella! - me viro e vejo Eun-Joon correndo entre as pessoas, as empurrando e pedindo desculpas, o cabelo todo desarrumado, o uniforme abarrotado, a pele vermelha com o exercício.
Ele para perto de mim e dobra seu corpo para baixo tentando recuperar o fôlego.
- Eu... Desc... Atras... Empre... Reun... - ele respira mais um pouco e ajeita a postura - Eu me atrasei porque tive uma reunião de emergência na empresa, me desculpe.
- Tá tudo bem, Eun-Joon. Olha eu...
- Tudo bem, eu já entendi.
Me assusto e vou um pouco para trás instintivamente, os pedestres ao meu redor me olham com curiosidade e irritação.
Eu não faço a menor ideia do que ele entendeu, se foi sobre o atraso, eu só ia dizer que tudo bem e era melhor deixar para um outro momento, já que eu tenho outra coisa a fazer, mas se é sobre a outra situação, então eu estou no fundo do poço.
- Desculpe, entendeu o que? - se tem uma regra que aprendi com o tempo é: nunca peça desculpas antes da acusação, você pode confessar algo e se encrencar mais ainda.
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Até A Próxima Primavera
Romance" [... ] Você é a minha minari - ele diz chorando ". Há mais de um ano, Ella recebeu a notícia de que teria que trocar a linda Palermo na Itália pela agitada Seoul na Coreia do Sul. E estaria tudo bem, se no primeiro ano tudo não tivesse dado errado...