Capítulo 28

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A vida na bolha.

Dias atuais.

Todos vivemos em bolhas. Sejam elas sociais, raciais, culturais ou o que for, sempre haverá uma bolha, que nada mais é do que o inicil e o fim do seu mundinho, por isso muitas pessoas se chocam ao descobrirem outras realidades que não a suas, muitas acham que tudo se resume ao seu mundo, sua bolha.

A minha furou.

Sinto que ela se derreteu e as fronteiras ao meu redor agora mostram um mundo mais cruel e cheio de monstros que eu havia imaginado. Na verdade, ela durou muito, sobreviveu a rompimentos, dores, brigas, stress, mudanças... E agora, se foi, me mostrando um mundo o qual só me faz ter vontade de ficar encolhida em silêncio em um canto escuro.

Faz uma semana que tudo aconteceu. Uma semana que obrigo minha cabeça a parar de lembrar daquele senhorzinho gentil, e entender que ele é alguém horrível.

Faz uma semana que não durmo muito bem, tenho medo de fechar os olhos, afinal, se quem me era de grande suporte e apoio, no final só queria " me usar ", então em quem posso confiar, ou, será que realmente posso confiar em alguém?

Faz uma semana que a minha mãe está vermelha. Ela bufa e resmunga, todas as vezes em que liga a tv e faz questão de xingar " este maestro enviado del infierno, hipocrotico, miserable. Questo maledetto " toda vez que vê algo relacionado ao caso. Ela o ameaça com os olhos esbugalhados e fala coisas em espanhol que não sei traduzir. Meu pai não fica atrás, ele ligou para o pessoal que cuidou das coisas antes da nossa chegada, inclusive minha matrícula, e foi bem claro ao perguntar " se ele tivesse feito algo com a minha filha, vocês me tirariam da cadeia por homicídio doloso? Se responsabilizariam se o pior acontecesse? ", seu chefe está sendo bem paciente com ele, tendo como ponto, isso e a noite no bar. Todos do seu setor estão sendo bem pacientes. Eles conseguem ver a dor de um pai. Nessas horas penso nas outras, as quais não conheço mas sinto suas dores como irmãs gêmeas.

Faz cinco dias que houve uma reunião extraordinária na escola para: reorganização do clube docente, prestação de esclarecimentos, conforto aos responsáveis, e prestação de desculpas. Uma reafirmação dos valores e pilares da escola. Meus pais foram os mais preocupados e, de novo, muita paciência.

Faz cinco dias que as celebridades foram " alforriadas " de Idol ' B '. Agora o mundo só tem olhos e ouvidos para excomungar o " lixo que nem os urubus querem ".

Faz três dias que todos, os meninos, as meninas, Ha-Ru e meus pais tentam me animar ou me distrair, mas só consigo manter o mínimo contato com Ha-Ru, para falar sobre Bo-Kyung. Ambas estamos preocupadas com ela. Por mais que tudo tenha " acabado ", tenho medo de a associarem a Idol ' B '.

E faz vinte minutos que estou escondida aqui no terraço. Por precaução, cheguei mais cedo, deixei tudo na sala e subi. Eu não quero chamar atenção. Não essa atenção.

Meu celular vibra.

Aula em vinte minutos...

Suspiro e olho para o céu que não tem nuvens, na verdade, ele parece ser branco. Penso em não responder a mensagem de Ji-Hye, em simplesmente faltar, não porque eu não consiga estar lá, eu apenas estou... Desanimada.

Fecho os olhos e me deixo ser envolvida pela brisa suave de maio. A boa notícia, é que os próximos dias cinco e oito, assim como ontem, serão feriados, então não precisarei passar tanto por isso.

- Ella? Ella? Eu sei que você tá aí! Vai, abre - alguém continua esmurrando a porta. Permaneço no mesmo lugar, até a porta ceder e abrir por conta própria.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora