Capítulo 51

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A mudança do tempo.

Dias atuais.

Pisco algumas vezes a esmo sentido minha boca abrir, mas não por surpresa e sim por entendimento.

Por isso ele sabia tanto sobre a cultura pop.

Ou não, isso não é um traço obrigatório.

Mas de qualquer forma, agora entendo sua tristeza constante, não poder ser quem realmente é deve doer muito.

De qualquer forma, eu não consigo entender o porquê de tanto suspense. Quero dizer, eu entendo mas... A forma como ele falou, parece ser o fim do mundo, quando é algo completamente normal.

Ah, aqui na Coreia não é.

- Obrigada por confiar em mim. Haneul, isso é normal, não é uma doença ou algo que as pessoas... - me calo, eu estou pensando como uma italiana e não como a sociedade coreana.

Ele dá um sorriso triste.

- Por isso falei que uma pessoa estrangeira poderia me entender. Aqui, eu posso até morrer por ser quem sou.

Já ouvi relatos horríveis de pessoas que sofreram muito por serem homossexuais e irem ao exército, já ouvi falar da exclusão social e familiar, sei um pouco sobre a dor que eles passam.

- Eu entendo - tento sorrir alegremente mesmo estando em um dia difícil - A Ba-Da... - ele move a cabeça negativamente.

- Nem desconfia. Sei que se falar a ela, todo o meu mundo cairá - ele me olha põe um tempo em silêncio - Além de mim só você sabe - o olho tentando transparecer compaixão e conforto. Ele continua: - Descobri aos doze anos, após ler uma revista americana. Sabe, isso não é algo falado por aqui...

- Sei...

Ficamos um tempo em silêncio. Agora, parece que o mundo voltou a mover-se, algumas pessoas passam com suas mochilas para o portão o que me faz pensar que horas são, outras conversam distraidamente e outros só... Existem.

Como eu agora. Me sinto uma intrusa no livro de outra pessoa, uma personagem escrita às pressas para tapar um buraco.

- Obrigado Ella. De verdade. - seus olhos sussurram que ele quer chorar.

- Quer um abraço? - falo ao levantar-me estendendo os braços.

Ele não responde, apenas levanta-se, segura minha cintura e põe a cabeça na curva do mês pescoço. Fecho meus braços ao seu redor e ponho a mão esquerda em seu cabelo, movendo os dedos para cima e para baixo.

- Calma, está tudo bem. Pode confiar em mim. Vou te ajudar a lidar com essa dor. Você não tem uma doença, só foge do padrão patriarcal antiquado, mas isso não o desqualifica como ser humano, ninguém vai te agredir ou mexer com você enquanto eu estiver aqui, prometo Haneul. Eu prometo - sussurro.

- Obrigado Ella - seu nariz funga - É ótimo poder falar disso para alguém que não vai querer me matar ou apagar, que não me tratará como um doente, ou que irá me rejeitar. É bom falar com alguém que me entende. Obrigado, mesmo - a essa altura ele já está chorando.

Deixo que desabafe, mesmo quando minha coluna doi, meus dedos têm caimbra, meus braços tornam-se frios, meu ombro se encharca e não sinto minhas pernas, eu permaneço da mesma forma, em silêncio. Acho que isso é ser amigo, é estar lá mesmo sem saber como ajudar, só está lá é suficiente.

***

Olhando agora, Haneul ter me contando algo tão pessoal parece tão aleatório, mas ao mesmo tempo, sinto que ele só queria falar com alguém. Me deixa feliz que seja eu mas, eu mal estou cuidado de mim mesma, imagina dos problemas dos outros. Mas eu ainda posso tentar.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora