Capítulo 48

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O preço da perfeição.

Dias atuais.

Minha visão fica turva e minha boca tem o gosto salgado das lágrimas. Minhas mãos doem tanto, que nem consigo senti-las mais. Mas não importa, vai tudo ficar bem denovo se a Ji-Hye acordar bem.

O problema é que ela sequer mexe um músculo.

Eu não faço a menor ideia de quanto tempo estou aqui, ou se tem alguém mais alguém aqui. No meu ouvido, há um zunido agudo, fino e potente que não me deixa pensar em mais nada.

- Santa Maria, Santa Madre, ti prego, proteggila, Santa Maria, Santa Madre ti prego, non lasciarla morire, Santa Maria, Santa Madre, ti prego... - algo gelado toca minhas costas e um ruído surto de algo contra o chão soa ao meu lado.

- Ella, Ella, Ella! - por reflexo, retiro minhas mãos do peito dela e olho para o lado.

A Srª Song pós a mão esquerda ao redor dos meus ombros e com a direita começou a apertar minhas mãos, ela está ajoelhada ao meu lado e, ao julgar pelo quão forte sua mão está, acho que me sacudiu para sair do torpor.

Ela fala alguma coisa, mas sua voz está distante, como se encoberta por uma cachoeira raivosa, eu apenas vejo sua imagem que aos poucos fica mais nítida.

Ji-Hye.

Olho para onde o corpo dela está, há um homem com uma blusa azul-escura escrito emergência em vermelho, de costas para mim prendendo ela em uma maca e falando com outro alguém, uma mulher com o mesmo uniforme e cabelo preso.

A mulher me olha e sorri, em seguida abaixa-se e fala algo para a professora que concorda. E então, eu não sei o que elas fazem, mas ambas colocam as mãos em minhas orelhas como se as desentopindo e o zunido diminui um pouco, é como se água tivesse saído do meu ouvido.

Aos poucos, ouço minhas respiração, rápida, cortada e ofegante, e então meu coração, disparado e doendo e, por fim, ouço sons, há uma sirene ao longe, alguém chorando, passou rápidos no corredor e, eu acho, alguém gritando com alguém, como em uma discussão.

- Está melhor? - Pergunta a Srª Song, a mulher de azul já saiu de perto de mim e agora ajuda o outro homem a carregar Ji-Hye.

- N-não - tento me levantar mas caio, ao olhar para baixo vejo que meus joelhos estão vermelhos quase sangrando, mas não sei como aconteceu, eu não senti nada.

- Calma, eles vão a levar para o hospital. Ela vai ficar bem, mas você teve um choque - aponta para minhas pernas - Seus joelhos estão muito feridos, tem ideia de quanto tempo ficou daquele jeito? - nego com a cabeça - Quarentena e cinco minutos.

Eu não sei o que esperava, mas definitivamente não esperava que tivesse sido por tanto tempo.

Ela me encara mais um pouco, com um olhar que mistura uma sensação materna e curiosidade. Quando eles começam a tirar Ji-Hye da sala, ela me ajuda a levantar e segue com a mão em meu ombro até o jardim, onde eles colocam a aluna na ambulância e depois a levam para o hospital.

- O namorado dela já está lá. Ouvi dizer que mandou uma menina chamar ajudar, bem, ela o chamou. O coitado tomou um choque e ligou para a emergência e depois, ficou caído na porta da sala vendo você tentar reanima-la, impotente. Quando os socorristas chegaram, o mandaram ao hospital para deixar um quarto reservado para ela e... - paro de ouvir, não porquê algo aconteceu, e sim porquê eu não quero ouvir, quero apenas... Relaxar meus ombros, eu quero...

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora