Flores congeladas e aquarela solitária.
Há 2 messes atrás.
A neve que cai é moldada por algumas crianças que estão do lado de fora, daqui da minha janela assisto o belo espetáculo branco. Ao soprar um pouco de ar na minha janela uma mancha é formada, faço um coração com as mãos no meio adiciono um sorriso e dois olhos e depois bracinhos e perninhas.
- Ella, alzati devi ancora andare a scuola - minha mãe grita da cozinha.
Ao por meu pé no chão fico pela primeira vez imensamente triste pelos asiáticos não usarem sapatos dentro de casa, só as meias não são suficiente.
Vou a penteadeira, e cuidadosamente coloco a 5ª peruca que comprei só no último ano, não há como permanecer muito com uma, ela suja e o cabelo fica estranho, acho que é porque não é cabelo humano, gostaria de poder usar meu longo cabelo loiro solto, mas regras são regras; coloco as lentes escuras que cobrem meus olhos azul-oceanicos naturais.
Qualquer um que olhar para mim, chuta que sou europea mas erra o pais poucos falam Itália mas todos falam Alemanha ou França; na verdade nasci em Portugal e até falo um pouco de português mas não o suficiente para amar com corpo e alma.
Na cozinha vejo a minha mãe coberta de casacos, seu cabelo marrom ondulado longo está preso em um coque, e seus olhos azuis parecem cansados. Meu pai não está em casa, no inicil até achei que ele poderia estar fazendo algo errado mas depois de 10 messes, ao ver seu rosto totalmente exausto minha teoria caiu por terra.
A verdade é que as horas de trabalho são tão exorbitantes que ele prefere dormir lá alguns dias, trabalhar por 12 horas diretas mais 8 horas extras não habituais o praticamente matam, então ele prefere dormir o pouco que o resta lá.
Isto não é vida, tudo por um pouco de dinheiro enquanto os ricos nadam, viajam, saem... E isso não só aqui, mas no mundo inteiro, por isso eu odeio gente rica. Outro dia saiu uma notícia no jornal de que uma dúzia de trabalhadoras em uma fábrica em Xi'an na China se mataram, isso levantou uma discussão sobre as horas de trabalho e o dinheiro recebido, mas no final do dia nada muda.
Ao sair na rua a sensação que a sopa de vegetais e a tigela de arroz quentinha me proporcionaram se esvai, a neve torna tudo frio e lindo igualmente, queria ir ao monte T'aebaek mas a viagem duraria mais de um dia, talvez no próximo final de semana.
É janeiro e comparado a outros dias o clima está agradável e calmo; o ônibus está silêncioso e as aulas estão mais fáceis.
***
- Meus parabéns novamente querida - diz o senhor Hong pela 4ª vez seguida.
- Muito obrigada mesmo senhor Hong.
- Você é brilhante.
O Sr. Hong é um velhinho de sorriso gentil com os cabelos pretos intactos, me pergunto se ele sabe que os meus não são reais.
Estou na sala dos professores, depois do primeiro turno, fui chamada através rádio da escola - um clube de estudantes, que tem como função dar avisos, também é sua única função já que as músicas são acusadas de " tirar a concentração ", ridículo -; a sala é muito bonita, cheia de plantas e sem nenhum outro aluno além de mim mas está cheia de professores, inclusive a senhora Song, uma mulher na casa dos 40 que faz cara feia para todo mundo, ela é minha professora de classe mas duvido que saiba.
- Obrigada.
- Seu trabalho é realmente brilhante, pode me dizer o significado?
Um dos quadros - ambos são pintados em aquarela -, de uma pessoa andando sozinha com um guarda-chuva porém não está chovendo, o outro é uma flor branca no meio de um local dourado.
- São inspiradas em filmes - minto.
Fiz elas por me sentir sozinha, por estar em um local tão brilhante que parece que não consigo acompanhar, igualando para mim é impossível e eu sempre sinto que aqui não gosta de mim, sempre sinto que estão rindo ou que está chovendo mesmo sem estar.
- Não deve ter sido fácil para você, aprender coreano do 0 sozinha, lidar com ritmo novo e uma cultura totalmente diferente, certo Ella? - me surpreendo, eu não sabia que ele sabia.
- O senhor? Sabe?... - pergunto em voz baixa.
Ele dá uma pequena risada: - claro que sim, quando soube de você, quiz com todas as forças que fosse para a minha turma, mas não pude, infelizmente já estava cheia, fiquei imaginando como você seria, me diga querida, porque a peruca e as lentes?
- A-achei que fosse proibido...
Ele ri novamente.
- O cabelo sim é, mas para coreanos, você não é asiática e as lentes não eram necessárias até porquê você é europea, certo?
- Sim.
Me sinto a maior burra do mundo.
Sorriu e pego meu trabalho, minhas aquarelas ficaram em 1° na sala.
- Pode ir querida - ele diz - vou tentar te por na minha sala, no seu próximo ano.
- Obrigada professor - comprimento-o e saio, qualquer um é melhor do que a Song.
Mando uma mensagem para a minha mãe:
A peruca e as lentes não eram necessárias.
Ela responde:
Sério? Então pode parar de usar a partir de hoje 🤗
Nem em sonho eu vou fazer isso, todos já me viram assim, não que eles lembrem.
***
- Olha ela - na saída como sempre a trindade desocupada me espera.
- O que você quere Ha-na?
- Calma, somos amigas não somos? Só queria perguntar se o seu número mudou, não tô conseguindo falar com você.
- Não, não somos amigas e eu vou te dizer uma coisa, estou de saco cheio de vocês, o tempo todo no meu pé, desde que eu cheguei não pude relaxar, não pude nem me divertir proprietariamente então me façam um favor e vão se foder - saio.
Isso não adianta, já fiz antes mas pelo menos elas vão me deixar em paz por alguns dias.
Ando tão apressadamente que a neve acumula em meus pés até me fazem cair.
- Fanculo.
- Você está bem? - diz alguém tentando me ajudar a me levantar.
Ao me levantar e olhar bem, percebo que é Boniim. Meus joelhos tremem, eu ainda gosto dele.
- Pode deixar ela é nossa amiga, né Na-Bi?.
- Não eu não sou, me deixe em paz Ga-Hee.
No ônibus tento relaxar, estou um poço de stress ultimamente e só queria sentar e relaxar mas ainda tenho um mês. Um mês de flores gongeladas e insultos, um mês de ódio reprimido e sono perdido, mas um mês e aí só faltará um ano.
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Até A Próxima Primavera
Romance" [... ] Você é a minha minari - ele diz chorando ". Há mais de um ano, Ella recebeu a notícia de que teria que trocar a linda Palermo na Itália pela agitada Seoul na Coreia do Sul. E estaria tudo bem, se no primeiro ano tudo não tivesse dado errado...