Capítulo 36

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A linha onde o mar termina e o céu começa.

Há mais de dois anos atrás.

Minha mãe me emprestou um vestido preto o qual eu planejo nunca mais ver, e também ficou comigo quando todos entraram no cemitério menos eu, não que eu tenha medo ou algo assim, mas não conseguiria ver Sofia desmoronar de novo e sua mãe desmaiar pela quinta vez no dia. Se você não é forte, jamais se meta em algo o qual não aguenta.

O clima parece se solidarizar com a ocasião, há dois dias toda a Itália está nublada, nas regiões da Calábria e da Basilicata as pessoas estão em estado de alerta com risco de tempestades, muitas já deixaram suas casas.


Hoje fazem dois dias do enterro, daqui a alguns mais iremos à Dolomites e depois à Roma para a apresentação dos nossos trabalhos de verão.

Todos os anos, durante nossas férias, somos convidados a fazer algum tipo de arte e em Roma, junto com nossa escola irmã, apresentamos nossos trabalhos, não é uma competição mas o trabalho mais bonito, obviamente, chama mais atenção e isso faz com que nossos nomes sejam conhecidos antes de entramos no mercado, criando contatos.

Este ano Sofia não vai. O vestido o qual ela criou com sua avó, está no caixão com ela. Sendo sincera, não há clima para esse tipo de comemoração.

Nossa escola decretou três dias de luto que acabaram ontem, e hoje eu não sei como ela vai superar essas muralhas. Quando estamos tristes, tudo se torna maior e cinza, as mesmas muralhas que vejo como encantadoras e brilhantes, ela pode enxergar como melancólicas e aterrorizantes.

Enquanto reflito sobre isso sentada de pernas cruzadas no jardim, uma abelha passa por mim e vai em direção às rosas vermelhas vivo que acabara de acordar e, mesmo sendo outono, uma borboleta azul e preto passa por mim indiferente.

- Metida - sorriu balanço a cabeça. O mesmo inseto vai em direção a um grupo de meninas pequenas, as quais o uniforme ainda é muito grande, e pousa no cabelo de uma morena com covinha na bochecha esquerda e sardas.

- Merluzzo - minha cabeça vai automaticamente de encontro com o som. Emijya como sempre está atrasada mesmo morando do outro lado da rua.

- Atrasada - digo quando ela senta-se ao meu lado também cruzando as pernas.

- Essa colina me mata todos os dias, além disso - ela vira a cabeça de lado e me olha de cabeça para baixo- minha bicicleta quebrou - aperto meus olhos.

- Olha, você tem duas coisas muito importantes que te ajudam nessa situação. Se chamam pernas - as toco.

Ela geme e faz cara de criança mimada.

- Estou cansada - sua fala se mistura ao som do alarme entre os turnos. Fico em pé limpando minha saia.

- Vai ter que fazer um esforço - estendo minha mão, a qual ela agarra com certa melancolia e seguimos para a sala.

Hoje, ela não parece a mesma pessoa que alguns dias atrás.

Nossa escola, para mim, tem cheiro de história, as pedras parecem pinturas feitas pelo solo e o teto é a melhor das maravilhas do homem. Nossa próxima aula é de latim, o caminho para lá passa por um mini jardim cheio de rosas coloridas com pinturas de anjos.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora