Capítulo 04

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Poças de lágrimas.

Há 6 messes atrás.

Devo dizer que o outono coreano pode ser um forte concorrente ao inglês, as ruas ficam cheias de folhas amareladas que parecem flores, a cidade fica mais fria, e tudo fica mais colorido, devo afirmar que esta é a melhor estação para visitar Seoul.

Enquanto pedalo minha bicicleta pelo Seoul Forest Park imagino várias cenas lindas e assisto outras deslumbrantes: há um casal fazendo um piquenique com sua filha bebê e seu cachorrinho branco; uma idosa conversando com o que me parece são suas filha e neta; dois idosos jogando Go sentados em baixo de uma árvore, não consigo imaginar a quantos anos eles fazem isso, eles devem ser amigos a muitas décadas pois com a pessoa certa os anos parecem segundos e as lembranças compartilhadas são cheias de verdadeiros sorrisos.

Estou quase no fim da minha pausa de verão, sinto falta de ter um lugar para onde ir, uma preocupação para ter, uma responsabilidade a assumir mas a escola me apavora; aqui não reprovamos mas descobri que ficar no último lugar no ranking é pior.

Sinceramente acho meio sem noção que todos sejam submetidos a uma posição, somos muito mais do que um número, todos os alunos deveriam receber agrados e sorrisos dos professores e não apenas os que estão nos primeiros lugares, sem falar que ninguém sabe o que ou o quanto eles podem ter chorado, sofrido e se culpado para estarem lá.

Eu peguei o 13° lugar, em um ranking com 30, para mim está perfeito: nem inteligente de mais para ser paparicada por alguém que verdadeiramente pode não se importar e nem muito desleixada ao nível de ser chamada a atenção e até mesmo humilhada; mas, mesmo os professores fazendo isso, eles ainda não deveriam passar pelo o que passam, eles só repetem o que um dia fizeram com eles.

Paro minha bicicleta e a encosto em uma árvore em seguida ando até a " ponte " feita de madeira próxima ao lago, a água agora está repleta de folhas mas não deixa de ser extremamente limpa e encantadora; no passado várias pessoas ficaram de pé aonde estou hoje, existem gerações que não faziam a mínima ideia de que este lugar estaria assim, aposto que os imperadores e habitantes da antiga Joseon não faziam ideia que seu país seria tão magnífico.

- Ar puro - digo após respirar fundo - perfeito para um poema.

Volto a árvore, sento e retiro do meu bolso uma pequena agenda e uma caneta que ganhei no mês passado de aniversário.

" Terça feira, 01 de setembro de 2022, em baixo de uma árvore próxima a uma pequena plantação de minaris recém florecidas:

O vento que sopra, soa como uma leve nota de violão;
As folhas que caem formam um arco-íris no chão;
E tenho em minha mão, o objeto que deve retratar;
A amizade, a alegria, o relaxamento e o amor no ar;
Tenho passado por momentos alegres mas o ruins se sobressaem;
Tenho chorado tanto quanto a chuva que sempre inunda mas que a muito não cae;
Dias melhores virão, e sei que ficarei em paz;
Quando sozinha descansar como jamais;
Minhas lágrimas poderiam formar uma poça salgada na rua;
Como confidente, tenho tido somente a lua;
E ela me diz para ter calma e respirar;
Mas a poça que formei tem muita água e não consigo nadar;
Gastaria de ter a paz com que agora só posso sonhar;
Ou voltar para o meu lugar que chamo de lar; "

Seco minhas lágrimas com a palma da mão, eu sabia que isso não seria um sonho mas está tudo errado; meus pais estão errados achando que já me adaptei; meus professores estão errados sobre o fato de que eu posso ser mais; e Ha-na, Ga-Hee e Cho-Hee estão erradas sobre eu me importar com que elas tem feito.

Talvez seja bullying, ou talvez não eu não sei, mas elas me sempre me esperam na saída, fazem eu pagar seus lanches e me obrigam a fazer seus deveres, se digo que não elas jogam minhas coisas no chão; acho que o fato de não me importar não torna isso não-bullying, só se torna algo que eu não aguento mais.

Aqui não é meu lar, a Coreia pode ser o lugar mais deslumbrante do mundo, mas do que adianta para mim? Lar é lugar aonde o seu coração está, e o meu está no apartamento 42, na Vila de São Agostino em Palermo na região da Sicília e não aqui em Ttukseom-ro em Seongdong-gu.

Olho para cima e observo o céu, o farfalhar das folhas e ouço a água correndo por um tempo que não cromometro, apenas quando o azul do céu fica alaranjado, a água começa a ficar escura e as conversas diminuem eu saio; na saída do parque ha uma mulher, ela está entregando flores e me dá uma.

- Obrigada - agradeço e faço reverência.

A senhora sorri e também me comprimenta.

Em casa, papai demora a chegar e mamãe vai dormir cedo, ele sempre chega tarde desde que começou, segundo o mesmo jantares e sair para beber depois do expediente são uma tradição aqui, por isso ele sempre vai.

Bem, trair as esposas também.

A noite chove um pouco enquanto eu leio " O nome da Rosa ", e assim eu adormeço, lendo na língua a qual realmente reconheço como minha.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora